terça-feira, 15 de outubro de 2013

ENCONTRO COM A ARTE






















SE O JARDIM DOS PATOS FALASSE…

        Portão principal do Jardim Botânico, em Coimbra,
Considerado, no género, um dos melhores do mundo, com a estátua do cientista BROTERO, logo à entrada, servindo de estático guardião e ostentando a “Borla e Capelo”, Insígnias de catedrático da conimbriga universidade .
Mesmo em frente desse portão, do outro lado da avenida, situa-se, desde há muitos anos, um alombado recinto ajardinado, não muito vasto, no meio do qual existe um ovalado lago, embelezado de nenúfares, peixinhos vermelhos e alguns palmípedes que, de pescoço erguido, grasnam de quando em vez, cuja permanência acabou por, popularmente, identificar o local como o JARDIM DOS PATOS.
        Intermediando os floridos canteiros, meia dúzia de bancos normalmente utilizados, ao cair daa tardes, por parzinhos amorosos rendendo-se às tentações afrodisíacas da deusa Vénus.
        Se, de dia, tal sítio já era (e é) pouquíssimo frequentado, de noite, então, devido à sua localização e com poucos candeeiros de frouxa luz, transformava-se em lugar ermo e sem viva alma, ainda por cima nele não existindo qualquer guarda nocturno ou polícia de giro, que garantissem o mínimo de segura vigilância. Enfim apenas os sonolentos palmípedes na sua casota e os adormecidos peixinhos vermelhos entre os nenúfares, como seres vivos, a partir do cerrado das noites. Tudo silêncio, escuridão e desértico.
        Ora, tão singular panorama era perfeitamente propícia a certas irreverências da parte de estudantes mais atrevidos que, principalmente, nos fins do mês, já com a “mesada” consumida noutras desregradas deambulações, e aguardando que os seus paternos lhes remetessem a próxima, estavam desprovidos do “metal sonante” que lhes garantisse uma refeição mais opípera e bem regada por deus Baco. E vai daí…
        As vítimas eram os inocentes e incautos patos do citado jardim, que depois de planeados “raptos”, se transformavam, depois, em lautos banquetes, para consolo estomacal dos intrusos e incógnitos “raptores”.
        E, por mais que a edilidade teimasse em substituir os patos clandestinamente surripiados, o certo é que, de quando em vez, o ovalado lago ficava novamente, desprovido de palmípedes. Era, para eles, fatal tal destino.
        A pática dessas periódicas irreverências era já tão calculista e calmamente realizada, que certa vez, o grupo de “raptores” deixou afixado na casota dos “sequestrados” palmípedes, o seguinte verso pé-quebrado:
        «Ó patos, tristes e abandonados,
        Neste recinto de tanta solidão!
        Vinde a nós, tesos, esfomeados
        E esperando por uma boa refeição!»
        Nunca houve, nem há ainda, testemunhas oculares que, em flagrante delito, tivessem assistido às intencionais incursões nocturnas dos “raptores  patorricidas”:
        Apenas uma, o estático cientista BROTERO, postado, mesmo em frente, no portão do Jardim Botânico, no seu monumento para a posteridade. Mas, esse, mudo e quedo, sentado no cadeirão e de “Borla e Capelo”, nunca sequer, às paredes o confessou, nem mesmo ainda hoje o confessa.

        E, por assim ser, resta absolver as consciências dos “prevaricadores”, vivam eles onde vivam e a idade que hoje tenham, e prestar “homenagem póstuma” aos patos sacrificados, que para sempre ficaram perpetuados nas lendas e tradições da Coimbra académica, ainda relembradas com saudade e emoção incontidas.


8 comentários:

  1. Muito bom!
    É um livro de edição recente?

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  2. Está à venda numa das lojas que abriu recentemente na rua Ferreira Borges, dedicadas ao Turismo.
    Artesanato e muita coisa sobre Coimbra.
    Supohno que é no local da antiga sapataria Charles.Se não é nesse sítio é lá ao lado.
    Tinha lá "carradas de chineses e japoneses"
    Um mimo!

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    1. Já estou a ver. Comprei lá um lenço dos namorados para a nossa Maria Oliveira Rafael (acredita que é verdade) e a Luísa comprou uns sapatos em cortiça, bem giros.

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  3. É uma Edição de Dezembro de 2000.
    Obras do autor: Todas esgotadas:
    Pontapés p´ró Ar 1951
    Patrões Feudais - 1974
    Meninos de Bibe e Calção -1992

    A presente edição é um reavivar de recordações, em que, do meu espólio, transcrevo vários depoimentos sobre acontecimentos passados em COIMBRA. e na BRIOSA. Unas, bons, para servirem de exemplo futuro, outros, maus, que, pelas suas consequências negativas, não são de repetir..
    Também neste livro relato, com fidelidade possivel, alguns dos pitorescos episódios que vivi, pessaolmente com o célebre e inesquecivel "estudante-boémio" PICA, muitos dos quais do desconhecimento geral.
    Dedica o livro:
    À FAMILIA
    AOS AMIGOS
    A COIMBRA
    À BRIOSA

    Um beijinho para D. Herculana, Nela Curado e Irmã

    .

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  4. Poranto de quando em vez cá vai um episódio!

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  5. Lá vou ter que comprar o livro do meu vizinho Curado. A menos que tu me faças esse favor, que depois dou-te a "massa" em dez suaves prestações ....

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  6. OK.Quando deambular-(como idoso)- pela Baixa, COMPRO!

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