SE O JARDIM DOS PATOS FALASSE…
Portão principal do Jardim Botânico, em
Coimbra,
Considerado, no género, um dos
melhores do mundo, com a estátua do cientista BROTERO, logo à entrada, servindo
de estático guardião e ostentando a “Borla e Capelo”, Insígnias de catedrático
da conimbriga universidade .
Mesmo em frente desse portão, do
outro lado da avenida, situa-se, desde há muitos anos, um alombado recinto
ajardinado, não muito vasto, no meio do qual existe um ovalado lago, embelezado
de nenúfares, peixinhos vermelhos e alguns palmípedes que, de pescoço erguido,
grasnam de quando em vez, cuja permanência acabou por, popularmente,
identificar o local como o JARDIM DOS PATOS.
Intermediando os floridos canteiros,
meia dúzia de bancos normalmente utilizados, ao cair daa tardes, por parzinhos
amorosos rendendo-se às tentações afrodisíacas da deusa Vénus.
Se, de dia, tal sítio já era (e
é) pouquíssimo frequentado, de noite, então, devido à sua localização e com
poucos candeeiros de frouxa luz, transformava-se em lugar ermo e sem viva alma,
ainda por cima nele não existindo qualquer guarda nocturno ou polícia de giro,
que garantissem o mínimo de segura vigilância. Enfim apenas os sonolentos
palmípedes na sua casota e os adormecidos peixinhos vermelhos entre os
nenúfares, como seres vivos, a partir do cerrado das noites. Tudo silêncio,
escuridão e desértico.
Ora, tão singular panorama era
perfeitamente propícia a certas irreverências da parte de estudantes mais
atrevidos que, principalmente, nos fins do mês, já com a “mesada” consumida
noutras desregradas deambulações, e aguardando que os seus paternos lhes
remetessem a próxima, estavam desprovidos do “metal sonante” que lhes garantisse
uma refeição mais opípera e bem regada por deus Baco. E vai daí…
As vítimas eram os inocentes e incautos
patos do citado jardim, que depois de planeados “raptos”, se transformavam,
depois, em lautos banquetes, para consolo estomacal dos intrusos e incógnitos
“raptores”.
E, por mais que a edilidade teimasse em
substituir os patos clandestinamente surripiados, o certo é que, de quando em
vez, o ovalado lago ficava novamente, desprovido de palmípedes. Era, para eles,
fatal tal destino.
A pática dessas periódicas
irreverências era já tão calculista e calmamente realizada, que certa vez, o
grupo de “raptores” deixou afixado na casota dos “sequestrados” palmípedes, o
seguinte verso pé-quebrado:
«Ó patos, tristes e abandonados,
Neste recinto de tanta solidão!
Vinde a nós, tesos, esfomeados
E esperando por uma boa refeição!»
Nunca houve, nem há ainda, testemunhas
oculares que, em flagrante delito, tivessem assistido às intencionais incursões
nocturnas dos “raptores patorricidas”:
Apenas uma, o estático cientista
BROTERO, postado, mesmo em frente, no portão do Jardim Botânico, no seu
monumento para a posteridade. Mas, esse, mudo e quedo, sentado no cadeirão e de
“Borla e Capelo”, nunca sequer, às paredes o confessou, nem mesmo ainda hoje o
confessa.
E, por assim ser, resta absolver as
consciências dos “prevaricadores”, vivam eles onde vivam e a idade que hoje
tenham, e prestar “homenagem póstuma” aos patos sacrificados, que para sempre
ficaram perpetuados nas lendas e tradições da Coimbra académica, ainda relembradas
com saudade e emoção incontidas.
Muito bom!
ResponderEliminarÉ um livro de edição recente?
Está à venda numa das lojas que abriu recentemente na rua Ferreira Borges, dedicadas ao Turismo.
ResponderEliminarArtesanato e muita coisa sobre Coimbra.
Supohno que é no local da antiga sapataria Charles.Se não é nesse sítio é lá ao lado.
Tinha lá "carradas de chineses e japoneses"
Um mimo!
Já estou a ver. Comprei lá um lenço dos namorados para a nossa Maria Oliveira Rafael (acredita que é verdade) e a Luísa comprou uns sapatos em cortiça, bem giros.
EliminarÉ uma Edição de Dezembro de 2000.
ResponderEliminarObras do autor: Todas esgotadas:
Pontapés p´ró Ar 1951
Patrões Feudais - 1974
Meninos de Bibe e Calção -1992
A presente edição é um reavivar de recordações, em que, do meu espólio, transcrevo vários depoimentos sobre acontecimentos passados em COIMBRA. e na BRIOSA. Unas, bons, para servirem de exemplo futuro, outros, maus, que, pelas suas consequências negativas, não são de repetir..
Também neste livro relato, com fidelidade possivel, alguns dos pitorescos episódios que vivi, pessaolmente com o célebre e inesquecivel "estudante-boémio" PICA, muitos dos quais do desconhecimento geral.
Dedica o livro:
À FAMILIA
AOS AMIGOS
A COIMBRA
À BRIOSA
Um beijinho para D. Herculana, Nela Curado e Irmã
.
Poranto de quando em vez cá vai um episódio!
ResponderEliminarÉ mesmo essa.Tem muitos produtos de cortiça.
ResponderEliminarLá vou ter que comprar o livro do meu vizinho Curado. A menos que tu me faças esse favor, que depois dou-te a "massa" em dez suaves prestações ....
ResponderEliminarOK.Quando deambular-(como idoso)- pela Baixa, COMPRO!
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