...um livro branco de memórias ...
É sempre assim, no clamor do Verão. Vou desfolhando as páginas
de um livro de memórias, e só encontro folhas velhas e ressequidas em branco. Até o vento quente que
sussurra, ao de leve, pelos campos de eucaliptais, parece cúmplice e par deste
manto de solidão. É um tango mortal, que se arrasta pelas planícies e
montanhas. Lá ao longe, uma coluna de fumo negro, é presságio de desgraça. Não
há salvação possível, e as árvores, quais Jeanne d’Arc, morrem de pé, no holocausto das
mãos criminosas e incendiárias. Por entre a cortina densa de calor, a aldeia do
Padrão, que daqui avisto, com o seu casario branco, parece sucumbir neste
braseiro. A tarde, inclemente, passeia pachorrentamente o Sol pela Abóbada –
Celeste, por horas sem fim. E quando, finalmente, o astro – rei desaparece por
detrás da Serra do Lobo, a planície fica adormecida e exangue, como animal
ferido, prostrado na campina. Estranhamente, agora que o clarão avassalador vai
empalidecendo com o aproximar da noite, tudo parece ainda mais calmo. E neste
palco de tragédia, apenas se avistam, ao longe, as luzes minúsculas das
povoações adormecidas no Tempo, enquanto as silhuetas dos eucaliptos e pinheiros,
oferecem imagens fantasmagóricas e sinistras. Dançam ao ritmo brando da aragem,
como marionetas manuseadas por mão invisível que lhes dá vida. Amanhã, a
nascente, pressente-se o recomeçar dos tormentos. Mais uma página branca deste
livro negro, se abrirá. É o diário de Satanás.
Quito Pereira
É terrível! Gastam-se centenas de milhares de Euros todos os anos para apagar o mal, e não se gasta um cêntimo em prevenção!...
ResponderEliminarE a Zona de Castelo Branco foi das mais fustigadas este ano pelos sinistros fogos!
ResponderEliminarE quase todos são fogos postos, seja por pessoas com problemas psiquicos, seja por vingança e até alguns por desespero de desemprego!
É uma realidade que todos os anos se nos depara e para a qual nunca estamos devidamente preparados.
Mas o abandono do mundo rural tem a sua quota parte(e grande) nesta tragédia anual!
Nota: daqui a pouco vamos até Cepões e Lamego à Senhora dos Remédios com os nossos amigos da Tuna Meliches e...o meu lavacolhos!
Até domingo!
Cada vez são mais e melhores os meios de combate aos incêndios.
ResponderEliminarMas cada ano que passa, maiores e mais devastadores são os incêndios.
Muitas são as causas,desde pirómanos, desertificação humana rural, desleixos,interesses de madeireiros inescrupulosos, interesses urbanisticos ocultos, e poucos, muito poucos, por razões acidentais imprevisiveis...
Digo o mesmo que diz o Alfredo.
Mas acrescento que não consigo entender como ano após ano não se castiguem os causadores dos incêndios, porque muitos haverá que estão identificados.
Será que a democracia fomenta os pirómanos?
ResponderEliminarVivi e passei muito tempo em aldeias tanto na da minha mãe
como na do meu pai, não havia electricidade.
Tudo se fazia com o fogo.
Eram candeias de azeite ou mais tarde o petróleo,penso que havia
muitos pouco incêndios.
Princípios das pessoas,a educação o respeito pelos outros?
Não percebo nada do que se passa.
Tonito.
ResponderEliminarHá uns três dias que por aqui não me passeava. Por motivos...
Curiosamente, uma das primeiras coisas que vi foi a foto do Tonito que eu classifiquei como um grito de revolta.
Curiosamente, no tema do Quito, que lhe serve de base para mais um belo texto, temos aqui mais um enorme grito de revolta.
Associo-me a esse grito, limitando-me a dizer que das razões do crime pouco mais há a dizer depois dos comentários do Alfredo, do Rafael, do Felício e do próprio Tonito.
Para todos o meu abraço.