De geração em geração ...
Relembro aquele dia morno de agosto. Sentado na sala de estar
da cidade de Lagos, eu olhava a imberbe face de Dom Sebastião.
Impávido e sereno na sua armadura avantajada, o rei olhava contemplativo o canal onde, ao cair da tarde, as embarcações de recreio de pequeno e grande porte, se cruzavam com as traineiras que se faziam ao mar largo, na labuta pela sobrevivência. É sempre assim, aquele cirandar de fins de tarde. Há mais de cinquenta anos, que observo aquele carrossel da vida. Uma simbiose de lazer e de esforço, tendo como pano de fundo os caprichos de ventos e de marés.
Impávido e sereno na sua armadura avantajada, o rei olhava contemplativo o canal onde, ao cair da tarde, as embarcações de recreio de pequeno e grande porte, se cruzavam com as traineiras que se faziam ao mar largo, na labuta pela sobrevivência. É sempre assim, aquele cirandar de fins de tarde. Há mais de cinquenta anos, que observo aquele carrossel da vida. Uma simbiose de lazer e de esforço, tendo como pano de fundo os caprichos de ventos e de marés.
Por horas, por muitas horas, fui assistindo ao desfilar de
turistas. Alguns discretamente vestidos. Outros, eles e elas, de roupagens
bizarras. Num olhar mais atento, fui reparando nas tatuagens dos passantes.
Algumas delas, gravadas na carne morena de um sol generoso, pareciam inspiradas
em filmes galáticos ou de terror.
Também brincos e anéis. E uma babilónia de línguas, que se misturam com o sotaque algarvio daqueles que, sentados nos bancos de pedra rodeando a estátua do “Desejado”, de boné na cabeça e traje humilde, se percebe que tiveram uma vida de muito mar.
Também brincos e anéis. E uma babilónia de línguas, que se misturam com o sotaque algarvio daqueles que, sentados nos bancos de pedra rodeando a estátua do “Desejado”, de boné na cabeça e traje humilde, se percebe que tiveram uma vida de muito mar.
Passeando pelas ruas estreitas, de calçada gasta e polida, de
tantos anos de veraneio dos turistas que aportam ao barlavento algarvio, secou -
se - me a garganta de tanto calcorrear veredas ao calor da tarde.
E foi ali, naquele pequeno café escuro e modesto, que entrei
para me refrescar com uma cerveja bem viva, de espuma a escorrer pelo copo gelado e esguio. Um hino à vida.
No pequeno estabelecimento, de balcão corrido, alguns
indivíduos, uns ainda jovens e outros de idade mais avançada, falavam de
futebol. As discussões acaloradas e as rodadas de cerveja, sucediam-se ao ritmo
dos grandes duelos futebolísticos, com picardias à mistura. Não foi difícil
perceber, que o vermelho e o verde eram as cores predominantes dos
antagonistas.
Sentado no meu canto, discretamente, eu ia ouvindo e bebendo
a minha loira, em pequenos tragos. De repente, como num momento cénico de uma
qualquer peça teatral, olharam todos para mim, num misto de desconfiança e de
curiosidade. O silêncio era embaraçoso e um deles, mais afoito, querendo
puxar-me para a conversa e sondar da minha simpatia clubista, perguntou-me
frontalmente e sem mais delongas, qual a minha cor preferida.
Sem defesa, tive que responder. Falei - lhes de uma
camisola preta.
Por momentos, ficaram perplexos, pois não entenderam o negro da minha simpatia. Que estranho turista era aquele, que a uma pergunta tão inocente, vinha para ali fazer a apologia de uma espécie de luto da alma – terão pensado …
Por momentos, ficaram perplexos, pois não entenderam o negro da minha simpatia. Que estranho turista era aquele, que a uma pergunta tão inocente, vinha para ali fazer a apologia de uma espécie de luto da alma – terão pensado …
Mas depois, como se uma lâmpada de Aladino lhes iluminasse a
mente, brindaram-me com um sorriso amistoso e numa apoteose de concordância,
exclamaram:
- Ora amigo, da Académica somos todos …
Depois ignoraram-me. E continuaram a assanhada discussão …
Quito Pereira
Duas gerações das "pontas", pois pelo meio há mais e em quantidade!
ResponderEliminarNa foto o "velhote" é sócio mais ou menos há 65 anos!!!
A jovem "neta" tem tantos anos de vida como de sócia, 22 anos!
Se bem me lembro esta foto terá sido tirada numa das eliminatórias da Final da Taça de Portugal, de boa memória, em que tu protagonizaste uma foto maravilhosa de “bébé chorão”, com o boné da Académica a descambar…
Dia memorável e que vamos recordando com muita saudade!
O velhote é sócio há mais ou menos 65 anos da BRIOSA-Académica e a jovem-neta- tem de sócia os mesmos anos de vida….22!!
Rever aqui http://encontrogeracoesbnm.blogspot.pt/2013/05/memorias-final-da-taca-de-portugal-20.html#comment-form
Peço-te desculpa Rafael, porque várias vezes postei e retirei o texto, para fazer algumas correções que achei pertinentes. Agora está como pretendo e de mais fácil leitura, pois estava um pouco compacto.
ResponderEliminarSe somos todos da Briosa, como os lacobrigenses dizem, quer dizer que o Dom Sebastião também é e o Infante Dom Henrique igualmente...
Se eu mandasse, geminava Coimbra com Lagos ...
Abraço
Agora vou partir para o Estádio,
ResponderEliminarAcadémica-Vitória de Setúbal.
Espero que corra bem!
Que pobreza franciscana!!!!!
ResponderEliminarLamentável 2ª parte!
E não digo mais nada!
Mesmo quem nao simpatizasse com a Academica, coisa rara, diga se, ficaria dela adepto ao ler esta bela cronica que mostra uma cidade historica num dia morno de Agosto, agitado por.interminaveis e inconclusivas discussoes entre os eternos rivais, que a sobriedade do negro tempera e equilibra, num patamar bem acima do verde e do vermelho.
ResponderEliminarPorque mais do que futebol, a Academica e' uma Instituiçao universal por onde passaram dos maiores vultos do desporto nacional.
Quando vi as fotos pensei que ia ler um texto do Rafael mas quado cheguei ao início do segundo parágrafo fui ao fundo ver quem tinha escrito pois estava com uma grande confusão pois a escrita do Quito é inconfundível.
ResponderEliminarA AAC é qualquer coisa que nos liga mesmo a esta distância: a minha filha nunca viveu directamente a AAC mas sente-a, pois fica toda contente quando ela ganha. É assim a nossa terra.
Claro que bastou chegares ao inicio do segundo parágrafo...
ResponderEliminarE disseste:alto aqui há gato escondido com rabo de fora!!!!
A foto foi lá colocada de propósito pelo Quito...para testar os conhecimentos "prosaicos" dos leitores.
Mas bastava chegar a LAGOS...e a prosa ía logo direitinha para Salgueiro do Campo!
Mas a foto de duas gerações assenta bem na postagem!
Na verdade, percebo a perplexidade do Chico Torreira. Mas a família Rafael, é bem o exemplo de fidelidade ao emblema Coimbrão. Por isso, a foto é uma homenagem a avô e neta, bem como a todos elementos do clã Rafael. A história, que é real, passou-se em Lagos, uma cidade de onde também sou "natural" desde tenra idade e igualmente munícipe, pagando os meus impostos e contribuindo para a conservação de uma das mais belas cidades de Portugal ...
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