sábado, 3 de julho de 2021

COMO ERAM LINDOS PRIMEIROS DIAS DE JULHO....Georgina Ferro

Como eram lindos os primeiros dias de Julho. Bem cedinho apagavam as estrelas do céu azul escuro e começava a clarear. Só ia restando uma luzinha aqui, outra mais longe... até que sumiam por completo para que o Sol brilhasse sozinho enquanto elas iam dormir. 

     Pelo "janelo" do quarto entrava o ar perfumado a "hortejos" e a flores!... Ouviam-se as "picotas" a içar e a baixar e,  o cambão da nora do poço grande, chiava, chiava... enquanto os alcatruzes enchiam e despejavam no regueiro...

     Nesses dias ninguém tinha preguiça de se levantar!... Era uma alegria sair da cama e agarrar numa merenda e num punhado de cerejas e ir comendo pelo caminho afora enquanto a vaquinha "bamboleava" apressada até ao lameiro. 

     Depois havia sempre um jogo para fazer e a Mimosa depressa ficava farta pois a erva estava alta e fresca.  Não era preciso ficar por lá até ao entardecer. Bastava que o sol ficasse a pino. 

     Quando voltávamos já  havia comida na mesa. Os adultos iam passar pelas brasas, diziam eles, e nós tínhamos um tempão para enchermos o Largo do Enxido de vida, alegria e de brincadeira até ao toque das Trindades. Era ali que voavam os " motchos" feitos de varas de giesta, rolavam os aros de arame guiados pelo guiador, arrastavam os carrinhos feitos com latas de sardinha, saltitavam as meninas com a pedrincha nos pés, pulavam os rapazes no jogo do eixo e as garotas saltavam à corda... Os catraios adoravam fazer capeias e jogar à "pela" com "trapeiras" feitas pelas avós que não resistiam muitos jogos sem se desmancharem todas... Lá havia um dia em que aparecia um garoto com uma bola de borracha  '"catchu", mas isso era tamanho tesouro que não demorava muito tempo a ser arrecadada pelo dono, que se desculpava que a mãe lhe recomendara que não demorasse.  O jogo do berlinde era o mais disputado quer por cachopos ou cachopas. Como quase nunca havia berlindes de vidro dos "pirulitos" eram os bogalhos dos carvalhos que faziam as suas vezes. Eram bem mais difíceis de jogar porque as mãos tinham de ser bem habilidosas para controlar a leveza daquelas bolinhas minúsculas!

     Pelo meio da tarde havia sempre miúdos a desaparecer por uns instantes para ver se os pais precisavam de alguma ajuda, para irem merendar, para acarretaram uns jarros de água do chafariz. A maior parte das vezes já não voltavam. Ou ajudavam lá em casa, ou iam buscar as vacas ao lameiro, mercar um pouco de petróleo para o candeeiro, eu sei lá...

     Depois, vinha aquele entardecer longo, longo... começado no toque das Trindades e que afogueava o céu cor de arrebol como se o sol quisesse ficar à espera da noite e de ver luzir os milhões de estrelas que iriam acordar não tardaria...

Georgina Ferro


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