UM DESTINO DE FÉRIAS ...

 Cala Galdana ...

Com surpresa, dei comigo a cantarolar Antonio Vivaldi. Os dias mornos e alegres desta primavera, fazem, a espaços, sentir-me bem. Porém, de quando em vez, ando depressivo. É a nação que me põe assim.

Cheguei à conclusão, que não vale a pena ler jornais. Ou ler revistas. Ou ver notícias nas estações de televisão cá do burgo. É sempre mais do mesmo. As mesmas caras. As mesmas matilhas. Os mesmos malabaristas das palavras. Das telenovelas, que não vejo mas de que me vou apercebendo dos enredos de cordel, plágio de tudo o que de mau nesta matéria é importado do Brasil, fica um longo bocejo.

Adeus, “Gabriela Cravo e Canela”. Adeus, “Roque Santeiro”. Adeus, “O Casarão”. Paz às vossas almas de entretenimento de eleição, nas noites de antanho. Então, em desespero, liga-se um qualquer canal desportivo do cabo. Lá está o outro a mastigar uma pastilha e a alisar o cabelo com as mãos. E ainda outro de falas mansas, que parece não partir um prato. E o jovem da voz grossa que, no fulgor da juventude, julgava que levava tudo à frente a rugido de leão.

O que me apetece mesmo, é levantar âncora e partir. Não vale a pena o refúgio algarvio, ou as belas paisagens dos Açores e da Madeira. Porque quando abrimos a televisão, lá estão eles outra vez a massacrar a nossa paciência, e é então que nos apercebemos – aterrados - que também os levámos na bagagem.

Decididamente, o melhor é voar sobre a fronteira. Partir, mesmo que seja para perto. De Espanha, dizem que nem bom vento nem bom casamento. De casamento, não sei. Nunca me agradei de nenhuma Conchita. De vento, já não posso dizer o mesmo. Lá pelas bandas da Ilha Menorca, no recato da baía de Cala Galdana, o vento é brando e hospitaleiro. Se juntarmos ao ingrediente um hotel simpático – o Audax - que só recebe adultos, está encontrado o caminho para umas férias repousantes. Para quem viaja com crianças, existem outras unidades hoteleiras muito bem situadas na baía. 

Mas ali, naquele hotel pouco apelativo no seu exterior, que mais parece um caixote, temos carta de alforria para umas férias tranquilas onde, nas duas magníficas piscinas em socalco, sobranceiras à baía, apenas se ouve o ruído da água dos chuveiros. Talvez por isso, a  clientela residente apenas seja composta de casais descomprometidos de filhos de menor idade, muito ciosos que são do seu sossego.

Depois passear pela ilha, com táxis a preço módico, onde uma qualquer Pilar de saia rodada e aos folhos com muito ”salero”, a abanar-se com um leque rendilhado, nos leva ao encontro da pequena pérola mediterrânica.

Contudo, ficará sempre muito por descobrir, além das águas cristalinas, mornas e retemperantes, para quem quiser esquecer por uns dias, o torrão lusitano das nossas  angústias e preocupações.

Quito Pereira