(foto São Vaz)
De novo o centro da Europa, na rota do Choral Poliphónico de Coimbra. Eram pouco mais das quatro horas da manhã de uma noite fria, quando a velha cidade ficou para trás.
Eles, os coralistas e seus acompanhantes, lá seguiam em
animada conversa, enquanto a camioneta deslizava na autoestrada escura rumo a
Lisboa. Depois o aeroporto e uma babilónia de gente cruzando destinos.
Não foi pacífica a chegada junto da porta de embarque nº 20,
onde o A 32O com as cores de Portugal nos aguardava. O 11 de Setembro deixou as
suas marcas e o fantasma da segurança é levado muito a sério. Tirar botas,
tirar cintos das calças, pulseiras, relógios, num expediente a que o viajante
já se habituou.
Depois partir, usufruindo de um serviço de bordo que incluiu
almoço, que honra a nossa companhia aérea. Nós, os portugueses, gostamos de dizer
mal de tudo o que é nosso. Talvez não nos fique mal um pouco de autoestima.
O aeroporto de Praga, nos arredores da cidade, é grande e
funcional. Não foi difícil partir em direção ao hotel que acolheu o grupo. Pela
janela do autocarro, fui observando as casas tipo “caixote”, de épocas
recuadas.
Três andares no máximo e muito bem conservadas. À medida que nos aproximávamos do centro da cidade, o trânsito engrossava. Extensas filas de carros parados, buzinadelas e um anoitecer precoce. Às dezasseis horas e trinta minutos, é já noite escura.
Praga é uma cidade de contrastes. Uma zona central e
turística povoada de milhares de veraneantes, que convivem pacificamente passeando
pelas lindas praças com belos e austeros monumentos, em contraponto com as
zonas de trânsito fervilhante, onde os carros circulam a grande velocidade.
Doze segundos, apenas doze segundos, é o tempo que um peão tem para atravessar
uma passadeira. Depois recomeça o carrossel.
Dizer, porque salta à vista, que o parque automóvel é todo
ele recente. Poucos ou nenhuns carros velhos se observam e cerca de metade da
frota é de gama alta ou média alta. Abundam os Audis e os BMW. Também Porches e
mesmo Ferraris.
Há, contudo, a outra face da moeda. Nas zonas turísticas,
pululam os indigentes. São imensos e o mais preocupante, é que não pedem
dinheiro. Pedem comida e vasculham os caixotes do lixo, na esperança de
apanharem os desperdícios dos estrangeiros. Porém, nada desta chaga social
parece preocupar os checos. Olham-nos com indiferença.
Afinal, a mesma indiferença com que convivem com o forasteiro.
Mas são profissionais sempre que solicitados. Por duas vezes necessitei do
apoio deles, quando me vi sozinho na noite de Praga, porque me perdi na Ponte
Carlos do resto do grupo coralista, no meio de uma floresta de centenas de
veraneantes, e foram solícitos em resolver o meu problema. A velocidade
vertiginosa me passeei de taxi pela noite dos desencontros, na procura do meu
porto de abrigo. Tudo está bem, quando acaba bem.
Neste pequeno incidente, posso confessar que em nenhum momento
me senti inseguro. As ruas estão vigiadas por muita polícia que, de uma forma
discreta mas atenta, vai seguindo os movimentos dos turistas. A cidade, posso
afirmá-lo, dá garantias de segurança, seja de dia ou de noite.
A urbe é monumental e deslumbrante. Certamente aprazível para
se viver. Nas belas avenidas, são muitas as pastelarias e lojas de todos os
tipos de artigos para as todas as bolsas. Porém, não se pode dizer que seja uma
cidade barata, embora se procurarmos, possa haver preços apetecíveis.
Fica a vontade de voltar e rever as fachadas fantástica dos
prédios disseminados pela cidade e a beleza estrondosa e esmagadora dos
palácios da zona do Castelo. Embora, repito, o povo seja pouco ou nada
caloroso. Há uma certa indiferença reinante e, ao que me disseram, até uma
certa aversão aos milhares de estrangeiros – sim, milhares - que invadem as
ruas e praças da cidade, onde a parte asiática parece ser fatia de leão.
Magnífica, foi a prestação do Choral Poliphónico de Coimbra.
O lema, foi logo dito alto e bom som pelo maestro: “ vamos para cantar num país
estrangeiro e essa é a nossa missão. O turismo fica para segundo plano”.
