quarta-feira, 12 de outubro de 2011

UM NOME ...

ALINA LAGOAS
Era uma menina como as outras meninas. Gostava de brincar pelas ruas de um bairro de Coimbra. Distinguia-se pelo seu porte alto e esguio. Também pela simpatia e pelo sorriso terno que lhe moldava no rosto. Herdara-o do pai. Por detrás do seu semblante cordato, aquela criança escondia uma apetência e uma quimera. O sonho de um dia pisar um palco, erguida aos céus pelos braços ágeis e robustos de um bailarino clássico, de branco vestido. E ela, em sapatos – de - pontas e olhar sofrido, a pousar docemente no regaço etéreo da agonia de um Cisne. Em passos de dança, levemente, foi subindo na exigente hierarquia da Disciplina da Dança. Cedo se percebeu, que aquela jovem voava célere nas asas dos Deuses. O seu percurso artístico, levou-a a integrar a Companhia Nacional de Bailado. Mais tarde, abriram-se-lhe as portas do norte da Europa. No Royal Ballet de Londres, fez carreira. Mas é em Estocolmo, no Royal Swedish Ballet, que Alina Lagoas lançou âncora. Numa profissão de desgaste rápido, a ainda jovem Bailarina, vê perfilar-se no horizonte o ocaso de uma carreira. Não faz disso um drama. Há uma família a quem se dedicar. Para trás, ficará a excelência do seu talento, o rigor e a disciplina que impõe a si própria, que lhe têm granjeado o respeito e a admiração entre os seus pares. Recordar aquele dia, em que o Teatro Nacional de São Carlos a foi buscar a terras nórdicas, para um único espectáculo da “Sagração a Primavera” de Igor Stravinsky. Porque era a Arte de Alina Lagoas, que dava as garantias absolutas para uma atuação de responsabilidade e de grande exigência artística. No fim, as palmas entusiásticas do público, como tributo ao Mérito e à Magia. No rodopiar da vida, um dia virá, a anos distantes, em que o cabelo irá embranquecer. Será o Tempo da bailarina se sentar na plateia. De, numa sala vazia e sem as luzes da ribalta, seja em Lisboa, Londres ou Estocolmo, poder contemplar a penumbra de um palco e de contar aos netos o significado das palavras exigência, brio e sensibilidade.
Augusto Branco, pensador, poeta e escritor brasileiro, disse um dia que “ não é o ritmo nem os passos que fazem a Dança. Mas a paixão que vai na alma de quem dança”. Eloquente pensamento. Bem podia ser o prefácio de um livro de memórias. Porque Alina Lagoas, é nome consagrado de Bailarina Clássica. Um doce nome de Mulher.
Q,P.

23 comentários:

  1. Alina Lagoas, é o nome artístico de Alina Felício. Fácil é constatar que se trata da filha do nosso amigo Rui Felício. A ambos - pai e filha - dedico este pequeno texto.
    Tenho a noção, de que esta pequena homenagem que faço a Alina Lagoas, está muito aquém do que merece. Gente autorizada e críticos de Arte, já lhe exaltaram a sensibilidade e o virtuosismo da sua Dança. Confesso que sou um leigo na sua Arte.Mas, com os escassos elementos de que dispunha - já agora dizer que também teve uma passagem pelo Ballet do Mónaco - redigi o meu SENTIR, por esta consagrada Bailarina que um dia calcorreou as ruas do nosso bairro. O Rui Felício tem um justo e fundado orgulho na sua filha. E bem o pode ter.
    O Amigo
    Quito Pereira

    ResponderEliminar
  2. Bonito texto, Quito! Como tu dizes, está muito aquém do que ela merece, mas isso não tira nada à beleza do texto.
    Um beijo de admiração à Alina e um abraço ao Rui, pela filha que tem!

    ResponderEliminar
  3. Que bonito texto Quito!
    Os meus parabéns vão para a Alina primorosa Bailarina, para os seus Pais,especialmente para o Pai que me dá a honra e o gosto de ser meu amigo e para ti, que com os teus textos, nos vais dando a conhecer as maravilhas que a vida por vezes nos proporciona!!!!
    Obrigada Amigo.

