Não posso começar este monólogo, sem um aviso prévio: … não tenho conhecimentos musicais, nem isso está em questão. Aqui apareço apenas, vestido das simples roupagens de turista e de cidadão, que um dia percorreu Valledemossa, na longínqua Palma de Maiorca. E é ao desfolhar, pausadamente, o blogue “Travel With Us”, que me resguardo em momentos de meditação. Como todos sabem, trata-se de um espaço dos nossos amigos Daisy Vieira e Alfredo Moreirinhas. Ao reler todas as reportagens, ao ter frente aos meus olhos todo um arco – iris de maravilhosas fotografias, detenho-me hoje sobre um circunstanciada viagem à Polónia, por ocasião do segundo centenário do nascimento de Fryderyk Franciszek Chopin, nascido naquele país, no primeiro dia de Março de 1810, mais concretamente em Zelazowa Wola. E foi ao ver uma fotografia de uma sala do sumptuoso Palácio Raczynski, tirada pela Daisy, que os meus pensamentos se voltaram para Valldemossa e para um período cinzento da vida do brilhante compositor.
Valledemossa, é uma pequena aldeia daquela ilha espanhola. Por uma estrada ingreme e estreita, vamos subindo e observando a paisagem, composta de amendoeiras, alfarrobeiras e oliveiras milenares. Depois, confundindo-se com a paisagem, vamos ao encontro da pequena povoação, em que sobressai do casario, a Real Cartuja. Trata-se de um Convento. Foi ali, naquele local frio e húmido, nada propício à doença pulmonar que o vitimou, que Frédéric Chopin viveu num curto espaço de tempo, nos anos de 1838 e 1839. Com ele, a sua companheira, com quem viveu cerca de uma década, numa relação, por vezes, tumultuosa. Amandina Aurore Lucile Dupin de seu nome, também conhecida por George Sand, escritora e figura controversa nos meios intelectuais, pelo seu modo de vestir fatos de homem e hábitos de fumo e bebida, pouco condizentes com os padrões da época.
Todo o Mosteiro, respira Chopin. Logo à entrada, o viajante é presenteado com um pequeno apontamento de obras do compositor, tocadas por um pianista residente. Depois, a visita a Real Cartuja. Em cada pedra, em cada parede, em cada compartimento, uma memória. Naquele tempo, o Convento tinha apenas como ocupantes, um trabalhador rural, um sacristão e um farmacêutico. E a pequena farmácia do Convento lá está, primorosamente conservada, retratando os medicamentos usados na época. Porém, de mais relevante e esmagador, talvez a sala onde encontramos um piano, onde Chopin compôs algumas das suas Obras. Agora, sobre o velho teclado, apenas uma rosa vermelha e, ao lado, numa vitrina cuidadosamente encerrada, alguns manuscritos do compositor, bem como uma réplica do molde fúnebre das suas mãos, trabalho executado pelo escultor Jean Baptiste Auguste Clesinger, na madrugada de 18 de Outubro de 1849, horas depois do passamento do genial compositor e músico.
Passeando pelas ruas acanhadas e sinuosas da povoação, não escapa ao turista mais desatento, os pequenos azulejos incrustados à porta das pequenas casas, com a imagem de Santa Catalina. Nascida naquele local no século XVI, Santa Catalina Thomás é venerada e lembrada pela pequena comunidade, com cerca de duas mil almas.
E, naquela tarde, ao ver aquela flor pousada sobre o teclado do piano vertical da Real Cartuja de Valldemossa, recordei o citadino cemitério de Pere Lachaise, em Paris, onde, depois das exéquias fúnebres, uma misteriosa e frágil mão feminina, de rosto tapado, lançou sobre a campa, uma flor encarnada. Talvez Maria Wodzinska. Talvez um desgosto de amor. De um amor infeliz, tal como se desenhou a vida de Frédéric François Chopin – nome adotado aquando da sua ida para França - que, com apenas trinta e nove anos de idade, se sentou no trono dourado dos imortais …
Para tão grande génio, tão curta a vida …
Quito Pereira
Bonito texto!
ResponderEliminarChopin foi, de facto, um génio.
Também já estivemos em Valledemossa mas nessa altura ainda não tínhamos nem o blog nem máquinas digitais!...
