São médicos alguns dos meus melhores amigos. A alguns deles já tenho confessado que prezo muito a sua amizade mas tolhem-se-me os passos quando preciso de recorrer aos seus serviços.
Há dias quase me obrigaram a ir a uma consulta. Desde então, a conselho do médico, engulo uns comprimidos calmantes que me receitou, já reli o Adeus às Armas, Orgulho e Preconceito, Fábrica de Oficiais, Manon Lescaut e Rosa Brava. Propositadamente não encetei a leitura de nenhum romance novo. Escolhi reler algo que já tinha lido antes, porque o médico me disse que é preferível não absorver demasiadamente o pensamento com novas incógnitas, com nebulosos enigmas. Leia por mera distracção, disse-me ele. Porque reler não é mais do que trazer à superfície alguma coisa que a memória já antes registara, diminuindo o esforço mental, acrescentou!
Não sinto dor física, mas um constrangimento incomodativo, uma irritabilidade incompreensível, uma impaciência estranha com as mais pequenas coisas. Os opostos da minha habitual maneira de ser…
Espraio o olhar pela imensidão do mar, aspiro o cheiro a maresia, a custo afasto o pensamento dos afazeres profissionais, como me recomendou o médico, tento refletir, quase sempre sem êxito, sobre o último parágrafo acabado de ler. Queixo-me egoisticamente das minhas fragilidades, incomparávelmente desprezíveis em face daquelas que envolveram as vidas de alguns dos escritores que leio. Dou por mim a engendrar uma sequência diferente para o romance que estou a reler e concluo pela pequenez da minha imaginação, da minha falta de talento, quando comparadas com a dos célebres autores daqueles livros.
Que petulância a minha!
Rui Felício
25/07/2011
Chamas-lhe petulância... eu chamo a isso excesso de modéstia.
ResponderEliminarTens apetite?
ResponderEliminarTudo bem.
Com falta do mesmo vai ao médico que ele receita-te um xarope.
O resto são tretas.
Tonito.
Bem. Aqui está um texto que vou ter muito que dar ao chinelo( ou melhor à cachimónia) para poder comentar algo que faça sentido!
ResponderEliminarÉ que não posso fazer alguma comparação com os autores que mencionaste...pela simples razão de que nunca os li!
Mas li outros, também não sou assim tão iletrado!
E tenho lido o que escreves.E gosto do que escreves.E gosto sobremaneira da sequência que dás ás tuas estórias, criando o "suspense" até final.Sempre imprevisto!
Toma os comprimidos que os teus amigos médicos te receitam, que isso passa!
E continua a aspitrar o cheiro da meresia que te purifca a veia inspiradora dos bons textos que sempre nos deliciam!
Não me obrigues a regressar à metafísica,Rui.
ResponderEliminarMesmo nos mais antigos podes escolher outros:O Estrangeiro,Cabra-Cega,Princepezinho,Esteiros,Levantados do Chão,etc.
Se te der para reler,então talvez o Joyce.
Mas não te preocupes,nem tomes medicamentos.
Com um bom tinto passa tudo.
Um abraço.
Reler é a forma de retomar prazeres já vividos.
ResponderEliminarPor vezes sirvo-me desse recurso, penso que por preguiça de enfrentar novas aventuras. Ainda há dias dei comigo a reler, tri ou quadri-reler, "A Relíquia", essa é que é essa!
Entretanto, vou-me debatendo com a eterna verdade que é uma pena morrer, com tantos livros por ler...
Quanto à petulância...
Não tenho qualquer dificuldade em imaginar um final diferente para o "Adeus às Armas", made in Rui Felício...
E mais não digo porque o petulante seria eu.
Aquele abraço.
Muito séria a tua mensagem. E também muito clara. O meu conselho seria, também esse: descansa, lê muito e se necessário... uns ansioliticositos... Há alturas em que todos funcionamos como uma " panela de pressão".
ResponderEliminarÉ do conhecimento de todos a nossa reciproca amizade. Há dias, numa longa conversa telefónica, percebi que o Rui não estava bem. E disse-lho. Todos temos os nossos momentos de desfalecimento e até de angústia. Mas como a nora que tantas vezes vi no meu Choupal, os alcatruzes tanto estão em baixo, como estão em cima. Quem conhece o Rui Felício, sabe quanto é inadequada à sua forma de estar na vida, essa imbecil particulariedade de muitos, a que se chama petulância.Mas entendo-o bem. Por vezes, quando na nossa boa-fé, colaboramos escrevendo, dando a cara pela amizade que temos por um bairro e pelos amigos, essa conduta pode ser apontada como uma espécie de narcisismo.Ou até de "convencimento", como já fizeram o favor de me lembrar. É fácil, muito fácil, destruir com uma simples palavra palavra.Difícil, é construir. Construir um muro solidário. Seja por má-formação, ou desconforto de sentir nos outros alguma apetência para uma determinada função, seja ela em que vertente for.Há, no nosso bairro e fora dele, gente com grande formação académica e cultura e outros que ocupam ou ocuparam, lugar de destaque na sociedade. Por mim, repetidas vezes o afirmei e afirmo, tenho a noção exacta das minhas fragilidades e dos meus modestos conhecimentos. Mesmo quando alguns - por amabilidade - me querem colocar sobre os ombros uma capa daquilo que não sou.Só a tal petulância de que fala o Felício, me faria pisar terrenos que me são vedados. Apenas espero a compreensão dos amigos, quando trago à estampa, um ou outro escrito, na estrita intenção de colaborar com o Fernando Rafael e o seu blogue. Merece-o, pela pessoa que é, e a quem, em termos de associativismo, muito devemos.
