Vital
Gosto do Alentejo. Gosto do cantar alentejano. Gosto das planícies sem fim. Gosto dos poentes incendiados. Gosto do silêncio dos sobreirais.
Paradoxalmente, passei no Alentejo um dos momentos mais difíceis
da minha vida. De botas grossas e ao ritmo de um tambor, calquei o chão de
Estremoz, de estandarte ao alto e empurrado para uma guerra que não desejava.
Mas nem os tormentos por que passei, me demoveram de gostar
do Alentejo e das suas gentes.
Talvez por isso, eu sempre tive uma simpatia por uma
Instituição desportiva, que em épocas recuadas visitava Coimbra – o Lusitano
Ginásio Clube de Évora.
Sempre vi no Clube de verde e branco vestido, uma bandeira do
Alentejo. Pela projeção que tinha e porque lutava contra um Destino que não suportava.
O anátema da interioridade, que sufocava a região. E que manietava as suas
gentes. O Lusitano de Évora de Vital, Fialho, Falé, Caraça, e José Pedro entre outros,
batia-se galhardamente para que o Alentejo tivesse uma voz ativa no âmbito
desportivo.
Évora
monumental, cidade muralhada de vielas apertadas e do Templo de Diana. De quem
gosta da paz e da boa gastronomia.
Ontem, morreu um símbolo do Lusitano de Évora - Dinis Martins
Vital. Foi atleta de enorme valia. Defendeu, nos anos 5O do século passado, as
cores da cidade e de uma região, naquele que era e sempre será, o clube mais
emblemático do Alentejo. Também defendeu outros emblemas, destacando-se o
Vitória de Setúbal.
Dinis Vital, apesar de ter representado a Seleção Nacional em
várias ocasiões, nunca viu devidamente reconhecido o seu valor de atleta bem
acima da média. Ontem como hoje, os interesses que minam a verdade,
sobrepuseram-se ao interesse nacional.
Dinis Vital, partiu. Irá ter uma anotação em rodapé, no fundo
de um qualquer jornal desportivo. Ou, quiçá, uma notícia em que lhe serão
realçadas as suas virtudes. É pena que apenas se tenha na morte, o
reconhecimento que se não teve em vida.
Adversário de ontem ou de hoje, nunca será inimigo ou de
valor diminuído. Nesta sociedade que construímos e onde reina a competição e a
indiferença, aqui estou, simples cidadão anónimo, a prestar- lhe esta homenagem
recordando até, que as relações entre a Associação Académica de Coimbra e o
Lusitano de Évora, sempre foram muito cordiais.
Afinal, nada de admirar, numa
região onde um jarro de vinho a escorrer pelo copo, um chouriço e um queijo, ou
uma migas repartidas da mesma malga entre parceiros, preenchem muitas horas de lembranças e de esperanças renovadas …
Descansa em paz, Dinis Vital.
Rafael, porque perdia oportunidade, postei este texto que fiz ontem, logo que soube do falecimento deste antigo atleta. Porque sempre o admirei, fica a minha homenagem.
ResponderEliminarAgradeço que mantenhas para a hora indicada - 12 horas - a postagem que tens programada ..
Obrigado.
Quase que jurava que me lembro desta cara nos cromos dos jogadores, quando era puto!...
ResponderEliminarÉ provável, Alfredo. Era atleta bem conhecido da época, embora eu saiba de antemão, que olhas de longe este fenómeno desportivo - o futebol. Mas não serás só tu. Também já vou olhando para tudo isto, com um certo distanciamento. Já cansa, tanta inverdade. O dinheiro e os interesses publicitários a comandar tudo.
EliminarVital, tinha para mim a virtude da sua modéstia. Sempre apreciei essa sua faceta de Homem. Os compadrios, os interesses obscuros, nunca lhe deram as oportunidades que deveria ter tido. Mas nunca se queixava da injustiça e da discriminação de que era alvo. Discriminação será o termo correto.
E esta é a razão desta pequena homenagem, mesmo que anónima e insignificante. E talvez, até porque não dizê-lo, até deslocada do contexto deste blog.