    ResponderEliminar
  4. Parabéns Quito! Nem os "cronistas" conceituados na matéria fariam tão elegante e elogioso texto! Parabéns ao Rui Felício, qual pai babado!!! Pudera!?
    Parabéns à Bailarina Aline Felício! E a tal fotografia de New York...anda perdida, mas hei-de encontrá-la! O prometido é devido! Ok? Rui Felício!!!
    Abraço

    ResponderEliminar
  5. È perante estas notícias, que vejo fazer todo o sentido... acreditar, simplesmente! Foi a primeira vez que ouvi falar de Alina Lagoas, perdoem-me a ignorância. Parabéns, Rui Felício pelo ser que trouxeste até nós... uma bailarina... uma borboleta dançando, linda, linda! Se na juventude sonhei, muitas vezes, com Margot Fonteyn, nas aulas de ginástica rítmica lá no clube recreativo, esta notícia como que realizou esse sonho, porque afinal, tivemos a "nossa" Margot que se chama e bem, ALINA.
    OBRIGADA VIDA!

    ResponderEliminar
  6. Suspeito como sou neste caso, fujo da subjectividade emocional no meu comentário de agradecimento ao Quito, pela sua lembrança...
    - - - - - - - -
    Exigência, Brio, Sensibilidade...
    Homem que sabe, como poucos, usar as palavras, o Quito escolheu as mais certeiras para definir as características de quem envereda por uma carreira artística. Ele sabe bem porquê! Porque lhe está no sangue. No seu, como escritor e no do seu filho André, como músico.
    A Arte possui inúmeras facetas. Pintura, Escultura, Teatro, Fotografia, Poesia, Romance, Dança, Música, são algumas das mais conhecidas. Mas todas elas assentam naquelas três vertentes indispensáveis.
    Um apontamento especial para a “Sagração da Primavera” de Stravinsky que veio revolucionar profundamente os tempos musicais e os movimentos da dança clássica, cuja execução continua a ser acessível apenas a músicos e bailarinos dotados de grande capacidade de abstracção mental e elevada técnica.
    Por último e com toda a objectividade, destaco a perfeita construção do texto em que o Quito delineou, a partir do tempo passado e do actual, a projecção do que será o do tempo futuro, em que os aplausos serão substituídos pelas recordações.
    ------------
    À laia de explicação, em face do comentário do Zé Leitão, esclareço que a fotografia a que ele se refere é a da School American Ballet, em New York, que a minha filha frequentou, como aluna, durante um ano, após ter terminado o curso do Conservatório de Lisboa, e que lhe pedi que fotografasse quando ele lá fosse, como vai tantas vezes.

    ResponderEliminar
  7. Além do texto a foto também está bem escolhida. Tem mesmo pose de bailarina ...

    ResponderEliminar
  8. Entre mim e Rui Felício, existe uma amizade recíproca. Há tempos, fomos convidados para um casamento. Tivemos então a oportunidade de falar de muita coisa. E, naturalmente, falámos dos nossos filhos. O Rui, foi-me falando da Alina Lagoas e dos netos que estão longe, com a emotividade natural de um pai e avô saudosos. Comoveu-me. O Rui, perdoar-me-à a inconfidência de algumas coisas que me contou. Mas partilho-as convosco, porque são vagas de ternura. Disse-me o Felício, que sempre que vai a Estocolmo, quando chega a casa e põe a mala em cima da cama, fica com um neto de cada lado, expectantes com os presentes que o avô lhes vai trazer de Lisboa. De outra vez,entrou numa loja e um dos netos que o acompanhava, viu um saxofone e quis o brinquedo. Escusado será dizer, que o Rui o comprou. Vieram para casa os dois todos contentes, o Felício a guiar e o netito no banco de trás a tocar saxofone. Delicioso ...
    Depois, fui tendo a percepção do percurso artístico da Alina Lagoas. Então, começou a fermentar na minha cabeça, a ideia de fazer um pequeno texto homenageando o seu talento. Não foi em vão, pelos comentários que até afora apareceram. Estou muito satisfeito. Não pelo texto, que é completamente despretensioso. Mas pela Alina Felício, que é património cultural do nosso País. Também do Bairro. E de todos nós.

    ResponderEliminar
  9. maria helena morgadooutubro 12, 2011 5:59 da tarde

    Quito, parabéns pelo belo texto!