ResponderEliminarAo Rui Felício - ao meu amigo Rui Felício - desejo uma rápida recuperação. Que continue a fazer o que gosta - escrever.E eu cá estarei, para ler com prazer o que, desinteressadamente, vai partilhando com os amigos.
Grande abraço, Rui
Petulância?....Jamais!!!!!
ResponderEliminarEscreves e expões as tuas ideias e pensamentos de uma maneira tão nítida, tão clara e quando se proporciona com tanta graça, que há muitos autores com obras publicadas, que nem sequer chegam aos teus calcanhares...
Crise de identidade?!!!, nesta altura do campeonato também não pode ser, seria inverosímil!!!!
Todos nós, a partir dos "enta", atravessamos por estes momentos, sobretudo quando nos vem ao pensamento tudo de bom e de mau que se passou nas nossas vidas, tudo o que poderiamos ter feito e não fizemos e vice-versa. Vais ver...estas "crises" costumam-nos atacar mais fortemente no Outono, contigo veio mais cedo, mas tiveste sorte, porque nesta altura na Ericeira com o sol, o mar, os bikinis e as garotas (boas como o milho) que poR aí abundam, juntamente com as pilulas que te receitaram,rápidamente ficarás o nosso amigo Rui, calmo, observador, com muito sentido de humor e com muito charme!!!!!
Eu sei de uma coisa que deves estar a precisar!!!!!!!
Um mini encontro de gerações onde não há limites para o riso, cheio de animação e muita amizade!!!!!!
Beijinho para Ti e rápidas melhoras.
OH! Quito na parte que me toca fico muito sensibilzado e "o nosso blog" e todos que o visitam agradecem a "nossa" colaboração e em termos de qualidade mais a vossa que a minha!
ResponderEliminarQuanto ao Rui Felício a esta hora já está a pensar como deve dar a volta ao texto para que tenha um final FELIZ!
Com a receita do amigo e médico Rui Pato e os conselhos da Teresa Lousada não há "fragilidades" que resistam!
Petulância pode ser o atrevimento, a ousadia, o descaramento de alguém que, por momentos, sobe para uma frágil caixa de cartão vazia na vã tentativa de ascender ao nível de quem assenta a sua supremacia em pés estabilizados solidamente em terra firme.
ResponderEliminarQuem assim procede, ainda que por fugaz momento, ficará sempre em instável equilíbrio, à mercê da derrocada certa.
Foi essa momentânea tentação que me assaltou quando dei por mim a imaginar estupidamente uma deriva diferente para o romance que estava a ler.
Foi por causa desse arroubo e da percepção e consciência da minha insignificância , que terminei o meu escrito com aquela exclamação.
Petulância também pode ser a atitude daqueles que se servem do sarcasmo ou da ironia alvar para tentarem esvaziar o conteúdo e a profundidade do pensamento de outrem, refugiando-se na impessoalidade para melhor disfarce da sua incapacidade argumentativa.
É a esta última acepção que o Quito se refere de forma eloquente no seu comentário.
Os laços de amizade que me ligam ao Rui Pato vêm da infância como é sabido.
ResponderEliminarSeria petulância pretender alcandorar-me ao nivel a que os seus méritos o fizeram ascender.
Mas não abdico da honra e do orgulho de poder tê-lo como amigo e, por isso,o agradecimento especial pelo seu comentário.
Extensivo ao Carlos Viana, Rui Lucas, Rafael e, de forma destacada, à Teresa Lousada pelos seus elogios que,embora imerecidos, fazem sempre bem ao ego...
Rui, depois do que os nossos amigos já disseram, pouco me resta para dizer!
ResponderEliminarGosto do escreves e escreves muito bem! Um romance nunca tentaste, mas não é tarde para o fazeres! Talvez até seja melhor do que reler alguns... Tenta!
Ânimos em crise!!!
ResponderEliminarHomens a precisarem de mimos...
Pois, meus queridos amigos, escrevam, escrevam sempre.
Ler-vos proporcionanos bons momentos, sejam de reflexão, de humor, de emoção.
O verão já se faz sentir e os nevoeiros dissipam-se.
Um abraço caloroso e pleno de boa disposição para todos!