Mas quis homenagear Dinis Vital. E este foi o meio que encontrei para o fazer, logo que soube da sua morte. Curioso, que logo foi referido o seu valor e como foi mal tratado na época, no âmbito desportivo. O tal reconhecimento que não teve em vida.
Morreu Dinis Vital, antigo futebolista do Vitória de Setúbal
ResponderEliminarpor João Ruela, com LusaOntem
O antigo guarda-redes, que passou pelo Vit. Setúbal mas cumpriu a maior parte da carreira no Lusitano de Évora, faleceu aos 82 anos.
O antigo futebolista internacional Dinis Vital, que jogou no Lusitano de Évora e no Vitória de Setúbal, nos anos 1950 e 1960 morreu nesta quarta-feira, aos 82 anos, vítima de doença, disse à agência Lusa fonte hospitalar.
Segundo a mesma fonte, o antigo guarda-redes Dinis Vital estava internado numa unidade de cuidados continuados e deu entrada no serviço de urgência do Hospital do Espírito Santo de Évora, na terça-feira à tarde, tendo morrido na madrugada de hoje, devido ao agravamento do seu estado de saúde.
Dinis Vital nasceu a 02 de julho de 1932 na vila alentejana de Grândola.
Iniciou a carreira no clube da sua terra, o Grandolense, mas foi no Lusitano de Évora e no Vitória de Setúbal que se destacou no futebol nacional.
Sagrou-se campeão da II Divisão Nacional e alinhou na I Divisão com a camisola da equipa alentejana.
Lembro-me de o ver jogar na Arregaça contra o União de Coimbra.
Mas como também jogou no Vitória de Setúbal é natural de o ter visto jogar conta a Acadérmica
Na célebre e mais renhida final de sempre do Jamor, que acabou já de noite, o Setúbal venceu-nos por 3 -2. Uma Taça que deveria ser divida a meio - diziam os de Setúbal. Nessa final, estavam os dois melhores guarda redes de Portugal na época: Maló pela Briosa; Vital pelo Vitória de Setúbal ...
ResponderEliminarNa fotografia que puseste, Rafael, repara num pormenor curioso: dos dez atletas que vês na foto, apenas 3, incluindo Vital, têm as meias até ao joelho. Os outros (incluindo Ernesto (já falecido) e Artur Jorge, já têm as meias em baixo, sinal de fadiga muscular. Esta foto já deve ser do prolongamento. De facto foi um jogo esgotante e a que assisti;
ResponderEliminarUm dia, há relativamente pouco tempo, Toni que jogava por nós, referiu-se ao jogo dizendo: já nos últimos minutos, eu e o Jaime Graça disputámos uma bola e caímos no chão ...e ficámos assim porque já nem tinhamos força para nos levantar ...
V.Setúbal defende com 8 jogadores e a AAC ataca com 2!!!!!
ResponderEliminarLembro-me bem do Vital. E do meu colega Ernesto, também já partido, com quem partilhei a carteira na Brotero no ensino noturno antes de ambos termos arrancado para a fundação do ISE. E vem-me à lembrança a minha última semana na guerra colonial em Cabinda, marcada pela morte de 3 camaradas. Dessa tragédia lembra-se o capitão que cometeu o ato irresponsável que os levou à emboscada fatal e o médico por ser filho do general Silvério Marques. Acrescento que a terceira vítima foi um furriel que tinha sido jogador do Lusitano de Évora. Afinal a distância entre a vida e a morte é só um passo!
ResponderEliminarniciou a carreira no clube da sua terra, o Grandolense, mas foi no Lusitano de Évora e no Vitória de Setúbal que se destacou no futebol nacional.
ResponderEliminarSagrou-se campeão da II Divisão Nacional e alinhou na I Divisão com a camisola da equipa alentejana.
Mais tarde, transferiu-se para o Vitória de Setúbal, clube ao serviço do qual conquistou uma Taça de Portugal.
Como treinador, passou, entre outras, pelas duas equipas de Évora, Lusitano e Juventude, e esteve no Vitória de Setúbal como treinador de guarda-redes.
Em 1959, Vital vestiu, pela primeira e única vez, a camisola da seleção portuguesa num jogo amigável frente à Suíça, mas representou várias vezes a seleção militar de Portugal.