quinta-feira, 1 de março de 2012

REVISTA DA IMPRENSA

REABRIU A BRASILEIRA
Momento da inauguração pelo Presidente da Câmara
 Foto Rafael
foto Rafael



Um aspecto do interior-foto Jotta Leitao
foto Jornal de Negócios
Inaugurado em 1928, foi um espaço de referência para os intelectuais e ali surgiram ideias e acções que ajudaram a mudar o rumo do País. Alguns milhões de euros depois, a partir de hoje volta a servir o tradicional café de saco num espaço que restaurou também algum mobiliário original.
Depois de 17 anos a albergar uma loja de venda de roupa a retalho, a histórica loja da baixa de Coimbra reabre esta tarde como café. Até 1995, albergou tertúlias históricas com personalidades como Zeca Afonso. O empresário local, Lúcio Borges, quer “manter e aproveitar a marca” para conseguir retorno para o avultado investimento, que envolveu a recuperação de todo o prédio.

Ao Negócios, Lúcio Borges não quis revelar o montante total do investimento – “está guardado, nunca disse e não vou dizer” – neste projecto que demorou dois anos a concretizar. Este foi o tempo necessário para completar as obras de requalificação da loja e de todo o prédio, situado na rua Ferreira Borges, em plena Baixa da cidade.

“Não houve nenhum apoio, foi tudo custeado apenas por mim”, sintetiza. E como perspectiva o retorno desse investimento? “A perspectiva de retorno... vamos trabalhar para isso. Vamos ver daqui a uns anos. A ideia é manter e aproveitar a marca”, acrescentou. O slogan permanecerá, à imagem do que sucede nas lojas (independentes) de Lisboa, Porto e 
Braga: “O melhor café é o d’A Brasileira”.

“Isto foi um pronto-a-vestir até 2010. Nessa altura, quando procurava um espaço, entrei em acordo com o senhor do pronto-a-vestir, que estava interessado em despachar o negócio, e com o proprietário do prédio”, relata Lúcio Borges, que também há 17 anos entrou neste ramo, com uma pastelaria com fabrico próprio, que se manterá de portas abertas.

O “passado histórico” deste espaço emblemático para a cidade foi assim o principal motivo da escolha. A partir de 1 de Março, os clientes mais antigos podem reviver algumas das experiências. Estarão de volta, enumera, o café de saco, o bife e o bacalhau, que “em termos de refeições sempre foram os pratos mais falados”. Além de cafetaria e restaurante, passará também a ter serviço de padaria.

O projecto foi concebido pela “IPOTZ Studio”, gabinete de Arquitectura e Design de Interiores, e pelo gabinete “Luis Flório Arquitectos”, ambos de Coimbra. Foram eles os responsáveis pelo novo “espaço diferenciado de linhas modernas”, que, relata Borges, “terá algum do aspecto que tinha antes de fechar e recupera algumas peças originais, que foram recuperadas”.


in Jornal de Negócios

18 comentários:

  1. Pode não ser a "Brasileira" de outras eras. Pode já não ser o espaço de debate de ideias e de "conspirações" surdas ...
    Um dia, a Brasileira, esse baluarte de Coimbra, foi roubado à cidade. E todos ficámos mais pobre.
    Regressa agora, de cara lavada e com o nome que não poderia ser outro - Brasileira. Era imperativo.
    Desengane-se quem pense, que já não há nada a contestar. Quinze em cada cem portugueses, estão desempregados. Ora aí está um bom tema, para nos sentarmos ao redor de uma mesa na Brasileira.
    Que este evento, seja o tiro de partida para a revitalização da baixa coimbrã.
    Vamos dar as mãos. Saudemos Coimbra.

    ResponderEliminar
  2. Por ali passaram gerações sucessivas de figuras que marcaram Coimbra, num espaço livre e de debate onde a maioria republicana permitia e tolerava alguns monárquicos, onde se debatiam os temas mais profundos e variados, onde se discutia muita politica quando estava garantida a ausência de policias e de bufos, ou mesmo tácticas futebolísticas quando a sua presença era detectada.
    Foram , entre muitos outros, frequentadores habituais nas décadas de 50 e 60, Paulo Quintela, Alberto Vilaça, Pais de Brito, Albano da Rocha Pato, Zeca Afonso, Rui Pato, Vitorino Nemésio.

