-----------------
“Os homens e os vasos de barro conhecem-se de forma idêntica: os vasos, quando tocados, produzem sons diferentes consoante a sua textura e tamanho, os homens distinguem-se uns dos outros pelo seu modo de se exprimirem”.
Platão afirmava isto quando ensinava aos discípulos a arte de conhecer os homens.
----------------
Nem sempre nos damos conta do quanto nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. No seu encadeado, elas são a expressão do nosso pensamento, ainda que, quando falamos ou quando escrevemos, tencionemos não denunciar o que pensamos.
Quantas vezes, ao conversar com amigos ou ao escrever no Facebook ou no blog, apenas pretendo transmitir factos ou recordar episódios, as mais das vezes, tentando resguardar o meu pensamento ou a minha opinião sobre eles.
Muitos dos textos do meu amigo e escritor Quito Pereira, por exemplo, não contêm nenhuma referência explícita ao seu pensamento, mas o estilo que lhes imprime, as palavras escolhidas para descrever pessoas, paisagens e lugares, são suficientes para que nós consigamos saber exactamente o que o autor está a sentir. Mesmo que não seja essa a sua vontade...
Porque a escolha das palavras que ele faz, nos permite aceder ao seu pensamento.
Quando ouvimos um outro meu amigo, o Tonito Dias, sentenciar ao seu estilo, alguma das suas filosóficas, sintéticas e profundas frases, raramente se nos suscitam dúvidas sobre o que ele está a pensar, mesmo que, aparentemente a frase no seu restrito contexto pareça querer significar algo diferente.
O Homem auto-identifica-se pela palavra, porque ela faz a síntese de toda a sua vivência, de todo o seu pensamento. Mesmo quando intencionalmente usa palavras que direccionem a atenção do ouvinte ou do leitor para o sentido oposto do seu pensamento, jamais conseguirá ocultar os seus sentimentos.
Por mais que se queira esconder ou resguardar, haverá sempre, nem que seja por uma única palavra, singela que seja, que o denuncia e nos abre a sua forma de sentir.
A palavra está intimamente ligada ao silêncio, talvez a forma mais sublime da expressão mental humana. Na verdade, quantas vezes a resposta com o silêncio a uma pergunta embaraçosa, se torna mais elucidativa que um extenso argumentário?
Vem tudo isto a propósito de, há dias, ter observado um entrevistado ficar ostensivamente em silêncio quando o jornalista lhe perguntou o que queria comentar acerca das crianças que diariamente morrem à fome no mundo.
O jornalista, perante o seu silêncio insistiu na pergunta e o entrevistado, enfadado, finalmente disse-lhe:
- Se estivesse atento, teria percebido que ficar calado foi a forma mais eloquente que encontrei de lhe dizer que a minha ou a sua opinião de pouco valem, porque a cada minuto, a cada frase que dizemos, uma nova criança morrerá de fome, perante a nossa indiferença e por causa da nossa inacção...
- Uma palavra mais pode ser uma palavra de mais.
Rui Felício
“Os homens e os vasos de barro conhecem-se de forma idêntica: os vasos, quando tocados, produzem sons diferentes consoante a sua textura e tamanho, os homens distinguem-se uns dos outros pelo seu modo de se exprimirem”.
Platão afirmava isto quando ensinava aos discípulos a arte de conhecer os homens.
----------------
Nem sempre nos damos conta do quanto nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. No seu encadeado, elas são a expressão do nosso pensamento, ainda que, quando falamos ou quando escrevemos, tencionemos não denunciar o que pensamos.
Quantas vezes, ao conversar com amigos ou ao escrever no Facebook ou no blog, apenas pretendo transmitir factos ou recordar episódios, as mais das vezes, tentando resguardar o meu pensamento ou a minha opinião sobre eles.
Muitos dos textos do meu amigo e escritor Quito Pereira, por exemplo, não contêm nenhuma referência explícita ao seu pensamento, mas o estilo que lhes imprime, as palavras escolhidas para descrever pessoas, paisagens e lugares, são suficientes para que nós consigamos saber exactamente o que o autor está a sentir. Mesmo que não seja essa a sua vontade...
Porque a escolha das palavras que ele faz, nos permite aceder ao seu pensamento.
Quando ouvimos um outro meu amigo, o Tonito Dias, sentenciar ao seu estilo, alguma das suas filosóficas, sintéticas e profundas frases, raramente se nos suscitam dúvidas sobre o que ele está a pensar, mesmo que, aparentemente a frase no seu restrito contexto pareça querer significar algo diferente.
O Homem auto-identifica-se pela palavra, porque ela faz a síntese de toda a sua vivência, de todo o seu pensamento. Mesmo quando intencionalmente usa palavras que direccionem a atenção do ouvinte ou do leitor para o sentido oposto do seu pensamento, jamais conseguirá ocultar os seus sentimentos.
Por mais que se queira esconder ou resguardar, haverá sempre, nem que seja por uma única palavra, singela que seja, que o denuncia e nos abre a sua forma de sentir.
