terça-feira, 2 de setembro de 2014

CARTA ABERTA AO PEDRO FONSECA



Lembras-te, Pedro ?
Caro Pedro

Naquele fim de tarde, partiste. Foste embora e não disseste nada. Nem te despediste. Nós, os que contigo andavam no Externato Dom João de Castro e tantos outros que gostavam de ti, ficámos num desespero de desesperança. De desesperança, de não te poder devolver à vida. Fomos para junto da Sé Nova e chorámos. Todos.

Lembras-te Pedro, daqueles copianços nos exercícios do Professor Queiroz? Lembras-te Pedro, da professora de História de doces encantos, que nos pôs a todos a cantar louvores aos Deuses?

Lembro-me Pedro, das tuas gargalhadas. Sinceras. Descomprometidas. Honestas. Transparentes. Tu, Pedro, eras um jovem exemplar. Continuas a ser. Os amigos só morrem, se lhes abandonarmos a memória.

De ti Pedro, fica-me um intrigante mistério. Onde é que tu ias arranjar aquelas toneladas de pevides que comias nas aulas? Eram do Pianinho ? Eram do Calmeirão? E aquele bolso do casaco, que parecia de um ilusionista de circo ! É que as pevides nunca mais acabavam! Olha, sabes o que eu acho? Tu nem pagavas os pacotes das pevides, tinhas uma conta – corrente com o Pianinho e com o Calmeirão!!!

Vá, não me mintas, conta lá esse truque que tanto me intrigou e intriga …

Lembras-te do dia, numa aula do Grilo, em que te confidenciei que gostaria de ter o emblema da Académica ao peito, nem que fosse por um minuto na vida … mas que eu não tinha jeito, nem para dar um pontapé certeiro na enorme bola do creme Nívea, da publicidade da Praia da Claridade ?

Recordo-me que te calaste muito bem calado e, um dia, disseste-me imperativo, mas a sorrir : amanhã vens treinar comigo, no Campo de Santa Cruz ...

Cozinhaste tudo e quando lá cheguei, já estavam todos de sobreaviso. Vesti uma camisola branca, do grupo de reservas. Mas de emblema ao peito. Foram momentos de glória e nem me saí muito mal, não te parece? Eu estava tão entusiasmado, que nem as caneladas de um grandalhão que por lá andava, me magoavam !!!

Essa tua atitude, mostra bem a tua faceta humana. Amigo sem mancha. Amigo sincero. Amigo leal. Amigo que é amigo.

Tu, Pedro, estejas onde estiveres, viciado que és nas pevides do Pianinho e do Calmeirão, manda-me uma mensagem, que eu revolvo Coimbra de fio a pavio a procurá-las, para t’as oferecer.

Devo - te essa atenção. Mas, o jogo da Eternidade não acabou. Vai perpetuar-se. O resultado, esse, já o sei de antemão: em amizade, vamos acabar empatados.

O teu amigo
Eurico (era assim que me chamavas, lembras-te?)
(Ex – aluno do Externato Dom João de Castro)  
  

9 comentários:

  1. A propósito de uma fotografia publicada neste espaço. A propósito de nela figurar, o meu amigo de juventude e companheiro de aulas, Pedro Fonseca ...

    Fica esta minha homenagem póstuma. Uma memória simples, dita com palavras simples ...

    Porque simples e generoso era o Pedro. Porque simples e generosos, eramos todos nós.

    E é o que basta.

    Até sempre, Pedro.

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  2. Ter-te como amigo é um luxo, Quito.
    Abre aço!

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  3. Ai Quito, Quito!!! Abraço, pá (do caraças, para não dizer carago)

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  4. Estava longe de imaginar que esta foto(não estava prevista na postagem inicial...), mas que através dos comentários e especialmente de ti ao fazeres referência ao Pedro, (lembrei -me que tinha uma revista onde estavam os títulos conquistados pelas camadas jovens da AAC e em boa hora o fiz. pois deu este texto maravilhoso. Já o coloquei na página do José Freixo que fazia parte dessa equipa de Juvenis e mais tarde dos júniores!
    Abraço

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  5. Recordar é viver mas com o Quito, as suas recordações fazem-nos viver os seus momentos e sentirmo-nos tocados pelos seus sentimentos. Um abraço.

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  6. Sem palavras. Com um amigo assim , o Pedro nunca morre. Abraço, Quito

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  7. O teu amigo, onde estiver, haverá de ter sorrido duplamente!
    O primeiro, pela lembrança de um amigo tão dedicado e inesquecível.
    O segundo, pelas recordações dos copianços, das pevides, dos jogos da Académica...
    Quito, és um " tipo porreiro"!

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  8. O Pedro Fonseca, que eu não conheci, sabia escolher os amigos.

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