quinta-feira, 24 de agosto de 2017

PLUTARCO NO ALMOÇO DE NATAL(2010)-Reposição de texto do Rui Felício

O Luis formava com a Marta o casal perfeito, num casamento feliz e bem sucedido.
A Sónia, sua antiga namorada, nunca lhe perdoou que a tivesse trocado pela Marta.
Mais por se sentir ferida no seu orgulho do que por razões de amor.
Vingativa, fazia constar, primeiro em surdina, depois cada vez mais explicitamente, que o Luis tinha mau hálito e que, por isso, ela evitava beijá-lo, quando eram namorados.
Quando tal lhe chegou aos ouvidos, o Luis perguntou à sua mulher porque é que ela nunca lhe tinha dito que ele tinha mau hálito.
- Preferia sabê-lo por ti do que por estranhos, disse-lhe ele, agastado.
A mulher explicou-lhe que o amava muito e que nunca lhe tinha falado nisso com receio de o ofender ou envergonhar.
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Vem esta pequena ficção ilustrativa, a propósito de, em conversa com o Rui Barreiros no almoço de Natal de sábado passado, em Coimbra, ter ficado a saber que ele agora se dedica ao estudo dos clássicos, deixando o Direito para segundo plano.
Falámos de alguns, entre os quais Plutarco, filósofo cujo legado sempre me seduziu e que defendeu que devemos tirar proveito dos inimigos, em vez de os ostracizar.
Porque é por eles e não pelos amigos que mais rapidamente ficamos a conhecer a crueza da verdade, desde que saibamos destrinçar na informação recolhida, os boatos que por vezes são lançados para gerar o descrédito.

Todos temos virtudes e defeitos. Ainda que sob a capa da falsa modéstia, o narcisismo intrínseco que relutamos em admitir, leva-nos a sobrevalorizar aquelas e a minimizar aqueles.
O reequilíbrio desta deformada visão da realidade, de que genericamente padecemos, deve fazer-se através dos inimigos e não dos amigos, por estranho que pareça.
Os amigos, por razões de estima pessoal, tendem a ocultar-nos a verdade que nos fere ou desagrada.
Ao contrário, são os adversários ou inimigos que, justa ou injustamente, não desperdiçam nenhuma oportunidade de denunciarem ou publicitarem os nossos defeitos.
Rui Felício
NOTAA conversa resultou do pedido que fiz ao Rui Barreiros para que escrevesse de vez em quando algo no blogue, dada a sua larga e reconhecida experiência profissional e conhecimentos jurídicos. Foi para me explicar que lhe faltava o tempo, porque agora andava assoberbado com o estudo dos clássicos, que se gerou a interessantíssima conversa.
ORIGINAL e respectivos comentários AQUI

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