A palavra está intimamente ligada ao silêncio, talvez a forma mais sublime da expressão mental humana. Na verdade, quantas vezes a resposta com o silêncio a uma pergunta embaraçosa, se torna mais elucidativa que um extenso argumentário?
Vem tudo isto a propósito de, há dias, ter observado um entrevistado ficar ostensivamente em silêncio quando o jornalista lhe perguntou o que queria comentar acerca das crianças que diariamente morrem à fome no mundo.
O jornalista, perante o seu silêncio insistiu na pergunta e o entrevistado, enfadado, finalmente disse-lhe:
- Se estivesse atento, teria percebido que ficar calado foi a forma mais eloquente que encontrei de lhe dizer que a minha ou a sua opinião de pouco valem, porque a cada minuto, a cada frase que dizemos, uma nova criança morrerá de fome, perante a nossa indiferença e por causa da nossa inacção...
- Uma palavra mais pode ser uma palavra de mais.
Rui Felício
Um texto profundo do Rui Felício. Habituado que está a olhar o mar da Ericeira, agora sem o espartilho de um relógio que lhe condicionava a vida, o advogado e escritor, que é também um pensador do quotidiano, faz uma reflexão e uma análise das palavras e do silêncio, que merece momentos alongados de meditação.
ResponderEliminar"A palavra está intimamente ligada ao silêncio, talvez a forma mais sublime de expressão mental humana".
Sublime, é este pensar que o nosso amigo Rui Felício partilha connosco. Talvez porque eu viva num mundo rodeado de silêncios, eu compreenda tão bem como o silêncio é, por vezes, tão inquietante. Mais que um rosário de palavras.
Aprendi aqui, atrás das montanhas, que uma rugas fundas, um olhar vazio sobre as brasas de uma lareira e um silêncio que fala, traduz muitas vezes - todas as vezes - décadas de martírios e de histórias onde a realidade, de tão sofrida, se confunde, não raras vezes, com ficção.
Fiquei a pensar neste texto, Rui. Apetece-me aplaudi-lo, com o silêncio das palavras ausentes.
Um abraço
Tem pano para mangas em termos de discussão este lindo e subjectivo texto....
ResponderEliminarPalavra e silêncio são dois preciosos meios de comunicar,implicando coerência,contexto e atitude.
Penso que ambos são extremamente importantes e traduzem o que se pretende dizer na hora e no momento.Agora o silêncio é atroz em termos de o suportar durante muito tempo.O diálogo não será tão eficiente e profícuo.Gosto de estar em silêncio em momentos de necessidade interior e íntima.Mas o silêncio não é de ouro como se diz...
Quito se tivesses comunicado através do silêncio como seria? Ès tão rico em palavras que ausentes não fariam sentido.No entanto,podias ter deixado o espaço vazio o mesmo que as tuas palavras ocupam.
E quando o silêncio "esconde" o que não se quer assumir através de palavras.Mais comum do que
se pensa...E as meias palavras??? Pior ainda.
Beijos para os amigos,Rui e Quito.
São, porventura, as palavras ausentes as que mais falam, minha amiga Olinda. É nas palavras ausentes, que mais me abraço à saudade ...
ResponderEliminarRetribuo o beijo
Por esta escrita com paragens,com as virgulas no sítio, o que acho de fino gosto,mais não tenho a dizer.
ResponderEliminarAinda tenho, Bons AMIGOS.
Um dia de cada vez com SAÚDE, o resto aparece com normalidade.
Um Abraço.
Tonito.
É um tema que dá muito que pensar e é merecedor dos bons comentários já publicados.
ResponderEliminarPouco tenho a acrescentar.
Mas sempre direi que muitas vezes mais vale o silêncio do que algumas palavras.
Sempre ouvi dizer que palavras leva-as o vento....
É para mim uma enorme satisfação ler os teus textos! Vou ficar em silêncio, porque não tenho o dom de escrever! As palavras não saem. Mas alcancei o sentido do que escreveste!
Um abraço!
Porque não estamos a ver-nos, tenho que escrever aqui que estou em silêncio e nada poderei "dizer" sobre este extraordinário texto do Rui Felício. Está lá tudo dito e é bom e bonito saber escrever com esta qualidade e eu sinto-me um privilegiado por ter acesso a esta escrita.
ResponderEliminar
ResponderEliminarTalvez um bom sujeito para exame de filo. ?
O mundo da comunicação ( do comportamento?) atravez da palavra e do silêncio é sem dùvidas, um universo sem fim.
Cà por mim, velho e feliz, vou aprendendo com o tempo, que todos aqueles que nada tem para dizer, o melhor é calarem-se.
Um abraço para vós
Carlos Falcão
Palavras sábias do nosso amigo Rui Felício, que até tiveram o condão de trazer à conversa o nosso filósofo Carlos Falcão!
ResponderEliminarTal como a música, também o discurso é feitos de sons e de silêncios e ambos transmitem o que vai na alma e no pensamento do autor.