sexta-feira, 25 de maio de 2012

LIBERDADE



As pequenas flores brancas ao luar estavam divinas, o balançar suave da folhagem embalava-o. Como ele gostava das árvores, das flores, da brisa a percorrer-lhe o corpo!
As cadeiras da esplanada tinham estado até há pouco, cheias de jovens na flor da vida, numa algaraviada alegre e ruidosa, ao lado de velhos lendo o jornal e bebericando, calados. Agora desertas, cobertas pelo manto do silêncio da noite e da luz crua do luar, projectavam estranhas sombras disformes na calçada, em nuances desmaiadas.
E ele ali, por trás da vidraça, enclausurado, proibido de correr, de saltitar, de andar livremente banhando-se naquela luz maravilhosa que o céu derramava.
Não estava doente, não tinha cometido nenhum crime de que merecesse castigo, não fizera nada de mal. Mas a verdade é que se encontrava ali preso, impossibilitado de sair. Sofria por não poder andar na rua em contacto com a natureza que tanto amava. Até o torreão do Centro Norton de Matos, que tantas vezes olhava sem quase nele reparar, agora parecia querer oprimi-lo, altaneiro, pronto a desmoronar-se e a esmagá-lo.
Os arbustos e as árvores de fruto dos quintais do bairro que tanto o deslumbravam, pareciam-lhe, olhados através dos vidros, formados por inúmeros braços estendidos ameaçando-o de o agarrar, de o asfixiar.
O coração batia-lhe descompassadamente, a garganta secava-se-lhe de terror. Não era capaz de estar fechado. Já lhe tinham dito que era claustrofóbico. Mas não era só…
Pior ainda do que isso, era a consciência de que a sua vontade de nada valia. Apertava-se-lhe o peito por saber que lhe não era dada a liberdade de sair dali quando lhe apetecesse.
Já de manhã, regressada a pouco e pouco a azáfama de pessoas para cá e para lá, viu um Senhor magro e alto, de sorriso simpático, fazer-lhe sinal para ele sair.
Respirou fundo, pareceu ganhar uma nova vida e correu para a liberdade da rua, através da porta escancarada do café Vasco da Gama onde tinha passado a noite. Não sem antes bater as asas em direcção ao seu libertador, em sinal de agradecimento.
Aquele pardal nunca esquecerá o gesto do Paulo Moura!

Rui Felicio

41 comentários:

  1. É por pequenos gestos como este do Paulo Moura, que se medem os princípios das pessoas, que se vê quem são aqueles que beberam chá em pequenos.
    Podem achar que é pieguice minha, mas esta atitude sensibilizou-me e comoveu-me.

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  2. Vocês querem-me dar cabo da maquilhagem, carais?!
    Se eu usasse base como o repórter da RTP que estava junto à porta da Maratona, no Jamor, já estava com as trombas todas esborratadinhas!
    E digo-vos mais: o meu Pai, o Professor Rogério, se fosse vivo, haveria de estar orgulhoso dos amigos que tenho. Eu... nem sei que vos diga...

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    1. Rui Felício, tu tens um valor extraordinário!

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    2. Não digas nada Sãozinha.....continua a fazer!!!!!!

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    3. Pronto, eu calo-me. Aliás, já dizem os sábios que "a língua e um instrumento erradamente usado para falar".

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  3. O Paulo Moura, transpira sensibilidade e afetos. É amigo do seu amigo. Por vezes, como diz o Felício, há pequenos grandes pormenores que definem o caráter de uma pessoa. A estima pelos animais, por mais pequenos ou insignificantes que sejam, é uma das marcas que distinguem a estrutura cívica de um qualquer cidadão.
    Mas a prosa do Rui, não pode passar em claro. Há sempre o risco do elogio fácil, mas o que é justo é justo. O Rui, desta vez, não escreveu um texto. Escreveu poesia. Poesia, também ela, bela e comovente. Mas apenas para os que a sentem. Porque para o autor deste belo texto, a vida não se faz apenas a régua e esquadro. Nem ao sabor da frieza dos números cinzentos a que nos vamos habituando. Felizmente que ainda há quem consiga dar cor à matemática das palavras.
    Um abraço ao Paulo e outro ao Felício

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    1. Pois é, Quito. A gente sabe bem que o Rui Felício é um escritor. Ninguém duvida. Como tu és. Só tu duvidas.

      ahahahahahahahahahah

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    2. Não te rias Paulo, que desta vez o assunto é sério. O Rui pôs a alma no grelhador e disse de uma forma como só ele sabe fazer, aquilo que já há muito merecias ouvir...
      Ponto final. Parágrafo.

