terça-feira, 27 de março de 2012

Onde se conta de umas "velhas" contadas... ...e se fala de casas de comer que houve na alta e já não há

Onde se conta de umas "velhas" contadas...
...e se fala de casas de comer que houve na alta e já não há



Passemos umas gerações, situemo-nos do dealbar do século dezanove, princípios de vinte.
        Continuam a abundar as casas de comer da ALTA e nem a ditatorial ordem do odiado Reitor Bailio Alberto de Sousa Pinto, determinando aí pelos anos 70, que fechassem todas as casas de pasto e bebidas e demais botequins na VELHA ALTA ( para aquém do Arco de Almedina, entenda-se depois do toque da CABRA) acabou com elas ou as atirou a todas para a Baixa para onde umas se passaram e outras refloresceram então.
     No meio de muitas outras casas, pontificavam por esse tempo, na ALTA, dois bons restaurantes onde os estudantes mais abastados que não comiam nas Pensões particulares ou oficiais, ou não viviam em República, faziam as suas refeições comuns ou umas paródias.
 Uma era o Zé Guilherme….A outra era o CAÇADORES.
Neste comia, como hóspede habitual, o Célebre DR. QUIM MARTINS de seu nome completo Joaquim Martins Teixeira de Carvalho que se doutorara em Medicina e era assistente de Anatomia, mas que deixou  em nome em Coimbra fundamentalmente como crítico de arte, homem de letras e arqueólogo.
        Nunca regeu Cadeira, embora tenha defendido Tese – toda ela virada para a arte, mais do que para  a ciência médica. Vindo de Lamego, onde nascera, para Coimbra estudar, afeiçoou-se tanto a esta terra que cita o Dr. Rafael Calado nas memórias de um Estudante de Direito, dizia “Não há bocado pequenino daquele chão (Lamego) que eu não conheça, lenda da minha terra que eu não saiba e em que não creia…pois quando vi Coimbra senti que o rio me levava a saudade da terra em que nascera”.
Cá morreu, velho, mas de espírito jovem, conforme nos conta o mesmo “biógrafo” que com ele comeu alguns anos nesse Restaurante dos Caçadores, onde o Professor de Arte – Assistente de Anatomia, e a sua garrafinha de espumante da Bairrada, eram já como um ex-libris. Outros nomes grados da Academia e depois do País, comeram nesta casa, segundo o Dr. Calado, com saber de experiência feita, servia por 15$000  reis mensais (com vinho verde incluído), as seguintes refeições:
Almoço – três pratos: Peixe, guisado e o clássico bife com ovos e café com leite.
Jantar: - Sopa, uma entrada, um guisado e um assado com acompanhamento, fruta e um mau café.
        Razão tem o Dr. Octaviano de Sá para dizer na sua excelente – “Nos Domínios de Minerva” que “na Coimbra do meu tempo comia-se bem”
Uma história do Dr. Calado:
 -Estás doente! – Que tal foi a ceia?
- Não foi mazinha, não!
-Chegaste-lhe bem!?
- Comemos um cabrito inteiro, assado!
- E quantos eram vocês?
- Éramos dois…O cabrito e eu
………………………………………………………………
Com a entrada do século continuou a comer-se bem na cidade e assim é possível, sem sair da ALTA, indicar vários poisos onde se podia aboletar e matar a passageira fome, Aí vão:
O Jaquim dos Arcos; o Pancada; A Virgínia das Canjas(real ou fictícia); a Isabelinha do Escabeche; a Leitaria do Castelo; o Raúl( agora ao pé da Maternidade); Pensão Pópó; o Bolha baixa; O Zé do Liceu; o Roxo dos Bilhares; a Aninhas; o Café do Jaquim ( Monstro)-que depois foi para a Praça da República; Pensão do Padre Saúl; Tasca do Buraco; Tasca do Damião;Leitaria Coninbricense; Olho do Cu,etc.


A seguir : o Pirata e o Pica

14 comentários:

  1. Esta do "somos dois ... eu e cabrito" fez-me rir ...
    Por falar em "bons garfos, recordo um casal de certa idade, que se hospedou na quinta de um primo meu no Sargaçal (Lagos). Uma noite, como todas as noites, enfardaram à grande e à francesa e ela de noite sentiu-se mal e foi para o hospital, com suspeita de enfarte.
    De manhã, no hospital, diz quem ouviu, que o diálogo dela, com o médico, foi mais ou menos assim:
    Médico : sabe que não devemos comer em excesso à noite ...o que é que comeu ?
    Ela:comi um goraz no forno, Sr. Dr ...
    Médico: uma posta ...
    Ela: não ...um goraz inteiro ...
    Médico: Fez muito mal, deitar-se a seguir ...
    Ela: eu não me deitei logo senhor Dr., ainda dei uma volta pela quinta ...sabe eu nunca me deito sem beber 1 litro de leite e comer um pacote de bolacha "Maria" ...
    Isto se não fosse real, até parece uma anedota ...

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  2. Bife com ovos acompanhado de guisado e peixe, tudo regado com uma copázia de café com leite, é menu que não me passava pela cabeça.