Todos interiorizaram esse facto e a atuação do grupo, por
duas vezes, foi um êxito reconhecido pelos promotores do evento, que no fim
saudaram entusiasticamente o grupo de Coimbra que, num pequeno apontamento, era
o mais extenso em número de coralistas. Mais doze grupos atuaram, oriundos de
outros pontos da Europa, como por exemplo, suiços, irlandeses, suecos,
espanhóis, holandeses entre outros.
Calorosos somos nós, os portugueses. O Comandante da TAP José
Durão, da porta do “cockpit” da aeronave, olhava e cumprimentava os passageiros
que entravam no avião de regresso ao nosso rincão lusitano.
Perguntei-lhe se sabia os resultados dos jogos de futebol em Portugal. Disse-me então: “ O Benfica ganhou e o Porto empatou”. Tinhamos interesse em saber o resultado da Académica – disse a minha companheira de viagem, ao que ele retorquiu que não sabia.
Na chegada a Lisboa, de novo o Comandante se despediu dos passageiros da porta da cabina de pilotagem. Despedi-me dele e a São Vaz fez questão de lhe oferecer uma lapiseira personalizada do Choral Poliphónco de Coimbra.
Seguimos então a caminho da “manga” de saída e ele chamou-me. Parei e olhei para trás intrigado. Foi então que me disse com um sorriso afetuoso: “ olhe … a sua Académica só joga amanhã”.
Era o calor de voltar à pátria. Como é bom ser português …
Quito Pereira
E como é bom ler a tua cuidada discriçaõ da viagens. Poe acaso já estive em Praga, mas fiquei a conhecer melhor pelos pormenores que referes e pela tua, sempre, bela escrita. A fotografa também está de parabéns. Abraço aos dois
ResponderEliminarQuero dizer, "descrição" e "Por"
ResponderEliminarQue rica viagem....O relato faz-nos "viver" os momentos pelos quais passaram dado o teu realismo a descrevê-los.
ResponderEliminarTambém gostei de Praga.
Agora boa viagem lá para cima, Trás-dos-Montes,outra maravilhosa realidade portuguesa.
Tá lá tudo!!!Lá "no texto"!
ResponderEliminarFoi mais uma viagem em que nada, mesmo nada te escapou!
Foi como se eu também tivesse ido e...voltado.E perdido!
Andaste , melhor andaram à solta porque o que o maestro disse:“ vamos para cantar num país estrangeiro e essa é a nossa missão. O turismo fica para segundo plano”.não se aplicava a vocemecês!
Correu tudo bem e quando assim é: Missão cumprida!
Quito
ResponderEliminarNão me chames oportunista mas fazer esta viagem ao teu lado foi excelente. Nem me esqueço do momento que a São nos chamou a atenção para um maravilhoso relógio quando íamos a passar. Obrigado por partilharem estes momentos connosco.
E no sábado passado, saiu na secção «Fala o leitor» do Diário de Coimbra o texto do Quito sobre o Choral Poliphonico em Praga.
ResponderEliminarGostei de reler ali... em papel...
Tinha uma viagem marcada para Praga no fim do ano!
ResponderEliminarDESMARQUEI.....para quê,se vocês já me contaram tudo!!!???
Deliciosa descrição.....beijinhos para os dois!
Agora, com umas fotos da São, já não preciso de ir a Praga e se alguém me perguntar se já lá fui, digo logo que sim, que fui com o Quito!
ResponderEliminarCoisa linda.
ResponderEliminarRevi na tua descrição a minha visita a Praga!
ResponderEliminarQuando referes os mendigos, estendidos no chão, lembro-me da sensação que senti, eu, que tinha acabado de jantar um delicioso jantar, com uma ementa de um pato confecionado de forma divinal.
O pato até se revoltou no meu estômago...
Mas Praga é mesmo linda!
Pouco tenho para acrescentar 'aquilo que ja foi dito por alguns dos comentaristas, com os quais concordo em absoluto, no que respeita ao perfeito descritivo da narrativa que nos faz imaginar que nos proprios fomos viajantes e companheiros do Quito.
ResponderEliminarRedescobrindo esta bela cidade, mesmo quem ja a conhecia...
Nao resisto a evocar. a famosa defenestraçao de Praga, estabelecendo um paralelismo esperançoso com algo que, ainda que metaforicamente, deveria acontecer em Portugal agora, hoje, ja' !
A tua descrição bate certo com o que me tinha contado o Carlos. Sobretudo na parte da frota automóvel. Se bem me lembro foram duas horas de fotos de "maquinaria pesada" :)
ResponderEliminarBjo grande