Ao principio, ela só parecia ter um defeito.
Tinha medo do escuro, só se sentia calma e descontraída quando a luz incidia no seu corpo esbelto e atraente.
Nos primeiros dias tive dificuldade em adaptar-me, porque na intimidade do nosso quarto eu gostava mais da cálida modorra da escuridão.
Para a satisfazer, contudo, comprei um candeeiro de luz mortiça que fica aceso toda a noite do lado dela e concluí que afinal aquele seu hábito, em vez de defeito, era uma virtude.
Fez-me
descobrir o prazer de admirar as sombras desenhadas pela luz, que
marcavam e delineavam os seus contornos apetecíves em mil nuances
que a escuridão só permitia ao tacto, nunca ao olhar.
Ela adora sentir o meu respirar junto do corpo, e eu recebo o dela na minha pele, como um bálsamo viciante, provocador, numa permuta contínua, sincopada, quase perpétua que se alimenta uma da outra, mantendo-nos unidos, à vezes insaciáveis, aumentando as sensações num ritmo crescente dos eflúvios e do sangue, em direcção ao cume da vida, ponto de encontro único dos amantes que os deuses marcaram como o climax incontrolável do prazer.
Pergunto-me como demorei tantos anos a descobrir que a união perfeita é afinal bem mais simples do que parece.
Basta que saibamos dar a quem amamos o que temos para dar e receber em troca aquilo que nos faz falta.
Ela não prescinde do dióxido de carbono que expiro e eu estaria morto se não aspirasse o oxigénio e a energia quimica que aquela lindissima planta me dá através da clorofila e da fotossíntese.Rui Felicio
Enfim o que te posso dizer? Para já digo achei o texto muito imaginativo e com muita piada.
ResponderEliminarContinua na antecâmara da loucura pois a escrita sai mais sã e surrealista...
Felicidades para esta União Perfeita!
Receio que antecâmara se abra descontroladamente, Olinda, deixando a loucura correr à rédea solta. Já estive mais longe...
EliminarPor mim,até podes ir da antecâmara para a câmara.
EliminarNão vás é para a cama com ela de dia!… Ela mata-te!
ResponderEliminarTenho a casa na penumbra, à cautela...
EliminarMais um excelente texto à Rui Felício!
ResponderEliminarNão calculava que iria terminar numa de clorofila e fotossíntese!
Mas o que escreves nos penúltimos parágrafos merece uma profunda reflexão!!!
As plantas também dão flôres. É um gosto ler textos do Rui Felício.
ResponderEliminarHoje, há um sol pálido que não aquece a temperatura fria que faz lá fora. Um inverno que balança entre o chuvoso e uma ameaça de primavera. Por este rincão, as gentes andam cabisbaixas e eu deixo-me levar nesta onda de marasmo pessimista. Mas, qual exercício de magia, chego aqui de manhã e encontro uma janela com reflexos de arte, da amiga Romicas. E um texto bem concebido, como sempre, do nosso amigo Rui Felício. O Felício tem a arte de aprisionar o leitor ao correr das linhas, numa prosa a roçar aqui e ali, em pormenores de uma beleza literária que nos faz subir o ego em tempo de nostalgia. O final da estória, é de um refinado bom gosto. Tratava-se de uma planta, nesta simbiose de amizade e de calor que são apanágio dos textos do advogado de Coimbra em terras da Ericeira - Rui Felício.
ResponderEliminarUm abraço, Rui
Rui, para ser franca, preferia uma desunião!
ResponderEliminarAgora ler o que tão bem escreves é sempre um prazer.
Isto é mesmo de Eriçar a pele dum individuo como eu!!!!Rui!Imagino-te ai numa esplanada , frente à Praia, a escreveres isto!Com mar bastante agitado para baralhar mais o cerebro!
ResponderEliminarQuito!Aqui tà uma tarde porreira, cheia de sol e céu azul.A malta nunca esteve tao optimista.Com um FRANCOIS engatatao e outro FRANCOIS, esta semana na capa da revista americana ROLLING STONE, que mais se pede? Dinheiro?Hà por aqui aos molhos!Mulheres?Salve-se quem puder!!