segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O PRIMEIRO BEIJO

O primeiro beijo é um momento inesquecível da vida, diferente de todos os outros que a seguir se dão, por maior que seja a paixão com que se dêem.
É a descoberta de sensações muitas vezes imaginadas mas nunca antes experimentadas. É um salto no desconhecido, é um receio, é um impulso quase irracional, é um doce sabor que perdura no tempo.
Sucedeu no jardim da minha casa, já lá vão muitos anos, mas ainda o tenho presente como se tivesse sido hoje.
Foi ao fim do dia, com o sol a declinar por trás da casa em frente. Ela, ainda muito jovem, envolta por um finíssimo e aveludado vestido carmim que lhe delineava as formas perfeitas, abriu-se lentamente à aproximação da boca sedenta que a desejava, moveu o corpo insinuante, deixou-se acariciar e sentiu-se perdida na loucura do beijo que retribuiu com ardor e paixão.
Nunca mais foi a mesma. Insaciável, todos os dias ali ficava à espera da repetição daquele primeiro beijo.
Durante muito tempo, aquele zangão apaixonado aparecia diariamente para beijar a bela rosa púrpura do meu jardim, para saborear o seu néctar doce, para sentir a carícia das suas pétalas em volta do corpo…


Rui Felício

9 comentários:

  1. Mais um belíssimo poema,Rui.
    Até parece que sentimos.
    Obrigado.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Ó Rui, tu és um especialista em apicultura.
    Isto vai para o nosso blog porcalhoto, claro ;O)

    ResponderEliminar
  3. O que me preocupa nesta história é pensar que o Rui está no topa a ver o beijo do zangão...

    ResponderEliminar
  4. Os zangões já não são o que eram...as rosas essas sim de carnim sempre assim: com ardor insaciável!
    Que ternurento texto vindo de um zangão excepcional!...

    ResponderEliminar
  5. Eu estou a imaginar o Rui a espreitar à esquina com uma lata de Dum-Dum...

    ResponderEliminar
  6. E eu, mesmo aqui na vizinhança, nunca observei tamanha paixão!
    O Rui espreitava pelas persianas...

    ResponderEliminar
  7. Eu não me apercebi...mas não admira porque na altura ainda não morava por estas bandas!

    ResponderEliminar
  8. Na gíria do futebolêz, costuma dizer-se que um jogador está "num pico de forma". Aplica-se a ti, Rui. Estás em colisão permanente com a rota dos afectos. Isso, engrandece-te como Homem."...amor é fogo que arde sem se ver ..." diz o nosso Maior. Quantos de nós, nunca tiveram um amor antigo de que se recordam? Quantos de nós, nunca tiveram um desgosto de amor? Quem pensa que o amor Balzaquiano está desajustado aos dias de hoje, engana-se. O amor, mesmo que proibido, impossível e sofrido, é transversal aos séculos.Quantos encontros e desencontros de amor, entre homens e mulheres, continuaram a jorrar na Fonte dos Amores? Quantas paixões em surdina? Quantas?
    Na letra de uma canção sua, Rui Veloso fala no "primeiro beijo". Porque o primeiro beijo marca o Homem e a Mulher. São Memórias doces de tempos de infância ou de juventude. Por vezes, a própria ingenuídade dessa troca de afecto, mais enobrece o amor. O amor despido da vertente instintiva. Vivemos pela vida fora carregando essa nostalgia, como foi o teu caso, neste texto. E quem, ácidamente, te queira criticar, que te atire, atrevidamente, a primeira pedra ...
    Abraço
    Abraço

    ResponderEliminar
  9. Até de um zangão o Felício se serve para cantar um hino ao amor...

    ResponderEliminar