Há dias, a porta do prédio estava aberta e reparei que, ao fundo do corrimão das escadas, em madeira, estava uma figura curiosa...
... uma criança (um anjo?) esculpida em madeira:
Na falta do nariz da criança, o Quito trouxe-nos um poema do Bocage:
Nariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz, que Newton não quis,
Descrever-lhe a diagonal;
Nariz, de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total!"
Barbosa du Bocage
O Rui Felício não gosta de ver poemas sem companhia e trouxe este, de Bernardo Guimarães (o poema completo, escrito em 1858 no Rio de Janeiro, é bem longo e está aqui):
E mil coisas gentis
Das belas suas: eu de minha amada
Cantar quero o nariz
Não sei que fado mísero e mesquinho
É este do nariz
Que poeta nenhum em prosa ou verso
Cantá-lo jamais quis."
Bernardo Guimarães
O Alfredo Moreirinhas pegou no nariz e escreveu (assim de repente) um poema:
daquela menina
Mas que nariz tão bonito
Que tem aquela menina
Se assim for o seu pito
Amá-la é a minha sina
Não deixo de me lembrar
Quão belo é seu nariz
E dou por mim a pensar
Naquilo que seu corpo me diz
E sempre que olho p’ra ela
Bela como a flor-de-lis
Eu gosto é do corpo dela
Quero lá saber do nariz!"
Alfredo Moreirinhas
Aveiro, 18 Set 2013
A Celeste Maria puxa dos seus galões de professora e põe o Alfredo a um canto:
Pito com nariz?
Não condiz!
Pia o pito,
Pinga o nariz.
Assoa o nariz,
Meu petiz.
Ainda és aprendiz..."
Celeste Maria
Como o Alfredo não é homem para ficar encostado a um canto...
Concordo, sou aprendiz.
Mas se o tema for o pito
Não sei se falo ou se grito
Mas não posso ficar calado
Pois nesse tema sou doutorado"
Alfredo Moreirinhas
O Carlos Viana ode-o (isto é, faz-lhe uma ode):
Tens de rever a «sebenta»
Engenheiro bem humorado
A caminho dos setenta..."
Carlos Viana
O Rui Barreiros foi buscar à Roma antiga um poema de Caio Valério Catulo, que o Carlos Viana não entende por não conhecer a Lésbia:
nem uns lindos pés, nem uns negros olhinhos,
nem uns dedos afinalados, nem uma boca delicada,
nem sequer uma linguagem bem aprimorada,
ó amiga do falido de Fórmias.
será que a província afirma que tu és bela?
contigo a nossa Lésbia é comparada?
ó geração de mau gosto e grossa."
Caio Valério Catulo
Poderíamos continuar quase sem fim à vista (por exemplo, com o poema «A um nariz», do brasileiro Luiz Gama). Mas não quero que vos chegue a mostarda ao nariz.
Para vos dar música, deixo-vos o poema «A una nariz» de Francisco de Quevedo, musicado e interpretado por Crispín d'Olot:
Para a Olinda conseguir dormir, teve que escrever isto (e ainda bem):
Onde ninguém mete o nariz, aí entra o meu,
com curiosidade estreita e aguda
que descobre o encoberto."
Machado Assis
O Carlos Viana, muito senhor do seu nariz, fez um poema-acta desta reunião de amigos:
Ao fundo do corrimão da vetusta escadaria
Estava uma curiosa figura.
Seria anjo ou criança, esculpida em madeira.
Coisa simples que alguém observou,
Percebendo-lhe a tristeza e a melancolia.
Corroída pelo tempo, via-se-lhe a amargura,
Julgava-se abandonada, e destinada à lixeira.
Mas eis que mão sensível a salvou,
Devolvendo-lhe a vida e a alegria
E que por este meio a eternizou.
A minha dúvida: Será que esta "coisa" da net é eterna?"
Carlos Viana
Não seria Nariz de Pau Santo atacado por caruncho ateu?
ResponderEliminarUma bela figura, mas por esse corrimão não podemos escorregar!...
ResponderEliminarMeteu o nariz onde não devia...Pumba,castigo de Deus!
ResponderEliminarMas é uma pena não ser restaurado!
EliminarPodiam por-lhe um nariz de Pinóquio e servia de cancela para vedar a passagem a mentirosos.
EliminarNariz, nariz e nariz,
ResponderEliminarNariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz, que Newton não quis,
Descrever-lhe a diagonal;
Nariz, de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total !
Barbosa du Bocage
Maravilha. Pus no post.
EliminarBernardo Guimarães não conheceu certamente Barbosa du Bocage que em boa hora o Quito aqui nos trouxe.
ResponderEliminarSenão não teria escrito esta poesia que aqui trago:
Cantem outros os olhos, os cabelos
E mil coisas gentis
Das belas suas: eu de minha amada
Cantar quero o nariz
Não sei que fado mísero e mesquinho
É este do nariz
Que poeta nenhum em prosa ou verso
Cantá-lo jamais quis.
