quarta-feira, 31 de outubro de 2018

BOLINHOS E BOLINHÓS

Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Qu’estão mortos, enterrados
À porta daquela cruz
.
Truz! Truz! Truz!


A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
.
Faz favor de vir cá fora
Para dar um bolinho 

             DEU
Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa
        NÃO DEU
Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho


terça-feira, 30 de outubro de 2018

O DOUTOR - SUCATA ...




 (foto net)
Alto, magro, óculos graduados e cabelo negro em carapinha, assim era o perfil do doutor - sucata. Acrescia ao seu porte, uma camisa branca que lhe fugia pela cintura à guisa de fralda e umas calças de ganga com algumas manchas de óleo. Ele, o doutor - sucata como o apelidavam, era clinico. E um homem inteligente, com um coração mole. Confidenciou um dia, que foi para medicina para cumprir um sonho da mãe, que queria ardentemente que ele fosse médico. Mas que, na realidade, do que gostava mesmo era de carros e de motas. Tinha uma enorme sucata, onde acantonava automóveis de muitas proveniências e alguns muito antigos, a valer bom dinheiro. As suas consultas na região, eram sempre uma correria, pois andava sempre atarefado. Atendia vinte pacientes em quinze minutos. O doente ainda não estava sentado na cadeira, já tinha uma receita na mão, que mais não era que um rabisco indecifrável. Porém, as pessoas gostavam dele e da sua faceta humanista. Lá na aldeia, no fim das trepidantes consultas, chegava ao meio da sala e perguntava:

- Quem é que quer vir para a cidade ?

Se fossem dois que levantavam o dedo, levava dois. Se fossem oito, levava oito. Era como quem calçava um pé grande num sapato pequeno, só de calçadeira. E eles, os idosos, gemiam:

- Ai Senhor Doutor, que não cabemos todos …

E a resposta vinha direta:

- Cabem pois, sentem-se ao colo uns dos outros …

E assim, o velho Mercedes lá partia, com os pacientes muito agradecidos e a dizer com admiração:

- O Senhor Doutor anda sempre cheio de pressa, coitadinho !!!

Tinha com ele uma boa relação. Quando passava por mim no seu velho carro, acendia as luzes e levantava o braço numa saudação, a que eu sempre correspondia. E um dia cruzámos - nos na tasca do David. Eu ia a sair, de beber uma aguardente de medronho que me pagou o Adelino da Lameirinha, e ele ia a entrar como sempre apressado. Aproveitei o momento, fiz um ar sofredor e perguntei-lhe:

- Doutor, trago aqui uma inflamação numa vista, o que é que acha que eu faça ?

A resposta veio sintética e de grande rigor científico:

- Não faças nada, come cinco pratos de sopa …
Q.P. 

domingo, 28 de outubro de 2018

ENCONTRO COM A ARTE - FOTOGRAFIA Brasil Betinho

    Serra Negra-Bezerros-Brasil-Betinho
   Foto de Alberto Lopes-Bétinho
  Do  Bairro Norton de Matos-vivendo no Brasil

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A VIAGEM ...




talvez Madrid ...

A galope pela fita de alcatrão da estrada perigosa, o descanso de chegar. De sentar à mesa do restaurante e beber um vinho italiano de região demarcada. Ele, o Evis Andriguetti,  apresentou - se vestido de branco. Porque os italianos gostam de trajar de claro e não fosse ele do berço de Verona. Juntou-se a nós num brinde a cinco,  com os amigos que nos acompanhavam. Explicou a proveniência e as castas do vinho e depois retirou – se, como mandam as boas regras da etiqueta. No fim do repasto, os amigos partiram na redescoberta deste interior dos mil contrastes. Nós ficámos, a olhar os cantos da casa que foi refúgio de muitos anos. E de espreitar pelas janelas agora abertas, a imponência das serras da Estrela e do Moradal. Quando a noite caiu trazendo consigo um vento morno a dançar na folhagem, descer a uma esplanada. Olhar a cidade iluminada e observar este ou aquele caminhante em passo lento, a sorver aquela aragem gentil. No espreguiçar da manhã, partir. Consentir que as montanhas nos abracem. Ver gente campesina que nos reconhece e há lágrimas de comoção. Conheço-os e sei que são sentidas. Em cada abraço, uma memória. Em cada lágrima, um qualquer desgosto. Depois o sentar no café “Portas da Serra”. Meditar e correr os olhos pela paisagem tão familiar. Ali, continua a habitar o silêncio. Olhar o céu riscado pela rota cruzada dos aviões comerciais. Muitas vezes, tantas vezes, sentado no muro branco à ilharga da estrada, eu deitava-me a adivinhar aquelas rotas. Do lado nascente, eu previa a rota de Madrid. Várias vezes a fiz e, lá do alto, como referência tinha sempre as chaminés gigantescas da Central de Energia Térmica de Abrantes.  Uma outra rota poderia ser a ligação de Faro a Londres e que sobrevoava a aldeia singela. Pequenos aviões cor de prata pintados pelo clamor de um sol soberbo e perdidos no céu, voando alto, muito alto. Era apenas um exercício de imaginação, a tentar combater o marasmo dos olivais semeados numa geometria dispersa na planície de muitos “chãos” particulares, onde se vareja a azeitona em tempo de outono. Depois, o despedir daquela gente simples  e a promessa de voltar. Este povo, aquele povo, não é de hipocrisias nem de risos de circunstância. São eles de corpo inteiro e alma lavada. Tantas vezes lavada de lágrimas de saudade dos ausentes. Dos ausentes que partiram para sempre ou que andam para lá da fronteira. Buscam na religião, o conforto que necessitam para ultrapassar o vazio das suas almas atormentadas. Nem sequer entendem quem, de forma ligeira, desdenha deles e da sua fé avassaladora e inquebrantável.

