ESCOLA DO BAIRRO
RUI PATO: esta foto foi tirada pelo
meu Pai nos anos sessenta. Estava ainda em construção, já na fase final.
Foto de Rocha Pato |
De Hugo Gonzaga no estudo sobre “A
HABITAÇÃO SOCIAL NO ESTADO NOVO – O Bairro Norton de Matos –
-Seminário do Ramo de Formação Educacional
-Docente: Doutor Luis Reis Torgal
No Capítulo A ESCOLA DO BAIRRO,
escreve o Hugo Gozaga:
Com o decorrer da investigação, deste
meu trabalho, deparei-me com a problemática da instalação da escola do ensino
primário no Bairro. Para tentar compreender esse problema recorri quer aos
testemunhos presentes nas Actas da Câmara, quer aos testemunhos “vivos” das
pessoas que viveram no inicio da construção do Bairro.
De acordo com o plano original do
Bairro estariam previstas a construção de uma escola e de uma igreja que
serviriam o Bairro. Ambas seriam construídas em cada uma das extremidades da
Rua A (actual Rua Vasco da Gama): a
escola seria construída na extremidade ESTE e a Igreja na extremidade OESTE da
referida rua. Obtive estas informações analisando o plano original do Bairro.
Para quem conhece o Bairro sabe que na extremidade OESTE da Rua Vasco da Gama
não existe alguma igreja, nem na extremidade ESTE existe alguma escola. Existe
sim no local para onde estava prevista a construção da igreja, na referida
extremidade OESTE da Rua Vasco da Gama, uma escola construída nos anos
sessenta.
O que se passou então? Por que razão só
quase vinte anos passados se constrói uma escola num local onde nem sequer
estava prevista a sua construção? Sabia à partida, através de testemunhos de
meus familiares, e amigos mais velhos e de um livrinho sobre o Centro Norton de
Matos, que existiu de facto uma escola que servia o Bairro, situada na actual
Rua Chaimite (antiga Rua T). Não foi através da leitura das Actas da Câmara que
descobri onde a escola se situava, antes da construção da actual no local
destinado originalmente à igreja. Com a leitura das Actas da Câmara apercebi-me
somente de toda a problemática ligada à construção da escola.
Em 1951, quatro anos após o inicio da
construção do Bairro de Casas económicas do Calhabé, chamando-se já este, em
homenagem ao Presidente da República, Bairro Marechal Carmona, lê-se numa Acta
da Câmara que a “Direcção dos Edifícios
Nacionais do Centro submeteu à Câmara, à aprovação da Câmara o estudo da implantação
de uma escola de 8 salas na periferia do Bairro Marechal Carmona(…), topo
nascente. Numa Acta da Câmara,
datada de 5 de Julho de 1951, a Câmara propõe “que se solicite a Sua Exª o Ministro da Educação Nacional a criação de
uma escola mista neste Bairro”. Nesta acta propunha-se ainda que se
arrendasse “a casa do senhor José Martins
situada na Rua B do mesmo Bairro, pela renda mensal de 400$00”. Nesta acta
é referido ainda que só se arrendaria a casa do senhor José Martins, para que
nela funcionasse a escola, depois de ser aprovada pelo Ministério da Educação
Nacional a criação de uma escola no Bairro. Como morador do Bairro desde que
nasci, estranhei nesta acta que se referisse a construção da escola na Rua B
(actual Rua da Guiné) visto que de, acordo com os testemunhos orais e de acordo
com o livro sobre o Centro Recreativo ter a certeza de que a Escola funcionava
não na Rua B (actual Rua da Guiné) mas sim na Rua T (actual Rua de Chaimite).
No entanto, analisando melhor o plano inicial do Bairro concluo que até fizesse
sentido que a escola estivesse provisoriamente na Rua B pois é muito próxima do
local onde inicialmente estava planeada a sua construção. Em Novembro de 1952 o
Presidente da Câmara depois de uma visita a Lisboa informa a Câmara que o local
destinado à construção da escola primária já estava escolhido. Deveria ser
mantido a “750 metros da Escola do
Magistério Primário”. Depreende-se desta acta que nesta altura ainda se projectava a
construção da escola no local previsto.
A problemática da escola do Bairro
foi-se arrastando ao longo dos anos. Chegam-se a expropriar amigavelmente
terrenos destinados à construção da escola e em 5 de Novembro de 1953, segundo
as Actas da Câmara, volta-se a expropriar 12425 m2 de terrenos na zona do
Bairro para a futura edificação da escola. Não é referido o local exacto, mas
presumo que ainda fosse no local onde originalmente estaria previsto a
construção da escola.
Entretanto a escola ia funcionando
provisoriamente em moradias do Bairro. Foi imposto à Câmara o pagamento de uma
renda mensal de 380$00. A Câmara Municipal foi adiando, mês após mês, o
pagamento destas rendas. Ao contrário do que sucederia a um morador caso não
pagasse nos primeiros oito dias de cada mês, ninguém podia “despejar a Câmara”…
Segundo a Acta de 14 de Outubro de 1954, esta é pressionada pela Direcção Geral
da Previdência e Habitações Económicas para que pagasse as rendas da escola que
se encontravam em atraso, havia meses. Segundo uma nova acta de 10 de Fevereiro
de 1955 toma-se conhecimento que à data as referidas rendas estavam em atraso
desde Outubro de 1953! A Direcção Geral da Previdência e Habitações oficia de
novo o pagamento das rendas. Só em 22 de Setembro de 1955 ´+e que a Câmara
deliberou o pagamento das rendas das habitações onde funcionava a escola.
Como a escola não foi inicialmente
construída no local onde originalmente estava previsto, na intersecção da Rua
Vasco da Gama /Rua A) e da Rua da Guiné (Rua B), e estava em 1955 a funcionar provisoriamente em moradias
do Bairro, a Câmara pediu ao urbanista Professor Almeida Garrett que este
revisse o plano de urbanização do Bairro Marechal Carmona, especialmente os
terrenos que haviam sido de início destinados à construção da escola..
Estas cenas da capela e da escola não conhecia.
ResponderEliminarTonito.
Os meu agradecimentos a Rui Pato e Hugo Gonzaga.
ResponderEliminarEngraçado, como se vê uma fotografia da construção da escola do Bairro!
ResponderEliminarO Rui Pato aqui no-la mostrou, fotografada por seu pai.
A história investigada por Hugo Gonzaga, outra descoberta desconhecida de muitos!
As voltas que uma escola dá...
ResponderEliminarMuito interessante, desconhecia em absoluto esta história que faz História.
Boa Hugo! Assim é que eu gosto! Valeu a pena eu ter mandado a foto!
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