    A ESTA BELA e TALENTOSA BAILARINA e ao PAI, Amigo recente, um grande beijinho.
    Antes de terminar a leitura do texto, já estava a ver de quem se tratava, só o nome é que me estava a fazer confusão!

    ResponderEliminar
  10. Ó Quito é do Bairro...mas da minha rua!!!!
    Isto é...o pai!!!!

    ResponderEliminar
  11. Sou demasiado sensivel e comovo-me, mais ainda quando se fala da minha Coimbra ou dos meus filhos.
    Porque falar dos meus, aqui no blog poderia ser tido como exagerada e despropositada vaidade, nunca o quiz fazer, como os mais atentos terão notado.
    Porque todos os pais se orgulham dos seus filhos e porque todos eles, lhes encontram as virtudes e as caracteristicas que os tornam únicos.

    Esta vaidade natural que todos os pais sentem, e eu não sou excepção, obriga-me a agradecer a todos quantos comentaram com simpatia este belo texto do Quito, muito, muito reconhecido.

    ----------

    Não me levarão a mal que o meu agradecimento ao Quito, seja especial, porque a sua iniciativa inesperada prova-me que a nossa amizade surgida depois do memorável almoço do GEG, está fortalecida e inabalável.
    E esse é o maior mérito do trabalho do Fernando Rafael, que acendeu a chama em 2008 e a mantém cada vez mais luminosa e forte.

    ResponderEliminar
  12. Já estou a exagerar na quantidade de comentários, mas não posso deixar sem um apontamento esclarecedor, o seguinte:

    Fiz uma referência ao André Vaz Pereira, um dos filhos do Quito, porque ele enveredou com todos os reconhecidos méritos pela área artistica. E o texto era disso que falava.

    Não me referi ao seu irmão Gonçalo Pereira, por qualquer esquecimento ou menor consideração. Não o fiz, apenas porque o tema era Arte. Isso não significa que não tenha outros méritos, não menos valiosos. E eu sei que os tem!

    Curiosamente, conheço o Gonçalo pessoalmente e não conheço o André...

    ResponderEliminar
  13. Fiquei sensibilizado com este depoimento do Quito. Pela beleza do texto, pela história , pela artista e pelos afectos que por aqui transbordaram entre todos aqueles que sabem quem é esta artista, que certamente nunca a viram actuar, certamente nunca a verão flutuar num palco... Mas mesmo assim gostam dela , orgulham-se dela, como se também ela levasse um pouco das nossas amizades...
    Que seja feliz, nós seremos sempre seus admiradores.

    ResponderEliminar
  14. Recordo tão bem este rosto delicado e simpático que tantas vezes via na minha rua, acompanhada pela sua avó, Dona Zulmira!
    A Alina passava alguns dias de férias no Bairro e,segundo julgo saber, foi no Centro que frequentou as aulas de ballet, lecionadas então pela "Gabi", hoje doutora Gabriela, também moradora na rua Vasco da Gama.

    O Quito tem o condão de nos emocionar, pela forma como nos toca
    quando nos fala dos nossos amigos e dos filhos dos nossos amigos.

    Para a linda e reconhecida bailarina vão os meus votos de que prossiga os seus êxitos e felicidades para toda a família.

    ResponderEliminar
  15. Amigo Rui Felício:

    Num texto dedicado à Arte, mencionar o meu nome seria tão "a propósito" como falar da criação de batráquios em cativeiro numa reunião de vendedores de frigideiras :)

    O sucesso da nossa (nossa portuguesa) Alina Lagoas é mais uma prova do potencial que temos enquanto povo. Um pequenino país de 10 milhões de habitantes continua a dar "mundos ao mundo" e a "fabricar" os melhores em todas as áreas. Só é pena termos de sair dele para que nos reconheçam ...

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  16. Também aqui, no outro lado dos Pirinéus,este texto sensibilizou-me bastante! Para os textos do Quito, reservo sempre um momento muito especial:aqueles ultimos minutos antes de me deitar! Gosto de ir para a cama com todas estas belas historias que so ele sabe contar!

    Claro que, também desconhecia a existência desta belissima artista e dou os meus Parabens ao amigo Rui Felicio, que deixa transparecer esse merecido orgulho que tem pela filha.

