domingo, 28 de março de 2021

VINHA DOMINGO DE RAMOS....TEXTO DE GEORGINA FERRO


 Vinha Domingo de Ramos e seguia-se a Semana Santa de oração, Via-Sacras, lamentações pelas noites adentro com as mulheres vestidas de luto, lenços pretos e xales pela cabeça, a chorarem a dor de Maria mãe de Jesus.

    Na minha aldeia, logo nesse sábado de ramos, bem cedinho,  ia-se ao campo procurar plantas silvestres floridas: um lindo ramo de alecrim, um raminho de rosmaninho começado a abrir, um ramo de pilriteiro com os pontinhos brancos a despontar... Levava-se à cerimónia da bênção dos ramos na Missa de Domingo e depois de ser aspergido com  água benta, trazia-se para casa e guardava-se na loja dependurado da trave mestra . Só se iam retirar uns raminhos nos dias de trovoada e punham-se sobre as brasas enquanto se rezava a Santa Bárbara para que pedisse por nós a Deus e nos livrasse da trovoada.

    No sábado, quando se ia colher o ramo, aproveitava-se a saída aos campos e apanhavam-se feixes de carqueja para esfregar bem o soalho de toda a casa, mochos, bancos e tudo que precisasse duma boa esfrega... 

     Toda a semana Santa era semana de limpeza profunda. Levavam-se as panelas de ferro à ribeira para serem bem areadas, trazia-se barro para barrar as chaminés enfarruscadas, acarretavam-se baldes e mais baldes de água do chafariz para tudo ficar "um asseio" para Domingo de Páscoa.

Pintavam-se as latas ou caldeiros que serviam de vasos para ornamentar as escaleiras e varandins com as malvas e begónias que tivessem aguentado a invernia....  

     A canalhita andava à coca das amigas com quem "engantchava" para as mandar rezar e ganhar-lhes as amêndoas. Eu não gostava nada disso porque tinha muito medo de perder e não ter amêndoas para dar. Mas achava graça à brincadeira de me esconder e aparecer de repente e de surpresa. O pior é que me viam sempre primeiro e eram elas que me mandavam rezar a mim. Com a minha avó e com a minha tia Maria é que era engraçado, porque elas perdiam sempre. Mal me levantava ia em bicos de pés e mandava-as logo rezar. Elas fingiam sempre uma enorme surpresa e no domingo de Páscoa lá tinha eu um cartuchinho com meia dúzia de amêndoas de meio tostão cada uma de sua cor. Que lindas eram!... 

Georgina Ferro.


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