Regressar à Cidade do Conhecimento. Fatigados, sentar numa qualquer esplanada a descansar do volante e da jornada. E beber uma qualquer bebida fresca, a pensar já com alguma nostalgia nos mistérios seculares da montanha silenciosa que aguarda o nosso regresso, e no brinde simpático e acolhedor, apadrinhado em saudável convívio com genuíno e aromático vinho italiano.
Q.P.             

ANIVERSÁRIO

MARIA TERESA MENESES LOUSADA

24-10-1941

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!

domingo, 21 de outubro de 2018

ANIVERSÁRIO

PEDRO SARMENTO

21-10-1958

Nesta data especial...

"Encontro de Gerações" deseja

MUITAS FELICIDADES!

PARABÉNS!

sábado, 20 de outubro de 2018

EM HOMENAGEM AO CHICO TORREIRA DA SILVA PRIMEIRA POSTAGEM NO BLOGUE - Marché Public - Século XVIII - EM 29´08/2010

EM 29-08-2010
Foi no ambiente do tempo da "Nova França", pelo que pude deduzir pelos uniformes dos militares da época, que ontem visitei o Mercado Público de Pointe-à-Callière, para o qual muito contribuíu o Museu Histórico do mesmo nome.

Lindas caras em maravilhosos trajos de outros tempos, pude assistir à confeção de artigos dos mais diversos produtos da época no Velho Montreal, junto ao Velho Porto, autêntica cidadezinha do passado dentro de Montreal; tem sido conservada ao longo dos séculos.

A alimentação que derivado ao tempo em que os produtos foram semeados era sem dúvida sã, pois nessa época ainda não conheciam nomes técnicos hoje tão utilizados, deixava-nos um travo agradável na boca bem diferente das iguarias de hoje. Os bolos eram uma delícia.

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Tabém pude ver diferentes artes e ofícios da época, dos quais uma me trouxe à memória o Terreiro da Erva. Pelos olhos do mestre, ela deve ser muito bonita.

Mais um dia aonde o filme de uma parte da História de um Povo, desfilou nas nossas mentes numa época em que os países europeus estiveram ligados à navegação marítima.
Distrações não faltaram.

Um pãozinho da época, soube muito bem.


Pequeninos nadas: notei que a bandeira foi recebida pelo comandante sem chapéu em sinal de respeito, pondo-o depois.

Ai, ai: batota já existia.
Não esquecendo os proprietários da terra.

MARIEMA ...





 (foto net)

Que estranha sensação esta, a minha, de insistir em recuar na Máquina do Tempo ! Fecho os olhos e deixo-me sucumbir pelo arrastar dos dias pretéritos. De vaguear, ao sabor de um passado distante. Que estranhos sonhos estes, os meus, que me levam na vertigem das asas plúmbeas, ao encontro do sofrimento! Mas, de novo, lanço âncora na memória e regresso aos verdes anos da minha juventude. De uma juventude despreocupada. Um dia, caí numa cilada, e arrastei a minha existência por um longínquo país africano. Guiné se chamava e chama. Prendi-me de amores, quando lá cheguei. Não por uma mulher. Mas pela explosão das cores. Por aquele Templo de manhãs resplandecentes, que me embriagavam os sentidos. Quando o sol subia na vertical da bolanha, inundando a mata de uma claridade generosa. E as tardes, clamorosas de calma e serenidade. E, ao lusco - fusco, quando as estrelas já quase se desenhavam no Céu, o majestoso perfil dos embondeiros, esculpidos contra a abóbada imensa de um céu escarlate. E era ali, sentado debaixo da copa de uma frondosa árvore, que eu ouvia os cânticos africanos, que ecoavam pela floresta. O som dos batuques e o movimento ritmado do amassar da mandioca no pilão. Aquela simbiose única, entre o perfume dos costumes ancestrais de um povo e a bola de fogo incandescente que descia na linha do horizonte e fazia qualquer ente pensar que estava às portas do paraíso. Mas não. Havia a guerra. A maldita guerra. Omito recordar. Não quero falar de homens, como se de feras se tratasse. Quero falar de paz. Quero falar de justiça. Quero falar de solidariedade. Quero falar de fraternidade. Quero falar de amor. Quero falar de Mariema. Era a minha lavadeira. Quinze anos de idade, talvez. Olhos grandes e pele cor de púrpura. Rápida no pensamento, fulminante na palavra. Apareceu-me no primeiro dia em que pisei terras do Gabu. Falava alto e gesticulava muito. Oferecia-se para me lavar a roupa. Aceitei. E, pelas imaculadas tardes, lá vinha ela, os olhos fixos no chão, de alvo lençol à cabeça, onde trazia cuidadosamente acondicionado, o meu trajar. No corpo, o tecido colorido que lhe moldava o porte esguio. Pressentia-lhe no rosto, a tortura de uma vida de labuta. Numa terra onde tudo se regateava, nunca discuti o valor do seu labor.  Por vezes, por brincadeira, questionava o preço que sempre lhe pagava. Apenas para ouvir a justeza dos seus argumentos. A sagacidade do seu raciocínio. A inocência do seu olhar. A Mariema foi um terno caso de amor. Um caso de amor fraterno. Ainda tenho por ela hoje uma comovida lembrança. Foi a minha diva de África.

Quito Pereira