As pequenas flores brancas ao
luar estavam divinas, o balançar suave da folhagem embalava-o. Como ele gostava
das árvores, das flores, da brisa a percorrer-lhe o corpo!
As cadeiras da esplanada tinham
estado até há pouco, cheias de jovens na flor da vida, numa algaraviada alegre
e ruidosa, ao lado de velhos lendo o jornal e bebericando, calados. Agora
desertas, cobertas pelo manto do silêncio da noite e da luz crua do luar,
projectavam estranhas sombras disformes na calçada, em nuances desmaiadas.
E ele ali, por trás da vidraça,
enclausurado, proibido de correr, de saltitar, de andar livremente banhando-se
naquela luz maravilhosa que o céu derramava.
Não estava doente, não tinha
cometido nenhum crime de que merecesse castigo, não fizera nada de mal. Mas a
verdade é que se encontrava ali preso, impossibilitado de sair. Sofria por não
poder andar na rua em contacto com a natureza que tanto amava. Até o torreão do
Centro Norton de Matos, que tantas vezes olhava sem quase nele reparar, agora
parecia querer oprimi-lo, altaneiro, pronto a desmoronar-se e a esmagá-lo.
Os arbustos e as árvores de fruto
dos quintais do bairro que tanto o deslumbravam, pareciam-lhe, olhados através
dos vidros, formados por inúmeros braços estendidos ameaçando-o de o agarrar, de o asfixiar.
O coração batia-lhe
descompassadamente, a garganta secava-se-lhe de terror. Não era capaz de estar
fechado. Já lhe tinham dito que era claustrofóbico. Mas não era só…
Pior ainda do que isso, era a
consciência de que a sua vontade de nada valia. Apertava-se-lhe o peito por
saber que lhe não era dada a liberdade de sair dali quando lhe apetecesse.
Já de manhã, regressada a pouco e
pouco a azáfama de pessoas para cá e para lá, viu um Senhor magro e alto, de
sorriso simpático, fazer-lhe sinal para ele sair.
Respirou fundo, pareceu ganhar
uma nova vida e correu para a liberdade da rua, através da porta escancarada do
café Vasco da Gama onde tinha passado a noite. Não sem antes bater as asas em
direcção ao seu libertador, em sinal de agradecimento.
Aquele pardal nunca esquecerá o
gesto do Paulo Moura!
Rui Felicio
É por pequenos gestos como este do Paulo Moura, que se medem os princípios das pessoas, que se vê quem são aqueles que beberam chá em pequenos.
ResponderEliminarPodem achar que é pieguice minha, mas esta atitude sensibilizou-me e comoveu-me.
Vocês querem-me dar cabo da maquilhagem, carais?!
ResponderEliminarSe eu usasse base como o repórter da RTP que estava junto à porta da Maratona, no Jamor, já estava com as trombas todas esborratadinhas!
E digo-vos mais: o meu Pai, o Professor Rogério, se fosse vivo, haveria de estar orgulhoso dos amigos que tenho. Eu... nem sei que vos diga...
Rui Felício, tu tens um valor extraordinário!
EliminarNão digas nada Sãozinha.....continua a fazer!!!!!!
EliminarPronto, eu calo-me. Aliás, já dizem os sábios que "a língua e um instrumento erradamente usado para falar".
EliminarO Paulo Moura, transpira sensibilidade e afetos. É amigo do seu amigo. Por vezes, como diz o Felício, há pequenos grandes pormenores que definem o caráter de uma pessoa. A estima pelos animais, por mais pequenos ou insignificantes que sejam, é uma das marcas que distinguem a estrutura cívica de um qualquer cidadão.
ResponderEliminarMas a prosa do Rui, não pode passar em claro. Há sempre o risco do elogio fácil, mas o que é justo é justo. O Rui, desta vez, não escreveu um texto. Escreveu poesia. Poesia, também ela, bela e comovente. Mas apenas para os que a sentem. Porque para o autor deste belo texto, a vida não se faz apenas a régua e esquadro. Nem ao sabor da frieza dos números cinzentos a que nos vamos habituando. Felizmente que ainda há quem consiga dar cor à matemática das palavras.
Um abraço ao Paulo e outro ao Felício
Pois é, Quito. A gente sabe bem que o Rui Felício é um escritor. Ninguém duvida. Como tu és. Só tu duvidas.
Eliminarahahahahahahahahahah
Não te rias Paulo, que desta vez o assunto é sério. O Rui pôs a alma no grelhador e disse de uma forma como só ele sabe fazer, aquilo que já há muito merecias ouvir...
