Irmãs Meireles cantam «Menina e Moça», do médico Fausto de Almeida Frazão (1897-1947)

Ensina-nos o blog Guitarra de Coimbra V:
"O trio Irmãs Meireles foi um girls band [grupo de vozes femininas] formada em Lisboa no ano de 1943. Era constituído por três irmãs naturais do Porto, Cidália Meireles (1925-1972), Milita Meireles (1928-) e Rosária Meireles (1926-). Apadrinhadas por António Ferro, dirigente máximo do SNI, e por sua esposa Fernanda de Castro, o percurso profissional das manas foi inicialmente dirigido pelo próprio pai. As Meireles foram ensaiadas pelo maestro Tavares Belo. Adoptaram o estilo de vocalização mais mediático na época na Broadway, em Hollywood e na Disney, as célebres vozes de passarinho, que em Portugal já era famoso devido às performances de outra girls band de sucesso da Emissora Nacional, as Irmãs Remartinez.

Célebres e famosas, retrato promocional
das três irmãs Meireles na capa de
uma revista mundana com visual anos 40

As Meireles suplantaram as Remartinez, interpretaram repertório norteamericano, fados, folclore e fizeram furor aos microfones na Emissora Nacional entre 1943-1946. Estrelas da Emissora Nacional, ensaiaram um amplo repertório destinado representar o mapa musical de Portugal continental e insular. Seguindo um visual holywoodiano, as três irmãs foram consideradas as bombas sexuais do momento. Em 1945 viajaram por Espanha, seguindo-se a América Latina em 1946. Nesse mesmo ano gravaram discos de 78 rpm na Emissora Nacional, nos quais se contavam os temas do repertório conimbricense Balada de Coimbra e Menina e Moça. Desempenharam papéis em filmes, alimentaram capas e páginas de revistas mundanas, fizeram muitos homens suspirar e durante longos anos trabalharam no Brasil onde amealharam considerável fortuna. No Brasil assumiram uma imagem musical conservadora, sintonizada com os valores do regime salazarista sobre o que deveria ser a função do fado e do folclore. Algumas capas de discos editados no Brasil documentam esta opção com as artistas em trajes folclóricos.
Duas notas sobre estas gravações que já tinha escutado através de Divaldo de Freitas: a) o emprego da guitarra de Lisboa em repertório de Coimbra ou inventado para funcionar como ligado à identidade coimbrã, prática corrente nos registos das vedetas da Emissora Nacional e orquestras ligeiras de maestros próximos daquela emissora e da FNAT. No caso de Menina e Moça (Coimbra, Menina e Moça) o trabalho de acompanhamento de guitarra pode considerar-se demasiado fruste quando comparado com os padrões conimbricenses praticados na mesma época; b) cai por terra o ardiloso argumento, usado e repetido durante muitos anos, de que a ausência de gravações pelos grupos musicais conimbricenses entre 1930-1952 se ficou a dever à crise económica da década de 1930 e à economia de guerra. O regime político não promoveu gravações de grupos conimbricenses porque estava interessado em criar um formato docilizado e estereotipado, o que só veio a acontecer a partir de 1946 com a abusivamente chamada “serenata [radiofónica] de Coimbra”."
António Manuel Nunes