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    3. Não mudes de conversa, c'um catano!

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    4. C'um catrino digo eu !!! Não te ponhas a assobiar para o ar e a fazer elogios de literatura. Hoje o elogiado ( bem merecidamente) és tu ! Aguenta-te à bronca e não disfarces ...

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  4. O Felício está muito calado ! Se calhar foi polir a prancha de "surf", porque gaba-se que vai da Ericeira ao Bugio em cima dela de braços abertos em perfeito equilíbrio deslizante ...
    (mas aonde é que já ouvi esta ?)

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  5. Andava por fora!Cheguei e abri a caixa do correio!EH! pá tanto comentário à Liberdade!
    Nã, deve ser postagem nova!Sensilidade, afetos, assunto sério, cúm catano, não assobios pró ar,aguenta-te à bronca, o Paulo transpira,poesia bela e comovente, frieza de números cinzentos, dar cor à matemática das palavras, não é pieguiçe minha...comoveu-me.
    Deve ser texto do Rui Felício.
    Interronpo aqui a leitura dos comentários.
    Vou comprar um maço de lenços de papel!
    Já volto e depois vou então ler o texto!
    Se é do Rui Felício tem de certeza absoluta um final Feliz!
    Até já!

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    1. Pensei que tinhas ido depositar as nossas ajudas de custo ...

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    2. Rafael, compra três maços que só eu gasto dois!

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  6. Vou m'imbora Rafael ...agora é a tua vez de entrar de turno ...

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Pois é...os notívagos são assim! Acordei, pois a noite foi longa, agarrado ao laptop...descarrregando ficheiros e mais ficheiros (matéria para o EG), para um disco externo! Sim...que os Megabytes "pesam"..e depois isto parece o meu primeiro computador...com uma memória RAM de...47 MB!???...ou o meu 2 Cavalos a subir a R. dos Combatentes a...10km/h !!! Riam ...riam...que a descer a mesma rua, e com o vento a favor...atingia os 70 Km/h!!!??? Bem! Ás vezes lá ficava uma peça para trás...mas sempre na bolina!! Mas tudo isto para vos dizer que,desde o 1º dia em que o Don Rafael me apresentou o Paulo, percebi logo que se lhe aplicam todos os elogios aqui já manisfestados! Sempre disse, que um gesto, uma palavra, uma atitude definem a nobreza dos Homens de bem!!! E quem sai aos seus!!!?. O texto do Rui Felício é a "poesia" certa!
      ....

      Um pormenor...da fuga para a liberdade do passarito, foi o Paulo que carinhosamente o aconchegou na mão...e colocando-o no tejadilho do carro, lhe permitiu após breves segundos de "retemperar forças"...o vimos levantar voo para a árvore mais próxima!!!
      ...

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    3. Com esta é que me tramaste, JottaElle.
      Lá vou ter que apagar também o meu comentário ali de cima.

      ahahahahahahahahah

      Abre aço!

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    4. Os patos reais...entrap noutra cena!!!

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  8. Volto mais tarde.
    Agora vou ao Estádio para continuação da festa da Taça.
    Académica-Angola.
    Quito aguenta mais duas horas.

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  9. bilindo:o texto e a acção
    um abraço aos dois e boa sorte ao pardal

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  10. De pequenas e simples coisas, tu consegues fazer poesia evidenciando a sensibilidade que possuis à flor da pele, transcrevendo com rara beleza, pequenos acontecimentos que a qualquer comum dos mortais passaria despercebido!
    És uma espécie de Rei Midas, não no sentido que lhe é atribuído, mas sim no sentido em que tudo o que tocas( escrita, of course),transformas em narrativas de rara beleza que quase sempre me tocam profundamente.
    Tenho que confessar honestamente que me estou a habituar a ler tudo o que escreves ao contrário, quero dizer do fim para o principio, pois a ânsia de saber o que guardas para no fim nos surpreender, não me deixa concentrar devidamente!!! E olha que não me estou a dar mal com este método, porque depois com mais calma, mergulho em êxtase em cada palavra que escreves.....

    GOSTEI MUITO Rui!!!!!!!!!

