Lembras-te, Pedro ?
Caro Pedro
Naquele fim de tarde, partiste. Foste embora e não disseste
nada. Nem te despediste. Nós, os que contigo andavam no Externato Dom João de
Castro e tantos outros que gostavam de ti, ficámos num desespero de
desesperança. De desesperança, de não te poder devolver à vida. Fomos para junto
da Sé Nova e chorámos. Todos.
Lembras-te Pedro, daqueles copianços nos exercícios do
Professor Queiroz? Lembras-te Pedro, da professora de História de doces
encantos, que nos pôs a todos a cantar louvores aos Deuses?
Lembro-me Pedro, das tuas gargalhadas. Sinceras.
Descomprometidas. Honestas. Transparentes. Tu, Pedro, eras um jovem exemplar.
Continuas a ser. Os amigos só morrem, se lhes abandonarmos a memória.
De ti Pedro, fica-me um intrigante mistério. Onde é que tu
ias arranjar aquelas toneladas de pevides que comias nas aulas? Eram do
Pianinho ? Eram do Calmeirão? E aquele bolso do casaco, que parecia de um
ilusionista de circo ! É que as pevides nunca mais acabavam! Olha, sabes o que
eu acho? Tu nem pagavas os pacotes das pevides, tinhas uma conta – corrente com
o Pianinho e com o Calmeirão!!!
Vá, não me mintas, conta lá esse truque que tanto me intrigou
e intriga …
Lembras-te do dia, numa aula do Grilo, em que te confidenciei
que gostaria de ter o emblema da Académica ao peito, nem que fosse por um
minuto na vida … mas que eu não tinha jeito, nem para dar um pontapé certeiro
na enorme bola do creme Nívea, da publicidade da Praia da Claridade ?
Recordo-me que te calaste muito bem calado e, um dia,
disseste-me imperativo, mas a sorrir : amanhã vens treinar comigo, no Campo de Santa Cruz ...
Cozinhaste tudo e quando lá cheguei, já estavam todos de
sobreaviso. Vesti uma camisola branca, do grupo de reservas. Mas de emblema ao
peito. Foram momentos de glória e nem me saí muito mal, não te parece? Eu
estava tão entusiasmado, que nem as caneladas de um grandalhão que por lá
andava, me magoavam !!!
Essa tua atitude, mostra bem a tua faceta humana. Amigo sem
mancha. Amigo sincero. Amigo leal. Amigo que é amigo.
Tu, Pedro, estejas onde estiveres, viciado que és nas pevides
do Pianinho e do Calmeirão, manda-me uma mensagem, que eu revolvo Coimbra de
fio a pavio a procurá-las, para t’as oferecer.
Devo - te essa atenção. Mas, o jogo da Eternidade não acabou.
Vai perpetuar-se. O resultado, esse, já o sei de antemão: em amizade, vamos
acabar empatados.
O teu amigo
Eurico (era assim que me chamavas, lembras-te?)
(Ex – aluno do Externato Dom João de Castro)
A propósito de uma fotografia publicada neste espaço. A propósito de nela figurar, o meu amigo de juventude e companheiro de aulas, Pedro Fonseca ...
ResponderEliminarFica esta minha homenagem póstuma. Uma memória simples, dita com palavras simples ...
Porque simples e generoso era o Pedro. Porque simples e generosos, eramos todos nós.
E é o que basta.
Até sempre, Pedro.
Ter-te como amigo é um luxo, Quito.
ResponderEliminarAbre aço!
Um Abraço.
ResponderEliminarTonito.
Ai Quito, Quito!!! Abraço, pá (do caraças, para não dizer carago)
ResponderEliminarEstava longe de imaginar que esta foto(não estava prevista na postagem inicial...), mas que através dos comentários e especialmente de ti ao fazeres referência ao Pedro, (lembrei -me que tinha uma revista onde estavam os títulos conquistados pelas camadas jovens da AAC e em boa hora o fiz. pois deu este texto maravilhoso. Já o coloquei na página do José Freixo que fazia parte dessa equipa de Juvenis e mais tarde dos júniores!
ResponderEliminarAbraço
Recordar é viver mas com o Quito, as suas recordações fazem-nos viver os seus momentos e sentirmo-nos tocados pelos seus sentimentos. Um abraço.
ResponderEliminarSem palavras. Com um amigo assim , o Pedro nunca morre. Abraço, Quito
ResponderEliminarO teu amigo, onde estiver, haverá de ter sorrido duplamente!
ResponderEliminarO primeiro, pela lembrança de um amigo tão dedicado e inesquecível.
O segundo, pelas recordações dos copianços, das pevides, dos jogos da Académica...
Quito, és um " tipo porreiro"!
O Pedro Fonseca, que eu não conheci, sabia escolher os amigos.
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