Castelo Branco
São retalhos de vida, que se perdem na bruma dos tempos. Memórias que ficam, descritas em livro, por aqueles que já partiram e deixaram o seu testemunho de uma existência agreste. Porém, nas páginas pardas, alguns resquícios de felicidade de uma infância simples, rodeada de tudo o que a Natureza podia oferecer. Os banhos, desnudados, nas águas cristalinas da ribeira. O correr pelos campos como uma lebre. O comer a maçã de uma árvore, sem a vigilância de um dedo acusador.
Mas havia a escola. E ali, naquele lugar, o professor era austero. Mas amigo dos seus alunos. Entre eles, cinco que se irmanavam numa aliança imorredoira de amizade: o Prata, o Francisco, o Costa, o Isidoro e o Ventura.
Os exames da quarta classe, eram nos fins de Julho. E, naquela tarde quente, corriam as festas de São Pedro, os cinco amigos demandaram Vale do Curro, a oito quilómetros de Juncal do Campo. Era ali que o Senhor Professor, passava as férias - grandes, junto da família. E era também ali, que o docente lhes daria as últimas lições, para a preparação para o exame em Castelo Branco.
De merenda para o dia e para a estadia, partiram a pé, rumo à quinta do Senhor Professor. Por lá ficaram e por lá estudaram uns dias. Também tempo para correr pelas hortas e beber da água fresca dos poços. À noite, quando as estrelas já cobriam o céu beirão, dormiam na loja térrea, numa enorme cama, encolhidos, para caberem lá todos.
Depois, o dia do exame. Um ritual próprio. Acompanhados pelo professor e um familiar, espartilhados dentro de um fato feito para a ocasião, lá partiram para a grande urbe numa carroça puxada por um burro, para que não perdessem a energia a calcorrear os treze quilómetros de distância, que os separava da cidade de todos os deslumbramentos.
Foi feliz, a viagem a Castelo Branco. Passaram todos com distinção, para sua alegria, do professor e das famílias. O Prata, então, não cabia em si de contente. Foi a primeira vez que usou sapatos. Eram vermelhos e de biqueira larga, já naquele tempo fora de moda, mas que o tio Manuel Mendes tinha descoberto numa prateleira velha e sombria, na oficina do António Lagarto, sapateiro
Q.P.
Mas havia a escola. E ali, naquele lugar, o professor era austero. Mas amigo dos seus alunos. Entre eles, cinco que se irmanavam numa aliança imorredoira de amizade: o Prata, o Francisco, o Costa, o Isidoro e o Ventura.
Os exames da quarta classe, eram nos fins de Julho. E, naquela tarde quente, corriam as festas de São Pedro, os cinco amigos demandaram Vale do Curro, a oito quilómetros de Juncal do Campo. Era ali que o Senhor Professor, passava as férias - grandes, junto da família. E era também ali, que o docente lhes daria as últimas lições, para a preparação para o exame em Castelo Branco.
De merenda para o dia e para a estadia, partiram a pé, rumo à quinta do Senhor Professor. Por lá ficaram e por lá estudaram uns dias. Também tempo para correr pelas hortas e beber da água fresca dos poços. À noite, quando as estrelas já cobriam o céu beirão, dormiam na loja térrea, numa enorme cama, encolhidos, para caberem lá todos.
Depois, o dia do exame. Um ritual próprio. Acompanhados pelo professor e um familiar, espartilhados dentro de um fato feito para a ocasião, lá partiram para a grande urbe numa carroça puxada por um burro, para que não perdessem a energia a calcorrear os treze quilómetros de distância, que os separava da cidade de todos os deslumbramentos.
Foi feliz, a viagem a Castelo Branco. Passaram todos com distinção, para sua alegria, do professor e das famílias. O Prata, então, não cabia em si de contente. Foi a primeira vez que usou sapatos. Eram vermelhos e de biqueira larga, já naquele tempo fora de moda, mas que o tio Manuel Mendes tinha descoberto numa prateleira velha e sombria, na oficina do António Lagarto, sapateiro
Q.P.
Já tens o JF desta semana, Quito? Eu só vou vê-lo à noite, quando chegar a casa. Estou em pulgas ;O)
ResponderEliminarAinda não. Só de tarde. Ainda tens um "desgosto". Quanto ás pulgas tenho cá remédio para elas, uma colher de chá a cada pulga, ao deitar ...
EliminarAbraço
Desgosto, eu? Não! Pode não sair nesta semana ainda, por uma questão de programação de paginação... mas não te livras, estás descansado. Podes preparar-te para começares a autografar jornais :O)
EliminarSenhor escritor dá-me "um autógrafo"?
EliminarGoza goza, que qualquer dia, quando eu mudar de "estatuto", tens que vir a Salgueiro do Campo, ao meu gabinete, todas as semanas, de pasta debaixo do braço e devidamente fardado, para eu assinar o expediente ...