    Que o regresso de A Braileira, agora remoçada, retome os seus pergaminhos e seja de novo um espaço, dos tempos modernos, onde o debate continue, como diz o Quito, para que a Baixa de Coimbra volte a ser o que era...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Permitam-me acrescentar mais alguns nomes: Abilio Hernandez e Uriel ; no canto superior direito Lucas Pires.
      E já agora um episódio passado comigo. Depois de ter saído de Coimbra , em 1966, tive de passar por Coimbra em serviço . Por um misto de saudosismo e curiosidade fui, com um colega, à Brasileira tomar uma bica; quando o funcionário nos serviu ,virou-se para mim e disse :" Estou a reconhecer o Sr.Há muito tempo que o não via. " ficámos a conversar durante um bocado, relembrando alguns amigos e tempos passados. O meu colega ficou admirado com a memória do funcionário. Haviam passado cerca de 20 anos que não entrava n "Á Brasileira".
      Al. Casais

      nota extra: estou a meter este texto como resposta a R. Felicio, porque não consigo enviá-lo independente

      Eliminar
  3. Coimbra está hoje de parabéns.
    Que a nova Brasileira seja de novo aquele espaço de debate de ideias que outras ideias fará brotar.

    ResponderEliminar
  4. Vamos lá ver isso! Não espero encontrar (nem faria sentido) o "mesmo" ambiente, mobiliário, iluminação, máquinas, etc... mas que tenha dignidade e respeite a sua história.

    ResponderEliminar
  5. A cerimónia de Reabertura será às 19H00.
    Lá estarei, e darei conta do que observar

    ResponderEliminar
  6. Ainda não consigo compreender, como é que uma casa com tanta
    tradição em Coimbra, acabou como uma loja de pronto a vestir.
    Recomeçou, vamos ver o que vai dar.
    Tonito.

    ResponderEliminar
  7. Caro Tonito,

    Puseste o dedo na ferida. Responder-te-ei que os lugares de culto e de convivio humano foram sendo vencidos pelo vil metal que esta sociedade preza acima de todas as coisas.
    Sucedeu o mesmo com o Mandarim, substituido por um Mac Donald, com o Café Martinho em Lisboa, que deu lugar a um Banco, com a casa onde viveu Johan Strauss em Viena de Austria, comprada para instalar também Um Mac Donald.
    E os exemplos poderiam multiplicar-se...

    ResponderEliminar
  8. Só amanhã irei rever a Brasileira.
    Mas lembro-me das transições,ao longo das últimas décadas.Primeiro foram desaparecendo os cafés e apareceram agências bancárias;depois,as agências bancárias foram desaparecendo e apareceram as lojas de chineses;ultimamente,também estas estão a desaparecer e a proliferar as lojas de compra e venda de ouro.
    Durante este tempo,as pessoas perderam hábitos de convívio e de tertúlia e optaram por uma casa tipo "castelo":segurança a toda a prova,condomínio fechadíssimo,aparelhagens de som sofisticadas,ver cinema e concertos em casa,com uma cada vez maior doença securitária.
    O homem,o tal ser eminentemente social,passou a ser um ser isolado(limita-se a um belo "refúgio" de família),com desconfiança de tudo e todos que estejam fora do seu "castelo".
    A "sociedade de abundância e bem-estar" fomentou o HOMEM SÓ.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  9. Embora com a certeza de que nunca será possível repor o ambiente de tertúlia, o ponto de encontro de muitos democratas quando a democracia era proibida, com a certeza de que nunca mais comeremos um "bife à Brasileira", vejo com alegria que alguém tenta fazer com que o emblemático café de Coimbra retorne às suas origens.
    Que seja bem sucedido, são os meus votos muito sinceros.

