domingo, 2 de outubro de 2011

UM GRANDE SUSTO



Hoje fazem-se os movimentos bancários diante de um computador, mas naquele tempo ainda não havia internet.
Entrei no Banco, nos Restauradores, para requisitar um livro de cheques.
Estranhei a quantidade de clientes que enchiam a dependência bancária. Para aí umas 30 pessoas. Tive que me conformar e entrei numa das filas formadas diante do balcão.
Não eram passados ainda uns dez minutos, uma gritaria e um enorme rebuliço transformaram o átrio num pandemónio. Um grupo de três mascarados armados de espingardas de cano curto gritavam para os empregados e para os clientes, ordens breves, assustadoras, sempre acompanhadas de ameaças de morte.
Um dos assaltantes correu para o gabinete envidraçado do gerente, encostou-lhe o cano da arma à têmpora, enquanto os outros dois nos empurravam com brutalidade para um canto.
Duas senhoras de aparência sexagenária sentiram-se mal. Uma delas desmaiou e caiu com estrépito no chão.
Um homem robusto tentou desarmar um dos assaltantes mas foi atingido pelo disparo da espingarda do outro.
Agoniado, vi uma golfada vermelha ensopar-lhe a camisa enquanto caia...
O bandido que se tinha dirigido ao gerente intimou-o aos berros a ir abrir o cofre, sempre com o cano da arma encostada à cabeça do infeliz bancário.
Quando eu pensava que tudo acabaria com a abertura do cofre e com os ladrões a fugirem com o dinheiro roubado, dei pela entrada de uma série de polícias que de rompante entraram no Banco. Houve troca de disparos, um polícia foi atingido gravemente no abdómen e um dos assaltantes caiu redondo no chão com um tiro na cabeça.
Uma massa vermelha, pastosa, ensanguentava já as lajes de mármore do chão. As minhas pernas tremiam...
Subitamente, ouço uma voz vinda do tecto falso e, de seguida, ecoar uma revoada de aplausos, com os clientes e os empregados a rirem, a baterem palmas e a felicitarem-se pelo sucesso da operação!
Até a senhora que tinha desmaiado aplaudia! Até a outra que tinha sido baleada se levantou e, sorridente, abraçava toda a gente.
Incrível! Mesmo o polícia gravemente ferido e o ladrão morto, agora milagrosamente ressuscitado, participavam alegremente naquele estranho festim!
Só eu e mais dois clientes, de boca aberta e trémulos de medo, nos mantínhamos estáticos a um canto.
Quando se lembraram de nós, pediram-nos desculpa por não terem tido tempo de nos avisar previamente. É que quando nós entrámos a filmagem já tinha sido iniciada.
Tratava-se de uma cena da película policial que a RTP estava a rodar...

 Rui Felício

9 comentários:

  1. É tudo a fingir não se faz nada há séria neste país.
    É o que temos,por cá.
    Tonito.

    ResponderEliminar
  2. Bolas que até eu li este teu texto quase sem respirar com medo que os assaltantes se assustassem e penssasem que eras tu e te mandassem um balásio!
    Claro que para compensar o susto nem pagaste a requesição dos cheques!
    Se não estava devia estar incluido nos custos da produção!
    Mas deves aparecer depois na novela policial!
    Vãe se consegues saber o nome!!!

    ResponderEliminar
  3. Ao Rui Felício tudo acontece,
    Ele, que há largos anos é vitima de um assalto real, na vida real, teve de se deparar ainda com um assalto fictício.
    Neste último caso só sofreu o susto...
    Ainda bem, estás de parabéns. Assim te livrasses dos malefícios do outro assalto, que não são só susto...

    ==========================

    Há muito tempo que eu digo, entre os amigos, que o Felício consegue escrever um conto a partir de "um caroço de azeitona".
    Ora aqui está mais um bom exemplo.

    Aquele abraço.

    ResponderEliminar
  4. Pronto,mais um comentário que não "entrou"...
    Tentando...
    Só podia ser uma "novela".
    Hoje os assaltos às nossas finanças são "brancos":desaparecem-nos os meios de pagamento,mas não há o espectáculo das metralhadoras,nem dos tipos com gorro!
    Quem enfia o barrete e fica sem dinheiro somos sempre nós.
    Tal como nos antigos e verdadeiros assaltos,o homem sem gorro explica-nos que não se tratou de um assalto,foi de recuperação de fundos e que até rendeu pouco.
    Daqui a umas horas,ou amanhã,torna-nos a assaltar de falinhas mansas.

    ResponderEliminar
  5. O "anónimo" sou eu.
    Rui Lucas

    ResponderEliminar
  6. Não precisavas de te identificar Amigo Rui Lucas!
    A objectividade do teu comentário e o paralelismo que constróis com a história contada, têm a tua marca.
    Inconfundivel!

    ResponderEliminar
  7. Este conto fictício do Rui Felício, podia ser verdade. Fazem-se simulacros para tudo, com o objectivo de testar capacidades. Mas é para inglês ver. No interior profundo, os postos da GNR, vão sendo aniquilados e as populações entregues à sua sorte. É preciso poupar, dizem eles. Pois que poupem nos comboios rápidos e nas aeroportos projectados. Que protejam os cidadãos. Afinal o que devia ser a missão prioritária de qualquer governo com o mínimo de sensibilidade social. Um simples jeep a patrulhar todos os dias pequenos núcleos populacionais, dava aos meliantes uma sensação de insegurança e de protecção das comunidades. Mas não. Estão entregues à sua sorte. E o pavor é tal que, um pequeno barulho dá logo direito a um tiro de caçadeira. Aconteceu assim, há dias, numa aldeia minha conhecida do interior do país. O homem foi preso, a espingarda confiscada e o conterrâneo baleado para o Hospital, porque à noite todos os gatos são pardos. Este episódio, ilustra bem a sensação de insegurança das populações desprotegidas. Uma espécie de lei da guerra: atira-se e depois é que se pergunta quem é.

    ResponderEliminar
  8. Nas coisas da insegurança,há um caso típico aqui bem próximo.
    Um casal já nos muitos de 70 e nos próximos dos 80,proprietários de uma mercearia(sim,essa coisa que desapareceu aqui da cidade),foi assaltado.
    A senhora estava ao balcão quando,de repente,estava com uma faca no pescoço.
    O marido um bocadito mais velho,já com 80 feitos,tinha "ido lá dentro" fazer um chi-chi.
    Quando viu a mulher naquele estado,foi buscar a caçadeira e disparou sobre o assaltante.
    Resultado:o assaltante não roubou nada e tinha as pernas "chumbadas"...
    O facínora do agressor anda de pulseira electrónica e a fazer contas à vida.
    É que ele foi condenado por tentativa de homicídio e ter provocado a incapacidade física do assaltante por mais de 60 dias!
    O facínora foi condenado a pagar uma indemnização ao assaltante(por acaso um serralheiro...) por o ter incapacitado para exercer a sua actividade profissional!
    Esta história é verídica e o senhor de 80 anos(talvez mais 1 ou 2) ainda anda de pulseira!
    Os gnr,de rabo entre as pernas,recolheram...
    Rui Lucas

    ResponderEliminar
  9. Senhor Anónimo,
    Como diz o Rui Felício, não precisava de assinar.
    Está lá a impressão digital...

    ResponderEliminar