EliminarE se ele tiver o "sonotone" desligado ainda pensa que "assinar o expediente" significa receber um autógrafo desses!
Eliminar(eheheheh)
Quando aparece aqui o JF..."digitalizado"...com o nosso escritor, de eleição?
ResponderEliminarAbraço.
Cheguei a casa e confirmei o que o Quito já tinha visto: ainda não foi esta semana que começaram a publicar. É natural... a programação da paginação não é de uma semana para a outra.
EliminarNão esquecer, que naquele tempo era mais rigoso o exame da 4ª classe do que hoje algumas licenciaturas...
ResponderEliminarLembro-me que tive um colega que todos os dias fazia de bicicleta, Tentúgal-Coimbra-Tentúgal (40km) para assistir às aulas! Ao fim de semana ajudava o pai no campo e até era bom aluno!...
Eça é que é Eça!!!!
EliminarEu também levava o gado a pastar, punha estrume no rego das batatas, mais tarde regava-as, depois apanhava-as e depois comia-as!
Levava réguadas que me fartava por causa dos problemas das 2 torneiras a encher um tanque...lá me safei com uma "aprovação",("apenas formatura") nos mínimos, pois a distinção correspondia agora a pelo menos a "bacharelato"...senão doutoramento!
Eliminar
Uma torneira, sozinha, demora 12 horas para encher o tanque
EliminarOutra torneira, sozinha, demora 20 horas para o encher
Quanto tempo demora a encher o tanque, se estiverem as duas torneiras a deitar-lhe água ao mesmo tempo?
---------------------------------------
Era um problema deste tipo que em quase todas as escolas nos colocavam e que o Rafael referiu.
Na primária, resolvia-se de forma expedita por aritmética simples.
Mais tarde no liceu, o mesmo problema voltou a aparecer, já com outra finalidade:
- a de apreender os conceitos de menor múltiplo comum e de máximo divisor comum.
Posso adiantar, para o Rafael não voltar a matar a cabeça com contas, que a solução é 7,5 horas e meia. Ou seja, as duas torneiras a debitar água ao mesmo tempo, enchem o tanque em 7,5 h.
Podes indicar, fazendo de contas que estás em frente ao quadro preto da escola o desenvolvimento das contas que te leva a este resultado?
EliminarFiquei tão traumatizado com a porrada que levei que nunca quis saber como se chegava a esse resultado!!!!dos comboios a partir a horas diferentes para chegar a Lisboa....era da mesma seita!!!!
(1/12) + (1/20)
EliminarMenor multiplo comum: 60
Multiplicando (1/12) por 5 = (5/60)
Multiplicando (1/20) por 3 = (3/60)
Somando:
= (5/60) + (3/60)
= (8/60)
Máximo divisor comum: 8
Dividindo 8 por 8 = 1
Dividindo 60 por 8 = 7,5
Donde:
= (1/7,5)
Explicando estes cálculos ao Rafaelito: Se uma torneira enche o tanque em 20 horas, por hora enche 1/20 (um vigésimo) do tanque. A outra, por hora enche 1/12 (um doze avos) do tanque. Ou seja, numa hora as duas juntas enchem 1/20 + 1/12 do tanque. E é só fazer contas, como explica o Rui Felício.
EliminarAqui tens uma resolução:
http://ikaro.riva.vilabol.uol.com.br/torneira.htm
Pessoalmente, prefiro começar por um cálculo assumindo um volume do tanque (divisível por 20 e por 12, para facilitar). Por exemplo, assumir que o tanque tem 120 litros. Uma torneira deita 6 litros por hora (120/20) e outra deita 10 litros por hora (120/12). Então, as duas deitam 16 litros por hora. Dividindo pelo volume do tanque (120 litros) dá o número de horas até encher... 7,5 horas. Et voilà.
Se usares outro volume do tanque, verás que o número de horas para o encher é sempre o mesmo.
Não fossem as “páginas pardas” do livro onde, em vida, ficou depositado ad aeternum o testemunho de alguém sobre a vida rural de uns miúdos e do seu professor primário, e não teria o Quito bebido essas imagens para sobre elas reflectir e compor uma deliciosa crónica de tempos idos que nos faz lembrar o sublime mister do professor que cedia a sua casa e o seu tempo de férias para consolidar na cabeça daqueles alunos, por causa do exame em Castelo Branco, os conhecimentos que lhes tinha andado a ensinar ao longo do ano.
ResponderEliminarÉ este um bom exemplo para o Quito seguir, isto é, deixar em livro para quem vier, e para que se não percam, a sua sensibilidade, o seu humanismo, o seu espírito de observação e a sua invulgar capacidade de escrita.
Porque um dia, quem sabe, um outro Quito respigará das suas “páginas pardas”, memórias de um tempo que não volta.
Obrigado Quito.
ResponderEliminarUm Abraço.
Dias.
Mais uma bela estorinha do Quito.
ResponderEliminarLembrei-me da minha 4ª classe,aqui na cidade,em S.Bartolomeu.