    ResponderEliminar
  10. Lá estive para ver como iria ficar a "Velha(nova) Brasileira!Rui Pato e Zé Leitão também não quiseram faltar.Mas estava uma pequena multidão, curiosa des presenciar este momento.
    Como a confusão era muita...voltei mais tarde, com mais calma!
    Claro que está um espaço que nada( ou quase nada) tem a ver com o espaço antigo!
    Mas está alegre, moderno.
    No primeiro andar irá funcionar uma sala restaurante para 30 lugares, com o bife à brasileira!

    ResponderEliminar
  11. Um pouco de humor....enquanto se aguardava a reaberura, já se faziam apostas!!!??? - quando será o primeiro assalto? Enfim...modernices!!!

    ResponderEliminar
  12. Lembro-me daquela vez em que comecei numa ponta da vitrine dos bolos e só acabei na outra :) Até me vêm o cheiro a torradinhas e a memória dos suportes dos guardanapos a dizer "Licor Beirão" ...

    Saudemos pois o regresoo da Brasileira ...

    ResponderEliminar
  13. É a Brasileira...em título....MAS NÃO É A MESMA COISA!!!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois...
      Por isso eu dizia que nunca mais comeremos um "bife à Brasileira"...

      Eliminar
    2. É uma Brasileira demasiado clean, sem patine, sem o fumo de antigamente que estimulava as discussões.
      É uma Brasileira branca como uma noiva virgem.
      Quanto ao bife vamos ver...
      Nada será hoje como ontem foi.

      Eliminar
  14. Recordar a BRASILEIRA...e as noites....


    COIMBRA

    "Águas/ das fontes calai/ Ó ribeiras chorai/ Que eu não volto/ a cantar" BALADA DO OUTONO in Baladas e Canções (1967)

    Noitada na sala de bilhar do Café da Brasileira, em Coimbra. Muitas das canções de Zeca Afonso hão-de nascer assim, instigadas pelo colectivo, e pelo entusiasmo, noite fora. É preciso alguém que o acompanhe à viola. Zeca liberta as canções dos "pruridos coimbrões", do lirismo convencional e lamechas, do narcisismo autocomplacente dos que envergam capa e batina, como se fossem capas de cavaleiro andante. Levanta-se uma urgência súbita: precisava-se de alguém que tocasse viola. Ergue-se um adolescente que, por acaso, estava ali com o pai. É o princípio de uma amizade e de uma parceria de oito anos; "uma das mais enriquecedoras experiências da minha vida", conta hoje Rui Pato, 58 anos, médico pneumologista, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Coimbra, que começou, nessa mesma noite, a acompanhar Zeca Afonso. "Imagine-se o que representou para mim, com apenas 14 anos, essa oportunidade de lidar de perto com dois mestres como Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira." Ele estava no 4.º ano do liceu, Zeca já homem feito, licenciado (em Histórico-Filosóficas), já defendera a sua tese sobre Sartre, já se tinha casado e separado (dois filhos), feito a tropa... Já tinha corrido o circuito das repúblicas e da boémia coimbrã, já enveredara pelo semiproletariado das aulas e explicações, num regime de sobrevivência endurecido, já estava debaixo de olho da PIDE. "Tenho uma soma de experiências que daria para uma novela dostoievskiana", escreve em 1962.

    Zeca e Pato partem pelo País, em concertos (sobretudo em colectividades populares e associações de estudantes), à boleia ou de comboio ("havia sempre alguém que nos dizia 'apareçam na estação, na composição tal...', e estava lá sempre um camarada que nos transportava de borla"). Dentro da caixa da viola seguiam Avantes! e outros jornais clandestinos. A visão poético-estudantil, "do herói da capa e batina", esmoreceu à medida que tomava contacto com as desigualdades sociais. A sua música também mudou. "Ele costumava dizer que não queria o canto amarrado nos arames da guitarra ", conta Rui Pato. Foi o momento de viragem de Zeca Afonso, de rebelião, quase.

    "Carrego essa mágoa há anos, a de eu próprio não ter tido a clarividência suficiente para perceber, na altura, o passo histórico que se estava a dar", continua.

    ResponderEliminar