Obrigado pelas referências ao nosso blog!
Não tens que agradecer nada, Alfredo. A vossa visita à Polónia, aquando da efeméride do nascimento de Chopin, é um belo documento e um regalo para a vista. Afinal, também o mote para que se fizesse uma referência a outro local - Valledemossa - onde o compositor passou momentos sombrios da sua vida. Mas merece a visita, pelo que ele representa de homenagem ao grande compositor, polaco de nascimento ...
EliminarMemorizo as palavras descritivas do 2º parágrafo, fecho os olhos, declamo-as mental e silenciosamente, retenho a imagem fotográfica de Valldemossa que não conheço e acompanho-as com o som, em fundo, da “valsa do minuto” de Chopin, interpretada pelo pianista Luis Carlos Moura Castro.
ResponderEliminarNuma simbiose romântica perfeita entre as palavras do autor e a música do grande génio que foi Chopin, como se este tivesse composto a peça propositadamente para aquele.
Quem sabe se um dia possa repetir este momento ao som do piano de André Vaz Pereira…
Obrigado Rui, pelas palavras simpáticas. São incontáveis as vezes que tenho ouvido Chopin cá em casa, por razões conhecidas. Sobretudo "noturnos". Sempre me suscitou interesse a vida de Chopin e foi com os diminutos conhecimentos que tenho da sua vida, que escrevi, à minha maneira, esta pequena homenagem ao Compositor. Fraca homenagem, diga-se, de quem não tem conhecimentos musicais para sustentar um texto de real valia. Ficou a intenção.Afinal, igual à daqueles que, por todo o mundo, também se deleitam a ouvir Chopin e a sua música universal. A música de Chopin, vem - nos direita ao coração. A obra de Chopin é um estado de alma, que tem muito a ver com a forma como vou percorrendo a vida ...
EliminarBom texto que me deu oportunidade de saber um pouco mais sobre Chopin!
ResponderEliminarEmbora não seja um grande apreciador deste tipo de música, mas sei reconhecer que estes compositores são verdadeiros génios. E claro Chopin era um deles.
Mas gostos de algumas composições,pois algumas são muito conhecidas e realmente muito bonitas!Mas na maioria dos casos não lhes sei atribuir a autoria!
O blog enriquece-se e muito com este tipo de textos!
Venham mais!
Nao fui educado ao som de musica clàssica mas evolui e hoje, aprecio imenso a plenitude dum concerto clàssico. Vàrios grupos emblemàticos do ROCK, como os DEEP PURPLE por exemplo, fizeram verdadeiras obras-primas com a participaçao de orquestras sinfonicas.
ResponderEliminarCOLMAR também é conhecida pelo seu famoso Festival anual de musica clàssica a decorrer no mês de Julho.
Gostei imenso deste texto do Quito e o blog da Daisy e do Alfredo é uma pura maravilha e convida-nos assiduamente ao passeio!
Quando te referes ao cemitério do Pére Lachaise isso inspirou-me para um dia destes ir até là, fazer uma reportagem fotogràfica. Jà là fui vàrias vezes por causa do cantor dos DOORS, JIM MORRISON.
Hoje é feriado na ALSACIA! Unicamente na Alsàcia e na Lorraine!Trabalha-se nas outras regioes de França. Uma prenda do Napoleao que o Sarkozy jà tentou eliminar mas os incovenientes desse possivel decreto seriam desastrosos!!
E porque o romantismo não se fica só pela escrita, o Quito oferece-nos mais um belo texto romântico.
ResponderEliminarSe é verdade que "filho de peixe sabe nadar", não será menos verdade que "pai de peixe também o sabe fazer".
Grande abraço.
Quanto a música e fazendo concorrência ao Tonito...se bem que mal "acomparado"
ResponderEliminarEu sou mais "BOMBO"!!!
Este já não é o fuso horário do Tonito.
EliminarEstou certo que, se o fosse, ele diria: "eu sou mais para bolos"...
Mesmo sem termos a música de Chopin a acompanhar a leitura deste texto, Chopin veio até nós pela mão do Quito que, sem saber música, como diz, nos trouxe uma bela sinfonia.
ResponderEliminarUm abraço