    Mas não lhe fica atrás a história contada pelo Quito, da Senhora que foi parar ao hospital mal disposta depois de enfardar um goraz inteiro no forno mais um pacote de bolacha e mais um litro de leite.
    Com muitas pessoas assim, o Serviço Nacional de Saúde apressaria
    a sua falência...

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  3. O Zé Marujo, uns bons 130 quilos em canal, era pegador de toiros e dono de vários talhos no Entroncamento. Ia muitas vezes almoçar ao Restaurante Frango Real com cujo dono já tinha acertado o seu menu habitual.
    O Restaurante vendia-lhe meio quilo de batatas fritas, três ovos estrelados, um pão de meio quilo e mais meio quilo de azeitonas retalhadas. Reservava-lhe duas mesas onde previamente estavam colocados os talheres e duas garrafas de sete e meio de vinho tinto.

    Ele chegava ao resturante, dava à cozinheira um bife que ele trazia consigo do talho, que oscilava entre 1 Kg e 1 Kg e meio, ela fritava-o e servia-lho numa grande travessa juntamente com os restantes acompanhamentos.

    No final, o Zé Marujo, como um lagarto ao sol, pernas esticadas pela sala fora, a barriga como um tambor, palitava os dentes enquanto ia bebendo um copo meio de bagaço vadio...

    Ainda era novo. Não sei se ainda é vivo, mas tenho as minhas dúvidas...

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  4. Mesmo aqui por estas bandas, eu pasmo com a resistência de alguns tipos a comer e a beber. São autenticas enfardadeiras e nem percebo como se bebem 6, 7 ou 8 cervejas e se fique, aparentemente, na mesma.
    Já estou como o Obelix que perguntava: " doente do figado ? mas o que é o figado ? ..não sabia que se podia adoecer disso" ...

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    1. Quanto ao número de cervejas, é possível pois aprendi isso com os alemães com quem trabalhei. Íamos até ao café, mandavam vir canecas de cerveja e nunca mais paravam. Eu bebia pouco e via-me aflito, até que um dia me disseram qual era o meu problema: era urinar. Eles de facto bebiam e não urinavam. Tentei mas a bexiga não estava domisticada. Moral da história: eles devem ter cá um balão...

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    2. Só agora notei que não disse que enquanto aguentava sem urinar, dava resultado. Só que a um momento a aflição era tal..., que me despedia e ia para casa sem urinar. Se bem que nunca tenha acontecido, à horizontal estava seguro que nunca caía. Nunca fui de beber muito.

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  5. Que venham os glutões!
    O Quito anda mal informado:alguns amigos do Bairro devem partir-se a rir,quando não percebes as 6,7 ou 8 cervejas...Alguns só começam a contar depois das 15!
    Note-se:não sou bebedor,nem apreciador,de cerveja.
    Gostei muito da estorinha do cabrito,do goraz e do bife de quilo...
    Haja saúde!
    Com um tinto de Lamas,À VOSSA!

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    1. Lamas é uma boa zona. ( Eu não disse boazona!)

      Estou contigo, tinto e só tinto desde que tenha qualidade.
      Já lá vai o tempo em que eu dizia que a cerveja me começava a saber bem a partir do terceiro "fino"...

      Ai Quito, Quito, quão ingénuo és...

      Um abraço para ambos os dois.

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    2. Prontossss Rui Lucas, 20 cervejolas e não se fala mais no assunto ...

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  6. Glutões!

    Não sei se conhecem a história do glutão que, com a "ementa" na mão, disse ao empregado:
    - Traga-me a ementa.
    - Mas, Vosselência tem a "ementa"...
    - Tá bem, homem! Pode começar por me trazer o primeiro prato da ementa e acabar no último.

    Grande glutão!

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    1. Viana, se eu não fosse um gajo ingénuo, não permitia que o Rafael e o Abilio, me mamassem uma dúzia de carapaus porque me apanharam distraído e eu é que paguei a conta. Eu não sou um ingénuo ...sou um mártir ...

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  7. A propósito de comidas:hoje fui à Brasileira,recordar o bife.Não recomendo.

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  8. Ainda bem que avisas, quanto ao bife.
    Já por lá passei e senti-me bem com uma "empada de carne" e um "fino"
    Ontem de tarde tinha as mesas todas cheias de clientes.
    Foi bom ter reaberto.Fica ali muito bem!Sempre é melhor que uma loja de roupas!
    Tenho dito!

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  9. Bem.Aquilo está mais agradável e bem decorado.
    Quando desci do 1º andar,cerca das 3 da tarde,não havia meia dúzia de pessoas nas mesas do rés-do-chão e a esplanada estava vazia.
    Não havia mesas era nas esplanadas do Toledo e do Montanha.
    Quanto ao bife:a carne parecia ter sido tirada da parte dos cornos!
    Quanto a preços:são bastante comedidos,mesmo na carta de vinhos.
    Também confesso:já me custa subir aquela escada em caracol,até ao 1º andar.
    Prefiro outras paragens.

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