Por causa de um nariz (ou da falta dele) se traz para o blog um recanto de poesia. Esta de Bernardo Guimarães eu não conhecia. Mas é belo. Uma feliz escolha do Rui Felício.
ResponderEliminarNunca a criança de madeira da "Zunita", de nariz roído pelo tempo ou pelo caruncho, pensou ser tão mimada, por tão ilustres poetas. Merece. E, já agora, o autor da fotografia também ...
Bem bonito sem dúvida!!!
ResponderEliminarSe por acaso pudesse ficar com ele, ou se já estivesse em minha posse, eu bem sei aonde o metia....não o nariz, mas esta admirável peça em madeira!
Para mim é francamente bonita!
ODE AO NARIZ
ResponderEliminardaquela menina
Mas que nariz tão bonito
Que tem aquela menina
Se assim for o seu pito
Amá-la é a minha sina
Não deixo de me lembrar
Quão belo é seu nariz
E dou por mim a pensar
Que é o corpo que sempre quis
Sempre que olho p’ra ela
Bela como a flor-de-lis
Eu gosto é do corpo dela
Quero lá saber do nariz!
Alfredo Moreirinhas
Aveiro, 18 Set 2013
Genial!
EliminarAlfredo, um beijo de parabéns por tão original e sensual poema...
Manda o ginecologista dar uma volta ao bilhar grande.
Qual Guimaraes, qual Bocage?
ResponderEliminarO Alfredo deixa os a um canto, com licença do Sr. Ginecologista, claro...
Alfredo
ResponderEliminarPito com nariz?
Não condiz!
Pia o pito,
Pinga o nariz.
Assoa o nariz,
Meu petiz.
Ainda és aprendiz...
No que diz respeito ao nariz
EliminarConcordo, sou aprendiz.
Mas se o tema for o pito
Não sei se falo ou se grito
Mas não posso ficar calado
Pois nesse tema sou doutorado
Se no pito és doutorado,
EliminarTens de rever a "sebenta"
Engenheiro bem humorado
A caminho dos setenta...
Ehehehehehehehe....
Boa malha, Celeste Maria.
EliminarO nosso menino Alfredinho devia estar a pensar em pito de caril. Aí sim, é doutorado!
Poema de Caio Valério Catulo:
ResponderEliminarSalve, ó jovem, que não tens um nariz muito pequeno
nem uns lindos pés, nem uns negros olhinhos,
nem uns dedos afinalados, nem uma boca delicada,
nem sequer uma linguagem bem aprimorada,
ó amiga do falido de Fórmias.
será que a província afirma que tu és bela?
contigo a nossa Lésbia é comparada?
ó geração de mau gosto e grossa.
Chiça!
EliminarTens de me explicar isto mais pormenorizadamente!
Sabes que eu sou lento...
"Eu gosto de catar o mínimo e o escondido.Onde ninguém mete o nariz,aí entra o meu,com curiosidade estreita e aguda que descobre o encoberto."
ResponderEliminarde Machado Assis
Retrato-me lindamente nesta frase.
Se não escrevesse isto nem dormia!!!
Linda Olinda, será que eu ainda não consegui dormir porque não escrevi isso?
EliminarOu será que não consigo dormir porque não comi uns carapaus fritos ao jantar?!...
Um beijo, querida amiga.
Foste para o "pica-pau"...agora os carapaus cairam que nem ginjas!
EliminarBeijo,Carlos.
Foi assim que tudo começou:
ResponderEliminarAo fundo do corrimão da vetusta escadaria
Estava uma curiosa figura.
Seria anjo ou criança, esculpida em madeira.
Coisa simples que alguém observou,
Percebendo-lhe a tristeza e a melancolia.
Corroída pelo tempo, via-se-lhe a amargura,
Julgava-se abandonada, e destinada à lixeira.
Mas eis que mão sensível a salvou,
Devolvendo-lhe a vida e a alegria
E que por este meio a eternizou.
A minha dúvida: Será que esta "coisa" da net é eterna?
Meus bons amigos, desculpem-me mas apeteceu-me interagir convosco. Só isso.
Para todos o meu abraço.
Bem hajam todos.
ResponderEliminarEspero que tenhas dormido bem, Olinda.
Carlos Viana, criaste um poema-acta.
Para quem ainda não reparou, acrescentei os vossos poemas ao post... com mais algumas coisinhas (inclusivamente uma música).
Bem hajas São Rosas pela tua criatividade e a capacidade enorme de nos pôr a interagir.
EliminarÉ mais um motivo para te amar mais e mais!
Chiça, Olinda, que sabes deixar uma gaja toda molhadinha!
EliminarEu cá sou assim!!!
EliminarModinha para Olinda
EliminarSe Dorival Caymmi fosse do Bairro
"Quando eu vim pra esse Bairro
Eu nao atinava em nada
Hoje eu sou a Olinda
Olinda he! meus camaradas
Eu nasci assim, eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Olinda, sempre Olinda
Quem me baptizou, quem me iluminou
Pouco me importou, é assim que eu sou
Olinda, sempre Olinda
Eu sou sempre igual, não desejo mal
Amo o natural, etecetera e tal
Olinda, sempre Olinda"