EliminarPonto final. Parágrafo.
Não mudes de conversa, c'um catano!
EliminarC'um catrino digo eu !!! Não te ponhas a assobiar para o ar e a fazer elogios de literatura. Hoje o elogiado ( bem merecidamente) és tu ! Aguenta-te à bronca e não disfarces ...
EliminarFarces!
Eliminar(pronto, já disse)
Muito Obrigado. AMIGOS.
ResponderEliminarTonito.
Abre acção, Tonito!
EliminarO Felício está muito calado ! Se calhar foi polir a prancha de "surf", porque gaba-se que vai da Ericeira ao Bugio em cima dela de braços abertos em perfeito equilíbrio deslizante ...
ResponderEliminar(mas aonde é que já ouvi esta ?)
Andava por fora!Cheguei e abri a caixa do correio!EH! pá tanto comentário à Liberdade!
ResponderEliminarNã, deve ser postagem nova!Sensilidade, afetos, assunto sério, cúm catano, não assobios pró ar,aguenta-te à bronca, o Paulo transpira,poesia bela e comovente, frieza de números cinzentos, dar cor à matemática das palavras, não é pieguiçe minha...comoveu-me.
Deve ser texto do Rui Felício.
Interronpo aqui a leitura dos comentários.
Vou comprar um maço de lenços de papel!
Já volto e depois vou então ler o texto!
Se é do Rui Felício tem de certeza absoluta um final Feliz!
Até já!
Pensei que tinhas ido depositar as nossas ajudas de custo ...
EliminarRafael, compra três maços que só eu gasto dois!
EliminarVou m'imbora Rafael ...agora é a tua vez de entrar de turno ...
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarPois é...os notívagos são assim! Acordei, pois a noite foi longa, agarrado ao laptop...descarrregando ficheiros e mais ficheiros (matéria para o EG), para um disco externo! Sim...que os Megabytes "pesam"..e depois isto parece o meu primeiro computador...com uma memória RAM de...47 MB!???...ou o meu 2 Cavalos a subir a R. dos Combatentes a...10km/h !!! Riam ...riam...que a descer a mesma rua, e com o vento a favor...atingia os 70 Km/h!!!??? Bem! Ás vezes lá ficava uma peça para trás...mas sempre na bolina!! Mas tudo isto para vos dizer que,desde o 1º dia em que o Don Rafael me apresentou o Paulo, percebi logo que se lhe aplicam todos os elogios aqui já manisfestados! Sempre disse, que um gesto, uma palavra, uma atitude definem a nobreza dos Homens de bem!!! E quem sai aos seus!!!?. O texto do Rui Felício é a "poesia" certa!
Eliminar....
Um pormenor...da fuga para a liberdade do passarito, foi o Paulo que carinhosamente o aconchegou na mão...e colocando-o no tejadilho do carro, lhe permitiu após breves segundos de "retemperar forças"...o vimos levantar voo para a árvore mais próxima!!!
...
Com esta é que me tramaste, JottaElle.
EliminarLá vou ter que apagar também o meu comentário ali de cima.
ahahahahahahahahah
Abre aço!
Os patos reais...entrap noutra cena!!!
EliminarBem interessante, essa cena.
EliminarVolto mais tarde.
ResponderEliminarAgora vou ao Estádio para continuação da festa da Taça.
Académica-Angola.
Quito aguenta mais duas horas.
bilindo:o texto e a acção
ResponderEliminarum abraço aos dois e boa sorte ao pardal
Então, com o pardal, é trilindo :O)
EliminarDe pequenas e simples coisas, tu consegues fazer poesia evidenciando a sensibilidade que possuis à flor da pele, transcrevendo com rara beleza, pequenos acontecimentos que a qualquer comum dos mortais passaria despercebido!
ResponderEliminarÉs uma espécie de Rei Midas, não no sentido que lhe é atribuído, mas sim no sentido em que tudo o que tocas( escrita, of course),transformas em narrativas de rara beleza que quase sempre me tocam profundamente.
Tenho que confessar honestamente que me estou a habituar a ler tudo o que escreves ao contrário, quero dizer do fim para o principio, pois a ânsia de saber o que guardas para no fim nos surpreender, não me deixa concentrar devidamente!!! E olha que não me estou a dar mal com este método, porque depois com mais calma, mergulho em êxtase em cada palavra que escreves.....
GOSTEI MUITO Rui!!!!!!!!!
Ora cá estou e agora sim li o texto pausadamente!
