quarta-feira, 2 de maio de 2012

BAIRRO NORTON DE MATOS


ESCOLA DO BAIRRO


Foto de Rocha Pato
RUI PATO: esta foto foi tirada pelo meu Pai nos anos sessenta. Estava ainda em construção, já na fase final.

De Hugo Gonzaga no estudo sobre “A HABITAÇÃO SOCIAL NO ESTADO NOVO – O Bairro Norton de Matos –
-Seminário do Ramo de Formação Educacional
-Docente: Doutor Luis Reis Torgal

No Capítulo A ESCOLA DO BAIRRO, escreve o Hugo Gozaga:
Com o decorrer da investigação, deste meu trabalho, deparei-me com a problemática da instalação da escola do ensino primário no Bairro. Para tentar compreender esse problema recorri quer aos testemunhos presentes nas Actas da Câmara, quer aos testemunhos “vivos” das pessoas que viveram no inicio da construção do Bairro.
        De acordo com o plano original do Bairro estariam previstas a construção de uma escola e de uma igreja que serviriam o Bairro. Ambas seriam construídas em cada uma das extremidades da Rua A (actual Rua Vasco  da Gama): a escola seria construída na extremidade ESTE e a Igreja na extremidade OESTE da referida rua. Obtive estas informações analisando o plano original do Bairro. Para quem conhece o Bairro sabe que na extremidade OESTE da Rua Vasco da Gama não existe alguma igreja, nem na extremidade ESTE existe alguma escola. Existe sim no local para onde estava prevista a construção da igreja, na referida extremidade OESTE da Rua Vasco da Gama, uma escola construída nos anos sessenta.
        O que se passou então? Por que razão só quase vinte anos passados se constrói uma escola num local onde nem sequer estava prevista a sua construção? Sabia à partida, através de testemunhos de meus familiares, e amigos mais velhos e de um livrinho sobre o Centro Norton de Matos, que existiu de facto uma escola que servia o Bairro, situada na actual Rua Chaimite (antiga Rua T). Não foi através da leitura das Actas da Câmara que descobri onde a escola se situava, antes da construção da actual no local destinado originalmente à igreja. Com a leitura das Actas da Câmara apercebi-me somente de toda a problemática ligada à construção da escola.
        Em 1951, quatro anos após o inicio da construção do Bairro de Casas económicas do Calhabé, chamando-se já este, em homenagem ao Presidente da República, Bairro Marechal Carmona, lê-se numa Acta da Câmara que a “Direcção dos Edifícios Nacionais do Centro submeteu à Câmara, à aprovação da Câmara o estudo da implantação de uma escola de 8 salas na periferia do Bairro Marechal Carmona(…), topo nascente. Numa  Acta da Câmara, datada de 5 de Julho de 1951, a Câmara propõe “que se solicite a Sua Exª o Ministro da Educação Nacional a criação de uma escola mista neste Bairro”. Nesta acta propunha-se ainda que se arrendasse “a casa do senhor José Martins situada na Rua B do mesmo Bairro, pela renda mensal de 400$00”. Nesta acta é referido ainda que só se arrendaria a casa do senhor José Martins, para que nela funcionasse a escola, depois de ser aprovada pelo Ministério da Educação Nacional a criação de uma escola no Bairro. Como morador do Bairro desde que nasci, estranhei nesta acta que se referisse a construção da escola na Rua B (actual Rua da Guiné) visto que de, acordo com os testemunhos orais e de acordo com o livro sobre o Centro Recreativo ter a certeza de que a Escola funcionava não na Rua B (actual Rua da Guiné) mas sim na Rua T (actual Rua de Chaimite). No entanto, analisando melhor o plano inicial do Bairro concluo que até fizesse sentido que a escola estivesse provisoriamente na Rua B pois é muito próxima do local onde inicialmente estava planeada a sua construção. Em Novembro de 1952 o Presidente da Câmara depois de uma visita a Lisboa informa a Câmara que o local destinado à construção da escola primária já estava escolhido. Deveria ser mantido a 750 metros da Escola do Magistério Primário”. Depreende-se desta acta  que nesta altura ainda se projectava a construção da escola no local previsto.
        A problemática da escola do Bairro foi-se arrastando ao longo dos anos. Chegam-se a expropriar amigavelmente terrenos destinados à construção da escola e em 5 de Novembro de 1953, segundo as Actas da Câmara, volta-se a expropriar 12425 m2 de terrenos na zona do Bairro para a futura edificação da escola. Não é referido o local exacto, mas presumo que ainda fosse no local onde originalmente estaria previsto a construção da escola.
        Entretanto a escola ia funcionando provisoriamente em moradias do Bairro. Foi imposto à Câmara o pagamento de uma renda mensal de 380$00. A Câmara Municipal foi adiando, mês após mês, o pagamento destas rendas. Ao contrário do que sucederia a um morador caso não pagasse nos primeiros oito dias de cada mês, ninguém podia “despejar a Câmara”… Segundo a Acta de 14 de Outubro de 1954, esta é pressionada pela Direcção Geral da Previdência e Habitações Económicas para que pagasse as rendas da escola que se encontravam em atraso, havia meses. Segundo uma nova acta de 10 de Fevereiro de 1955 toma-se conhecimento que à data as referidas rendas estavam em atraso desde Outubro de 1953! A Direcção Geral da Previdência e Habitações oficia de novo o pagamento das rendas. Só em 22 de Setembro de 1955 ´+e que a Câmara deliberou o pagamento das rendas das habitações onde funcionava a escola.
        Como a escola não foi inicialmente construída no local onde originalmente estava previsto, na intersecção da Rua Vasco da Gama /Rua A) e da Rua da Guiné (Rua B), e estava em  1955 a funcionar provisoriamente em moradias do Bairro, a Câmara pediu ao urbanista Professor Almeida Garrett que este revisse o plano de urbanização do Bairro Marechal Carmona, especialmente os terrenos que haviam sido de início destinados à construção da escola..
        A escola iria ser construída..., finalmente nos anos sessenta, no local onde de início estava prevista a construção de uma igreja.




...E FOI. É ESTA!

5 comentários:

  1. Estas cenas da capela e da escola não conhecia.
    Tonito.

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  2. Os meu agradecimentos a Rui Pato e Hugo Gonzaga.

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  3. Engraçado, como se vê uma fotografia da construção da escola do Bairro!
    O Rui Pato aqui no-la mostrou, fotografada por seu pai.
    A história investigada por Hugo Gonzaga, outra descoberta desconhecida de muitos!

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  4. As voltas que uma escola dá...

    Muito interessante, desconhecia em absoluto esta história que faz História.

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  5. Boa Hugo! Assim é que eu gosto! Valeu a pena eu ter mandado a foto!

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