Nasci. Renasci ...
A Natureza floriu. Corro pelos campos, ao encontro de mim. Em cada fio de água, em cada árvore, em cada jardim, um novo alento de Vida. É a carícia dos dias solarengos, que me afaga a alma, neste terno e eterno amanhecer. Por onde a vista alcança, neste vazio espacial, há uma explosão de cores, que me acolhe e me abraça. É António Vivaldi, a dialogar comigo. É sua música triunfal, a trespassar-me os sentidos. Como o rumor de um ribeiro cristalino, saltitando por entre as fragas do meu deslumbramento. Nasci. Renasci. Solto amarras deste porto transparente de afetos. Faço-me ao largo na Barca do Tempo, contemplando a bonança do marulhar dos dias gloriosos de felicidade. Tal como a Amélia do cabelo alvo e rosto cândido, sentada na soleira da porta da casa vetusta, tecendo os ténues fios do Destino, também eu vou tricotando a malha da minha existência parda. Mas hoje, aqui, neste Lugar, recuso-me a repousar - por mais ao de leve que seja - os meus dedos sobre as teclas do amor infeliz de Frédéric Chopin por Maria Wodzinska.
Desespero de esperança. Agora, que nas entranhas deste vulcão de emoções, o Sol se esconde no horizonte, arrastando o seu manto escarlate, vou acreditar, quero acreditar, tenho que acreditar, que a Natureza, generosa para com este simples caminhante, me sentará entre os vulgos mortais, no Assento Etéreo de uma alvorada perpétua.
Evoquemos Vivaldi e o inebriante perfume da sua genialidade barroca. Invoquemos a pauta colorida e os violinos cristal, nos seus exaltantes e melódicos acordes.
Brindemos à intemporalidade do aroma de uma flor.
Saudemos a PRIMAVERA.
Quito Pereira
Desespero de esperança. Agora, que nas entranhas deste vulcão de emoções, o Sol se esconde no horizonte, arrastando o seu manto escarlate, vou acreditar, quero acreditar, tenho que acreditar, que a Natureza, generosa para com este simples caminhante, me sentará entre os vulgos mortais, no Assento Etéreo de uma alvorada perpétua.
Evoquemos Vivaldi e o inebriante perfume da sua genialidade barroca. Invoquemos a pauta colorida e os violinos cristal, nos seus exaltantes e melódicos acordes.
Brindemos à intemporalidade do aroma de uma flor.
Saudemos a PRIMAVERA.
Quito Pereira
Bonita saudação à PRIMAVERA!
ResponderEliminarAssisti uma vez, nos floridos jardins do Casino de Monte Carlo, numa amena noite de Primavera, ao Bailado “As Quatro Estações” coreografado com música de Vivaldi, que agora recordo ao ler este belo texto.
ResponderEliminarSendo eu preferencialmente adepto da melancolia e do romantismo do Outono, não esqueço a explosão de vida que esta obra de Vivaldi despertou nos movimentos dos bailarinos, quando anunciava a Primavera.
Algumas das descrições do Quito poderiam perfeitamente terem sido grafadas no libreto daquele bailado.
Primavera em grande destaque!
ResponderEliminarE merece!
Também é a estação de que mais gosto!
E o Quito quis prestar-lhe a devida atenção escrevendo este bonito texto, suportando-o nas "Quatro Estações" de Vivaldi"!
Que a Prima Vera também te agradeça!
Está tudo bem.
ResponderEliminarNo Porto quando da tropa em 67 eu conheci o BiBALDE.
A bebida era era sempre servida duas vezes em bebidas normais.
A alcunha ficou o Vibalde do Copo.
Desculpem este devaneio, mas foi assim em 67.
Tonito.
Repousei os olhos na imagem do violino vestido de suaves flores!
ResponderEliminarA evocação à primavera, como sempre bela, transmitida no texto do Quito, complementou a foto.
O Tonito ficou tão eufórico com a chegada da prima, que lhe deu para o humor...
Diria humor negro. Nada condizente, quer com Primavera, quer com o belo texto do Quito!!!!
ResponderEliminarPodes dizer humor de brancos.
EliminarOlha o degrau.
Tonito.
É antiga a minha dificuldade em reconhecer, no estilo literário do Quito, um estilo com uma única referência.
ResponderEliminarRomantismo, Realismo, Neo-Realismo?
Há muito que defendo que o Quito, conforme o tema, varia a influência da "escola literária". Muito provavelmente, sem intencionalidade própria, movido apenas pelo seu momentâneo estado de espírito.
Conforme o conto, conforme o estilo literário.
Penso que poderemos dizer que o Quito escreve à Quito...
Nesta Primavera, com Vivaldi em pano de fundo, temos o Romantismo.
Quando brinda à "intemporalidade do aroma de uma flor", faz o exagerado elogio dos valores da Natureza...
Tentando defender a "minha dama", vejamos:
O poeta romântico inglês Coleridge exprimiu a mesma ideia do seguinte modo:
"(E se adormecesses? E se, no teu sono, sonhasses? E se, no teu sonho, subisses aos céus e ali colhesses uma estranha e bela flor? E ainda se, ao acordares, tivesses a flor na tua mão. Ah, como seria, então?)"
Então?...
Toma lá mais um grande abraço.
Quem comenta escrevendo assim, não é gago na ponta dos dedos!
EliminarOs textos do Quito são bons, mas os vossos comentários são também "à Tonito" de alto gabarito!
O Viana abriu o livro. E perante um Homem que já foi juri do Prémio Miguel Torga, o melhor é eu calar-me. Vou remeter-me a um recatado silêncio ...
EliminarAbraço Viana
A exaltação da Primavera chegou com o doce e estimulante Vivaldi trazido pela mão eloquente do Quito.
ResponderEliminarEmbora a intemporalidade seja uma falácia. gosto da intemporalidade do perfume dum flor, do som dum violino, do voo duma bailarina, do gemido rouco que se solta de prazer no fundo duma garganta, do sol quando nasce ou se despede em arautos de reflexos e luz, gosto desta Primavera, da tua Quito que agora é também nossa.
Agora que aqui cheguei, venho agradecer a todos os que ontem se sentaram à mesa da amizade fraterna. Até houve quem brindasse,jocosamente, a uma primavera parda.
ResponderEliminarComo disse, a todos agradeço, apenas fazendo um "reparo" ao meu bom amigo Carlos Viana, que insiste no meu "estilo literário". O Viana, quer, à viva força, meter na minha mão uma caneta de prata, a quem só escreve com um modesto lápis "Viarco" ...
Tomem lá todos um abraço
Já escreveste com lápis Viarco, com lápis de tinta a que se molhava a ponta entre os lábios, com caneta de tinta permanente, não sei se com caneta de prata,mas seguramente com caneta de molhar o aparo no tinteiro, com esferográfica e agora até com os dedos no teclado de um computador.
ResponderEliminarMas que importa a ferramenta utilizada, se o que contam são as ideias, a sensibilidade e a enorme capacidade que tens de as transformar em palavras?