quarta-feira, 7 de julho de 2021

PANDEMIA - O "PRESSÔRE" ACORDARA ANSIOSO...

 O "pressôre" acordara ansioso.

Não era para menos, visto que era o tão esperado dia do famoso encontro com a paixão avassaladora, repentina e assolapada, a "vácina".

Levantou-se, preparou-se, vestiu o seu melhor fato, em tons de rosa "marshmellow", reforçou a dose de perfume e pegou no ramo de rosas, ainda frescas, preparado cautelosamente na noite anterior. Saiu de casa e pôs-se a caminho do local do encontro, um quartel de bombeiros.

Estranhara. Não seria o local mais romântico do mundo, mas até compreendia. Caso o fogo da paixão se descontrolasse, era sempre bom ter por perto quem soubesse apagar fogos.

Antes da hora combinada, estava à porta do quartel. Tudo muito tranquilo, apenas duas ou três pessoas conversavam de forma domingueira à sombra de um chaparro, visto que o sol já se fazia sentir com alguma intensidade.

Um senhor, que deduzi ser o mordomo, chamou o "pressôre" e encaminhou-o para a entrada de um túnel. A estranheza foi imediata. O túnel era escuro, algo aterrador e algumas pessoas circulavam por ali com umas fatiotas estranhas. Estava a pessoa distraída a olhar para o que ali se passava e eis que o dito mordomo saca de uma arma e ma aponta à cabeça. Só tive tempo de dizer que estava inocente e que tinha sido convidado para a festa. Resultou, ele deve ter acreditado e pegou numa lista de convidados para confirmar se o meu nome lá estava.

Aqui a desconfiança aumentou. Convidados? Tu queres ver que fui ao engano e a fulana, para me apanhar, marcou logo o casamento?

Nisto, o mordomo agarra e entrega-me um inquérito para eu preencher com os meus dados pessoais. Um inquérito? Nunca tinha sido tão escrutinado na véspera de um encontro. Como não me pedia os dados da conta bancária, lá preenchi o papel e depois de percorrer o túnel escuro (que ainda julguei que fosse algum fetiche da "vácina", assim tipo uma cena sado-maso), fui recebido por um senhor com um pijama azul a quem entreguei o inquérito e me perguntou se tinhas doenças. Caneco, a fulana não fazia por menos, se calhar já deveria estar a pensar na constituição de família.

Como as minhas respostas devem ter agradado ao senhor do pijama azul, meteram-me numa espécie de tenda onde iria decorrer o dito encontro romântico. Era uma tenda simples, em tons alaranjados. Num canto, estava uma mesa com um computador, onde uma senhora de pijama azul iria anotar os detalhes do encontro. Fiquei logo reticente. Então, mas isto vai ter assistência? Sou tímido, não acho piada a "voyeurs". Teria sido mais uma vez enganado e metido na produção de um daqueles filmes para adultos?

Noutro canto da tenda, estava uma cadeira branca, onde uma outra senhora de pijama azul me mandou sentar. Foi buscar um tabuleiro, pensando eu que me iriam servir algum aperitivo, uma patanisca de bacalhau ou um croquete, mas eis que pega num objeto comprido e esguio, com uma antena bicuda na ponta e me apresenta a "Pfaiza". Aquela bodega é que era a fulana que tinha marcado o encontro comigo? Tinha mais ar de extraterrestre do que de outra coisa, nem sexy era. Tentei iniciar o diálogo, mas manteve-se muda e, de um rompante, sem eu estar à espera, atacou-me o braço esquerdo e, dois segundos depois, disse "Já está!"

Mas já está o quê? Que raio de ato de amor foi aquele? É que eu nem senti nada. Meio atarantado, a dita senhora de pijama azul, resolve entregar-me um cartão com a marcação para um segundo encontro. E nem pergunta se eu tenho interesse. É assim, pumba e já está.

O mais estranho veio a seguir.

Mandaram-me para uma sala cheia de cadeiras, onde deveria esperar 30 minutos para ver se o serviço tinha ficado bem feito.

Fiquei em choque! A sala estava cheia de pessoas que tinham sido atacadas pela fulana, que afinal me saiu uma grande galdéria. Andava a atirar-se a toda a gente e não escolhia géneros. Marchava tudo. Pior, algumas dessas pessoas eram minhas conhecidas e, juro, não percebo como tiveram a ousadia de me trair. Sim, ao "pressôre" que tanta esperança depositara naquele encontro.

Meia hora depois, saí de lá, com o coração desfeito, mas com a esperança de que o próximo encontro me dê a imunidade necessária para estes desgostos amorosos. 

Apesar de tudo, nem foi muito mau, visto que ouvi lá gente a queixar-se que tinha sido inoculada. Que horror! Tive sorte, a mim só resolveu atacar o braço!

autor desconhecido...mas sugerido por LUISA MOURA


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