terça-feira, 16 de junho de 2020

O BELENENSES DO PALVARINHO ...





Naquela tarde de verão, Irene percorria a pé a estreita fita de alcatrão que ligava Salgueiro do Campo à povoação de Palvarinho. Com o sol a pino, parei o carro junto dela e ofereci-lhe uma boleia. Reconheceu-me da farmácia e aceitou. Naqueles quatro quilómetros deu para conversar, e lá me foi dizendo que durante vinte e sete longos anos tinha trabalhado numa pastelaria de Belém. E no Palvarinho a deixei e parti. Pelo caminho fui meditando naquele percurso de vida daquela minha companheira de viagem na sua simplicidade, que de uma simpática e pequena aldeia da Beira – Baixa um dia partiu para a grande metrópole, e em como foi parar lá para as bandas do Restelo. E que ligação haveria com os famosos pasteis de nata de Belém. Porém, por um blog sabemos muitas coisas. E eu, que vou oferecendo a minha colaboração a um outro Rafael, que tem um espaço de convívio da aldeia onde passei parte da minha vida, fiquei a saber alguma da minha curiosidade e as peças começaram a juntar-se. Um habitante do Palvarinho de nome Artur, fundou uma pastelaria em Belém, onde se confecionavam os famosos bolos. E ela – a Irene – para lá foi trabalhar. Curiosa também da razão de todo o Palvarinho vestir de azul e o seu povo ser Belenenses ferrenho. De novo o nome de Artur vem à baila, agora como dirigente que foi do Clube da Cruz de Cristo. O grupo amador da aldeia veste de azul, e os equipamentos para a prática desportiva vinham das camisolas e chuteiras já usadas pelo clube de Lisboa em épocas recuadas. Aquele apego da aldeia ao Belenenses, valeu aos seus habitantes em tempo remoto, conviveram com alguns do grandes jogadores do Belém que ali se deslocavam propositadamente, a convite da aldeia mais azul de Portugal. E, como amor com amor se paga, o Belenenses assumiu o grupo desportivo da aldeia como sua filial. Duas figuras públicas são referência do Palvarinho. A artista Rita Pereira que ali tinha os seus  avós que tive o prazer de conhecer, e o falecido locutor Henrique Mendes, ele também um simpatizante fervoroso da camisola azul do Restelo.
Quito Pereira       

3 comentários:

  1. A origem das coisas é normalmente desconhecida e estas ganham outra dimensão quando aquela é revelada.
    Porque nada acontece por acaso.

    Fico grato ao Quito por nos mostrar como uma recôndita aldeia do Portugal profundo ficou ligada aos pasteis de Belém e ao Belenenses pelo dinamismo de Artur.
    Belenenses que foi um dos grandes do futebol de antanho hoje caído em desgraça.

    Ficámos também a saber que figuras gradas de todos conhecidas foram filhas daquela aldeia, como Rita Pereira e Henrique Mendes.

    Quantos Palvarinhos não haverá mais?
    Assim houvesse mais Quitos Pereira. ...

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  2. No nosso bairro era a Rua de Chaimite. Salcedas, Melo, Cruz e outros. E o filho do Melo julgo que chegou a vestir a camisola azul embora seja mais conhecido pela ligação ao Estrela da Amadora.

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  3. Como Palvarinho se tornou um lugar também meu conhecido, pois não se fica indiferente à terra a que está liga a Rita Pereira e o Henrique Mendes, personalidades bem conhecidas dos portugueses...

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