Tenho, para mim, que um blog não é apenas um espaço lúdico,
onde nos rimos com umas paródias, apresentamos fotografias ou, também, damos
azo ao nosso amadorismo da escrita. Um blog, é também um espaço de opinião e
eu, face à tragédia no IC 8, que nos levou onze compatriotas, não me posso
calar. Venho aqui desabafar convosco.
Ontem, cerca das quinze horas, passei no local da tragédia.
Por lá continuam muitas autoridades, na tentativa de tentar decifrar um
mistério que não é mistério nenhum. Naturalmente, que tem que haver
investigações. Seria, provavelmente mais cómodo, atacar o elo mais fraco – o
motorista. Porém, parece que houve o decoro de já se afastar essa hipótese. Mas
continuam os inquéritos, com alguns senhores de Lisboa, bem engravatados e ar
intelectual, a ditar sentenças sobre um acidente na Sertã, local que sabem
vagamente onde fica.
Mas aqueles que, como eu, ali passam oito vezes por mês, percebem o acidente. Uma lomba no alcatrão - um degrau, direi - é um obstáculo para quem não conhece. O carro dá um enorme solavanco, pelo que antes de ali chegar, é necessário abrandar muito a marcha, para não se danificar a suspensão do automóvel. Com uma camioneta pesando toneladas, tripulada por um homem que não conhecia a ratoeira e o piso escorregadio, estava montado o cenário para o que aconteceu.
Todas as vezes que pego no volante e me dirijo àquela
estrada, tenho consciência que estou a jogar a vida. Sobretudo nos 56
quilómetros entre Avelar e Proença – a – Nova. Há sempre um qualquer obstáculo
com que não contamos, como, por exemplo, semáforos móveis à saída das curvas o
que levou, há tempos, um enorme camião ficar com a galera “torcida” na estrada
para não me esmagar e me deixar “entalado” contra o carro da frente, quando aguardávamos
a passagem a sinal verde.
A zona da Sertã é para esquecer. Pavimentos com desnível no alcatrão, com cerca de dois centímetros, que, há tempos, fez disparar o “airbag” do carro de uma amiga minha, que levou com ele na cara, consequente despiste e perda de sentidos. Será normal, num troço do IC 8, seis acidentes no mesmo sítio, no espaço de apenas uma semana?
Pelo que leio, os verdadeiros responsáveis tentam sacudir a
água do capote. E nós, os utentes daquele itinerário continuaremos a brincar com o
Destino. Sempre à espera que a estrada da morte, possa pôr um ponto final nas
nossas vidas. E não julguem que estou a dramatizar. São já muitas, mesmo
muitas, as vítimas do IC 8.
Embora não os conhecendo, não posso deixar de dar um abraço
solidário a todos quantos sofreram a separação dos seus familiares falecidos.
Quito Pereira
Quando mostraram na televisão o autêntico degrau de alcatrão que lá está, só me admira como não morre lá mais gente.
ResponderEliminarQuem deixou aquilo assim fica impune?
Espero bem que não!
EliminarEu também espero que não, Olinda mas a empresa concessionária da estrada já veio dizer que não se sente responsável pelo que ali aconteceu, mais uma vez em Portugal a culpa vai morrer solteira.
ResponderEliminarSó fiz aquela estrada 2 vezes e pareceu-me de facto pouco confiável...
ResponderEliminarO que pergunta o Paulo Moura "Quem deixou aquilo assim fica impune?" ..... aqui em cima durante anos esteve uma placa a dizer "Estrada em mau estado".... demorou anos a arranjar e pergunto eu, quem mmandou lá meter a placa em vez de a arranjar logo não devia ser preso??'
A questão é simples, os políticos não são responsabilizados pela merda que fazem, e quando andam na estrada com os seus carros que só conseguem ter porque são os Portugueses que os pagam, quem lhes paga o arranjo dos carros somos nós, está explicado.
O Rui Felício ainda não apareceu por aqui, mas ele poderá dizer-vos que eu não andarei muito longe da verdade de disser que vamos assistir a uma longa batalha jurídica, uma vez que a Ascendi, recusa qualquer tipo de responsabilidade no acidente.
ResponderEliminarEu, com o utente regular do IC 8, pela deficiente ou inexistente sinalização bem visível de obstáculos, acho que a tem toda ...
A estrada das mortes, diria eu associada à tua justificada indignação.
ResponderEliminarLogo que vimos no Samambaia as imagens do acidente ouvi a São comentar contigo que já esperavam uma situação de tragédia e descreveram exatamente o local.
Só os responsáveis não veem!
Sentimo-nos impotentes e revoltados.
ResponderEliminarDiz-nos o Quito que vem aqui desabafar convosco. É verdade mas não se trata de um simples desabafo. Muito mais do que isso, trata-se de um grito de revolta. mais do que justificado.
Quem conhece os problemas "no terreno" não tem poder de decisão, quem tem poder de decisão não sai do seu gabinete para os conhecer.
E as tragédias vão acontecendo...
Abraço, Quito.
Muita revolta,Carlos...
EliminarNegligência,insensibilidade,desrespeito e é um desaforo.Ter poder sem consciente sentido das funções reais só "outro carro" passar-lhes por cima.Mais nada...Justiça, a dos tribunais é só para rir!
Um abraço a todos.
É mesmo um grito de revolta, do Quito, e nós estamos com ele.Neste País,acontece tudo, até as coisas mais desgraçadas e ninguém é culpado quando se fazem asneiras. Nós não poderemos fazer nada, a não ser divulgar o texto do Quito, para que as entidades tomem consciência das "bestas" e "cavalgaduras" que deixam o piso naquele estado! Portugal (e não só) está a degradar-se a olhoa vistos, para nossa infelicidade,porque já não temos idade para emigrar.
