sábado, 10 de abril de 2021

IN MEMÓRIAS & TRADIÇÔES


 -" Ó nino, vai-me lá num pé e vem noutro e trás-me meio litro de lixívia. Eu pegava na minha currica (trotinette feita de cana e roda de madeira), encostava-a ao ombro, e lá ia. Não podia “ir a pé”! Lá, era ao Petrolino, uma espécie de almocreve, que trazia aos recantos da freguesia tudo o que hoje se chamaria, numa linguagem coloquial, produtos de higiene e limpeza. A carrinha (antes carroça puxada por cavalo ou mula) parava no largo do Cordavão e as pessoas acorriam a comprar os bens que necessitavam fora da área da  alimentação. Os aromas eram fortes e acidulados, como que laboratoriais. Álcool para queimar, petróleo, lixívia, sabão amarelo e azul, soda cáustica e outras miudezas como esfregões de palha de aço, vassouras e piaçás. O nome deste último deriva de piaçaba, planta da família das palmeiras que fornecia matéria prima para os produzir, bem como às vassouras. Achei importante deixar aqui essa informação sobre tão útil objecto da nossa vida quotidiana. Não quero mentir, mas, apesar do que disse acima, tenho ideia de que para além destes produtos os Petrolinos também vendiam azeite avulso. Não sei se na altura já existiam “asais”, mas a verdade é que nessa época o azeite era um produto multifacetado . Isto é, tanto servia para comer, como para lubrificar fechaduras, dobradiças e rodas de carros de bois e ainda para tratar maleitas de reumático e de mau-olhado.   Hoje em dia, estes produtos só se encontram nas resistentes drogarias, ou nas grandes superfícies comerciais. Para mim, de certa maneira,  isso constitui um retrocesso civilizacional pelo facto de teres de fazer km para os conseguires obter…..e o pior é que eu que já não tenho a minha currica..." in Memórias & Inspirações

Por José Passeiro

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