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  11. Ora cá estou e agora sim li o texto pausadamente!
    Devo dizer que fiquei "apardalado" isto é muito sensibilizado e feliz pelo facto do Rui Felício a propósito do passarinho(pardal ou pardala) que estava prisioneiro na pastelaria Vasco da Gama, ter aberto o bico para seduzir o PM ou a SR, e o ou a devolvesse à liberdade! Logo lhe estendeu a mão e o passarinho/a cantou às 9 da madrugada em frente ao Samambaia a canção da Liberdade em cima do capot do potente carro!
    Rui Felício conseguiste comover o Paulo Moura!
    Aproveitaste este episódio do passarinho/a para evidenciar as qualidades do Paulo Moura.É um " amigo " de verdade.
    Tenho muitos amigos/as, mas sem desprimor para todos os outros, posso dizer com "toda a propriedade"(com autorização do Tonito) que é o meu principal amigo! Só alguém com as qualidades humanas dele podia ter a paciência infinita para me dedicar também a sua amizade!
    Tem me dado inúmeras provas dessa amizade.
    Para ele um abraço
    E para a nossa amiga São Rosas companheira de tantas "brincadeiras" um beijo profundo, sincero dos que a fazem sentir-se "toda molhadinha"!

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    1. Chiça, Rafaelito, com essa é que tu me f... comoveste ainda mais.
      Quando li o texto do Rui Felício, pensei que eu próprio sou um passarito que saiu da terra há muitos anos e a quem tu e a Celestita um dia "levaram" para uma "terra" de gente extraordinária.
      Desde então, tenho o maior luxo que qualquer pessoa (ou passarito) pode ter: a vossa amizade. E estou longe da terra mas vivo com o coração num bairro: O (também meu) Bairro.
      Bem hajais!

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    2. Rafaelitolindo, é desta que convences a Celestita a deixar-te casares-te comigo?
      Ou então, deixas tu a Celestita casar-se comigo?
      Ou vão-se revezando?
      Ou vamos para Marrocos e casamos os três?
      ...

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  12. Sabem o que vos digo???? Que vocês são uma cambada de doidos saudáveis, que nos trazem boa disposição e alegria!!!!!
    Vivam os noivos!!!! Sorry....os "doidos!!!!! Vivam!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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    1. Ó Teresa que és Lousada mas não sei quem te Lousa... o único doido aqui sou eu. O resto da malta só me tolera as doidices, por amizade.

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  13. Um excelente texto que nos expõe os momentos de incerteza de um pássaro, terminando com o acto louvável do seu arrojado salvador.
    Por este lado também tratam muito bem os animais. Se fôsse aqui esse pássaro também teria sido posto em liberdade, pois teriam chamado a Sociedade Protectora dos Animais para o retirar e muita gente à-volta para ver como os especialistas faziam. Outras terras, outros costumes.
    Francamente: nem sei se felicite o salvador ou o escritor. Felicito os dois.

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    1. Desculpa, mas ao Rui Felicitas. A mim, podes Mourar-me.

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  14. Nesta espécie de blogue, como o Quito gosta de dizer, se um gajo se distai 24 horas, por isto ou por aquilo, quando cá chega já está ultrapassado pelas direita alta e pela esquerda baixa - se bem se lembram, estamos a falar de teatro.
    Diverti-me a ler os comentários, mas também recolhi as muitas mensagens sérias que alguns deles contêm.
    Quanto ao assunto, como diria o Tonito, é assunto.
    Se é verdade que "vejo", com toda a naturalidade, o Paulo Moura a salvar o passarito, "vejo" com a mesma naturalidade este texto do Rui Felício, enaltecendo a atitude do amigo.
    Um e outro, actuaram não por pieguice mas por sensibilidade própria.
    Cada um à sua maneira, deixa claro que há pequenas coisas na vida que fazem a diferença entre o Homem e o animal chamado de racional mas que muitas vezes não o é.
    Um grande abraço para ambos os dois.
    E, já agora, um grande abraço para Dom Rafael, por motivos...
    Ou seja, um grande abraço para ambos os três!

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  15. Ou seja, um abraço com ambos os quatro.

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  16. Mas que lindo texto escrito por um doce pardal dedicado a outro doce pardal...
    E nós pardalitas e pardais quanta doçura vimos nos vôos das palavras escritas...
    Abraços e beijos.

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  17. Voa pardalito, voa
    para onde há gente boa.
    Amigos especiais
    com atitudes naturais
    de quem ama a Liberdade!

    Escuta os seus corações.
    Alimenta as ilusões
    que nos sabem transmitir
    e nos fazem sentir
    que ainda vale a pena
    uma amizade plena!

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