Teve o seu "quê" de pitoresco!
No exame da 4ª,fomos todos aprovados com distinção.
A partir daí é que as vidas da miudagem se "separavam".
Havia os que acabavam ali os estudos e os outros que continuavam.Para estes,seguia-se o exame de admissão ao liceu ou à brotero.
A tal D.Hibraína(só aqui é que aprendi que o nome da megera se escrevia com "h")exigia vinte escudos para a preparação do exame de admissão ao liceu!
Um dos miudos que pretendia continuar no liceu viu-se confrontado com a decisão de seu pai(sacristão de santa cruz):não havia dinheiro para a "preparação"!
Foi a minha 1ª greve!Ou o Tónio continuava os estudos,ou não havia dinheiro para a megera!
Suponho que a "concertação social" foi feita com os pais:o Tónio não pagava mas ia para brotero!
A megera recebeu a nota,nós recebemos umas lambadas e a vida continuou...
Um abraço.
Por mim o nome com "H" da professora é coisa nova.
EliminarNa altura era Enbraína hoje se calhar é do acordo.
No almoço eu ouvi o nome da senhora muita vêz e foi sempre sem "H".
Tudo bem, sempre a aprender qualquer coisa.
Um Abraço.
Dias.
O que não aprendi "à porrada"...vou agora tentar aprender( e a perceber...)com os miminhos dos Professores Doutores Rui Felício e a catedrática Dona Menina São Rosas!
ResponderEliminarClaro que só agora é que chamam Matemática a estes pincéis de problemas.
No meu tempo de "lambada" diziam que era Aritmética(não sei se é assim que se escreve...mas soa bem!)
Sempre adorei Matemática... e muito me divertia ver colegas meus de curso que foram para Economia "porque não gostavam de Matemática".
EliminarRafael, tens toda a razão: soa a "má temática"!
Mais um conto digno de ser integrado na colectânea das memórias que ficam e para que se não percam na bruma do tempo.
ResponderEliminarSão retalhos de vida, contados pelo Quito, à sua moda e como só ele sabe fazer.
Aquele abraço.
Meu caro Quito,
ResponderEliminarFiel ao meu princípio de comentar e só depois ler os comentários já publicados, isto quando se trata de textos do autor e para que o meu comentário não seja influenciado, devo confessar-te que me diverti à grande e à chinesa ( a francesa já lá vai...) com os comentários destes malucos muito saudáveis que por aqui andam.
- Um, licenciado em Direito, que nos ensina como se resolve um problema de matemática, utilizando o cálculo de menor múltiplo comum e de máximo divisor comum.
- Outro, licenciado em Economia, que nos ensina como se resolve o mesmo problema à luz do racionalismo, sem recurso às matemáticas.
E não é que ambos têm razão?
No meio de tudo isto, Dom Rafael cada vez mais desconfiado com esses "pincéis" de aritmética...
Também me diverti com a "embirração" do nosso Tonito com os HH. Eles nem se ouvem... modernices! Bem se poderá o Rui Lucas esforçar para lhe lembrar que a D.Hibraína "levava" com o H. Qual quê?! H não se ouve, logo não existe...
A todos o meu abraço.
Já me ri com os comentários e com as vocações escondidas que andam por aqui.
ResponderEliminarDe um problema matemático por causa de duas torneiras e um tanque, a conversa resvalou para a Hibraína? Com "H" ou sem "H"?
Mas o Tonito desfez o dilema: " No almoço eu OUVI o nome da senhora muita vez e foi sempre sem "H".
Temos que admitir, que o nosso Tonito é demolidor na argumentação. Ponto final.
Abraço a todos
O Tonito tem toda a razão na hargumentação. Se tivesse "agá" no início, a senhora seria Agáibraína!
EliminarHavante, hamaradas!
O conto que hoje o Quito nos traz à leitura poderá parecer surreal para a geração mais nova.
ResponderEliminarMas assim era! Em época de exames, os professores ou levavam os alunos para casa ou , como era o meu caso, ficavam na escola até ao pôr do sol.
Os alunos tinham que decorar e saber sem engasgar, a gramática, a História, etc.
Quanto se seria a melhor maneira de adquirir conhecimentos e competências, era tema para vasta discussão...
As crianças hoje aprendem muitas matérias, na escola e em atividades paralelas.
Da escola correm para a música, para a natação, para o inglês e sabem trabalhar com a informática!
Outros tempos, outras respostas.
Obrigada, Quito, trouxeste-me à memória a minha infância e os meus primeiros anos de trabalho como professora. A tua recolha, nas páginas pardas, uma delícia!
Duas torneiras a encher, vá que não vá, mas quando uma enchia e outra despejava?!
Uns alunos percebiam, outros, aprendiam a martelo, para obterem a famigerada distinção que conferia estatuto ao professor, já que a pagueta só se fosse a pagar por fora...
O meu comentário anterior ficou com a cara das "Páginas pardas"!
ResponderEliminar