    A dança clàssica é um exercicio que exige bastantes sacrificios quando se quer atingir e manter um nivel artistico elevado. Como fotografo privativo duma Escola de Dança Clàssica de Colmar, sou testemunha privilegiada para o afirmar.

    ResponderEliminar
  17. Há muito tempo que não leio artigos com mais de três ou quatro linhas, mas este tive que ler por dois motivos: ficar a conhecer mais profundamente o valor de uma pessoa no nosso bairro de quem já metinham falado, neste caso Alina Lagoas ou Felício. Não haja dúvida que pai e filha estão de parabens pois a elogiada até já faz parte daqueles que da lei da morte se vão libertando. É pena é que o nosso País e os nosso empresários não sejam capazes de pegar nestes valores e os dar a conhecer de forma a que se fale destas pessoas em todos os lados. Não me esqueço que quando cá cheguei, à parte um ou outro desportista e raro, ninguém conhecia Carlos Lopes.
    O outro motivo foi o magnífico texto do Quito.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  18. Quem é que não gosta de ler um texto desta qualidade?
    Para mais dando a conhecer uma artista do nosso bairro e filha do nosso amigo Rui Felício!
    Lembro-me melhor do filho do Rui do que da Alina!
    A Celeste Maria, práticamente vizinhas lembra-se bem dela, pois para ir para o CNM passava sempre por aqui.
    O Rui tem bem motivos para ser um "pai babado"!

    Parabéns Quito por este magnifico texto que nos deu a conhecer esta talentosa bailarina!

    ResponderEliminar
  19. Fiquei hoje a saber quem é Alina Lagoas. Não conhecia o nome e muito menos a sua arte.
    Obrigado, Quito.

    Conhecia, isso sim, a sua existência, sem nome, sem rosto.
    Era "apenas" a filha do meu amigo Rui Felício.
    Pai extremoso, volta e meia volta, deixa escapar uma referência à sua filha. Com orgulho contido, contido pela sua própria forma discreta de estar na vida.

    Os comentários do Rui Felício, somados ao texto do Quito, deixam-nos um mar de emoções.
    Saudáveis emoções cuja partilha merece o meu agradecimento.
    AQUELE ABRAÇO.

    ResponderEliminar
  20. A Celeste referiu a frequência de aulas de ballet no CNM e é verdade. Ainda hoje, mesmo quando vem a Lisboa em visita familiar, a minha filha não deixa um só dia de ir dançar e ensaiar, neste caso no Teatro Camões nas aulas da Companhia Nacional de Bailado.

    O mesmo sucedia quando ia de férias a Coimbra, aproveitando as lições do CNM, embora nessa altura já frequentasse o Conservatório.

    De resto, ela começou no ballet aos 4 anos de idade, tendo passado pela Gulbenkian ( cuja Companhia de Bailado em má hora, recentemente, foi extinta ), antes de ingressar no Conservatório aos 9 anos.

    É que, diz ela, o ballet exige um constante treino diário...

    ----

    O Bobbyzé deu uma indicação de conhecedor sobre a exigência e disciplina artistica da dança.

    ResponderEliminar
  21. Porque os textos do Quito me merecem sempre uma atenção especial e que aguardo para ler em período de maior disponibilidade, só hoje o li e me emocionei ao ver logo nas primeiras linhas a quem se referia.

    O Rui Felício rara é a vez que à filha e aos netos se não refere sempre que nos encontramos.
    O ballet clássico como sabemos é uma atividade que requer um espírito de sacrifício e persistência que não está ao alcance de qualquer um e, muito menos, ao nível a que Alina o transportou. Parabéns Felício pela filha que tens.
    O outro filho, o rapaz, como filho de peixe que sabe nadar, vai no jornalismo da RDP vertendo aquilo que com o pai foi aprendendo...

    O Quito mais uma vez está de parabéns pela forma sensível como escreve e deu a conhecer a Alina sendo ela um dos filhos dum grande amigo.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  22. Parabéns,Quito!
    Parabéns,Rui!
    Parabéns,Alina!

    Quando poderemos deliciar-nos ver esta linda e esbelta bailarina a actuar?

    ResponderEliminar