ResponderEliminarDevo dizer que fiquei "apardalado" isto é muito sensibilizado e feliz pelo facto do Rui Felício a propósito do passarinho(pardal ou pardala) que estava prisioneiro na pastelaria Vasco da Gama, ter aberto o bico para seduzir o PM ou a SR, e o ou a devolvesse à liberdade! Logo lhe estendeu a mão e o passarinho/a cantou às 9 da madrugada em frente ao Samambaia a canção da Liberdade em cima do capot do potente carro!
Rui Felício conseguiste comover o Paulo Moura!
Aproveitaste este episódio do passarinho/a para evidenciar as qualidades do Paulo Moura.É um " amigo " de verdade.
Tenho muitos amigos/as, mas sem desprimor para todos os outros, posso dizer com "toda a propriedade"(com autorização do Tonito) que é o meu principal amigo! Só alguém com as qualidades humanas dele podia ter a paciência infinita para me dedicar também a sua amizade!
Tem me dado inúmeras provas dessa amizade.
Para ele um abraço
E para a nossa amiga São Rosas companheira de tantas "brincadeiras" um beijo profundo, sincero dos que a fazem sentir-se "toda molhadinha"!
Chiça, Rafaelito, com essa é que tu me f... comoveste ainda mais.
EliminarQuando li o texto do Rui Felício, pensei que eu próprio sou um passarito que saiu da terra há muitos anos e a quem tu e a Celestita um dia "levaram" para uma "terra" de gente extraordinária.
Desde então, tenho o maior luxo que qualquer pessoa (ou passarito) pode ter: a vossa amizade. E estou longe da terra mas vivo com o coração num bairro: O (também meu) Bairro.
Bem hajais!
Rafaelitolindo, é desta que convences a Celestita a deixar-te casares-te comigo?
EliminarOu então, deixas tu a Celestita casar-se comigo?
Ou vão-se revezando?
Ou vamos para Marrocos e casamos os três?
...
Sabem o que vos digo???? Que vocês são uma cambada de doidos saudáveis, que nos trazem boa disposição e alegria!!!!!
ResponderEliminarVivam os noivos!!!! Sorry....os "doidos!!!!! Vivam!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ó Teresa que és Lousada mas não sei quem te Lousa... o único doido aqui sou eu. O resto da malta só me tolera as doidices, por amizade.
EliminarUm excelente texto que nos expõe os momentos de incerteza de um pássaro, terminando com o acto louvável do seu arrojado salvador.
ResponderEliminarPor este lado também tratam muito bem os animais. Se fôsse aqui esse pássaro também teria sido posto em liberdade, pois teriam chamado a Sociedade Protectora dos Animais para o retirar e muita gente à-volta para ver como os especialistas faziam. Outras terras, outros costumes.
Francamente: nem sei se felicite o salvador ou o escritor. Felicito os dois.
Desculpa, mas ao Rui Felicitas. A mim, podes Mourar-me.
EliminarNesta espécie de blogue, como o Quito gosta de dizer, se um gajo se distai 24 horas, por isto ou por aquilo, quando cá chega já está ultrapassado pelas direita alta e pela esquerda baixa - se bem se lembram, estamos a falar de teatro.
ResponderEliminarDiverti-me a ler os comentários, mas também recolhi as muitas mensagens sérias que alguns deles contêm.
Quanto ao assunto, como diria o Tonito, é assunto.
Se é verdade que "vejo", com toda a naturalidade, o Paulo Moura a salvar o passarito, "vejo" com a mesma naturalidade este texto do Rui Felício, enaltecendo a atitude do amigo.
Um e outro, actuaram não por pieguice mas por sensibilidade própria.
Cada um à sua maneira, deixa claro que há pequenas coisas na vida que fazem a diferença entre o Homem e o animal chamado de racional mas que muitas vezes não o é.
Um grande abraço para ambos os dois.
E, já agora, um grande abraço para Dom Rafael, por motivos...
Ou seja, um grande abraço para ambos os três!
Ou seja, um abraço com ambos os quatro.
ResponderEliminarMas que lindo texto escrito por um doce pardal dedicado a outro doce pardal...
ResponderEliminarE nós pardalitas e pardais quanta doçura vimos nos vôos das palavras escritas...
Abraços e beijos.
A malta ficou toda apardalada :O)
EliminarVoa pardalito, voa
ResponderEliminarpara onde há gente boa.
Amigos especiais
com atitudes naturais
de quem ama a Liberdade!
Escuta os seus corações.
Alimenta as ilusões
que nos sabem transmitir
e nos fazem sentir
que ainda vale a pena
uma amizade plena!
Isto é que é fechar com chave de ouro, Celestita.
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