ResponderEliminarPelo que sei (li) o dono da estrada diz que estava tudo devidamente sinalizado.
ResponderEliminarMais uma que ninguém vai resolver.
Dia errado, hora, sitio,o costume de quem nasceu,no quintal.
Concordo que o texto do Quito seja divulgado o mais possivel pois, embora não passe por esta estrada, tenho ouvido muitas queixas de quem a usa pelo mau estado do piso e pelas ratoeiras que tem.
ResponderEliminarE a Ascendi , como é mais um negócio de PPP ou semelhante, ri-se dos motoristas e fica impune. Pobre pais!
Ló
Para: Grupo Parlamentar do Partido do Bloco de Esquerda
ResponderEliminarÂmbito: Sugestão
Nome: Fernando de Oliveira Rafael
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http://encontrogeracoesbnm.blogspot.pt/
Para: Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português
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Nome: Fernando de Iliveira Rafael
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Para: Grupo Parlamentar do Partido Popular
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Nome: Fernando de Oliveira Rafael
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Para: Grupo Parlamentar do Partido Socialista
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Para: Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata
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Correcto!
EliminarE mais as populações da àrea e da residência das vítimas não podem parar e nós também não! Solidariedade e cidadania,VÁ.
Também estou de acordo com o texto e o grito do Quito e solidário com as vítimas, algumas das quais conhecia e conheço.
ResponderEliminarTambém sou utente dessa estrada. Nas partes em que há obras é uma vergonha, é espantoso como é que há homens que, ao fim do dia, vão para casa e deixam a estrada naqueles termos, num enorme desleixo, numa confiante irresponsabilidade.
Os senhores que não saem dos gabinetes, vêm à rua nas alturas das eleições e, então, distribuem apertos de mão (e até abraços!), beijinhos nas Senhoras e sorrisos de plástico. E, pelo que mostra a TV, o pagode gosta, são espectáculos com algum movimento, cor e alegria. Já vivemos nisto há um ror de anos: ora agora viro eu, ora agora viras tu, tu e eu e mais ninguém e fica tudo bem.
A nossa democracia funciona nas rádios e nas TVs, naqueles programas, às vezes de duas horas, em que o povo todo telefona para lá e dá as suas opiniões. É uma riqueza!
Portanto, por este lado, estamos conversados.
Pelo lado dos tribunais (considerando que, em muitíssimos casos, o Estado e as Autarquias poderiam mesmo ser condenadas): 1º) é necessário ter bastante dinheiro para suportar as elevadas custas actualmente em vigor; 2º) é necessário ter uma enorme paciência para conviver com a ansiedade durante anos; 3º) é necessário ter bastante dinheiro para arranjar bons e prestigiados peritos que nos escrevam aquilo que nos dizem em surdina.
Ou seja, vamos dar ao mesmo: era necessário meter os senhores na rua e só os deixar entrar nos gabinetes nas alturas das eleições.
Rui Barreiros.
Quanta razão Rui tens!
ResponderEliminarAcompanho-te totalmente na tua visão deste panorama que nos impingem...
Abraço.
Será que os grupos parlamentares e Estradas de Portugal se vão dar ao trabalho de ter alguma curiosidade, passando aqui pelo blog?
EliminarFica a intensão destes alertas.
Cumpri a minha parte!
Na tragédia de Entre-os-Rios houve uma consequência política, coisa que neste caso não aconteceu ainda e que me parece não virá a acontecer, em virtude da progressiva degradação que tem vindo a verificar-se da ética e do sentido de responsabilidade dos políticos.
ResponderEliminarA responsabilização politica é o mínimo que se poderia exigir neste momento e deveria ser imediata, mas nada sucedeu!
Ao contrário, o que se vê são apressadas declarações de inocência ou um ensurdecedor silêncio por parte daqueles que tutelam ou administram as vias de comunicação do País e a sua manutenção, que deviam já ter extraído consequências politicas da tragédia do IC8.
A responsabilização civil é mais demorada, excessivamente demorada refira-se, e normalmente absorve e dilui a inimputabilidade dos políticos e/ou administradores de empresas públicas normalmente associados aos políticos por razões de clientelismo partidário.
Uma coisa é certa, a morte de cidadãos, por causas de desleixo inqualificável como este parece ter sido, é sempre uma perda irreparável e que deveria ser punida de forma exemplar, do ponto de vista politico e/ou dos pontos de vista civil e/ou criminal.
Infelizmente, o recurso aos tribunais é muitas vezes abandonado por razões financeiras ou de descrédito na sua celeridade.
O nosso amigo Rui Barreiros, utente do IC 8 tal como eu, sabe muito bem do que fala. E pôs o dedo na ferida. O DESLEIXO, com que se abandonam as obras no final do dia, sem deixar devidamente assinalados, de forma bem visível, os obstáculos, é quase criminoso. E só não digo criminoso, porque o não fazem com dolo. É pura irresponsabilidade. Mas isto tem que ser dito.
ResponderEliminarFoi assim, que a minha amiga Célia teve um grave acidente. Puserem alcatrão até determinado sítio e depois foram embora. O acidente deu-se cerca da meia noite, em que era escuro como breu e o carro bateu contra o socalco pois ela ia desprevenida porque nada a alertava para o perigo existente.
É claro que obras trazem sempre transtornos. A estrada precisa de melhoramentos ? Precisa. Mas é necessário uma total responsabilidade no que se anda a fazer, por forma a evitar estas tragédias. A sinalização é insuficiente e muitas vezes nem existe .
Ao Rui Barreiros, agradeço o seu testemunho, muito importante, dado que o Rui, tal como eu, é utente desta via. Obrigado, Rui.