LIVROS DE CORDEL

        O CALDO DE PEDRA

  - Para quem duvide da historinha, nada como ir a Almeirim, onde

                                                              ela se faz presente em cada dia…

frade finório e pedincha

foi bater a casa farta

pois que barriga não incha

só com ar nem tal enfarta

mas logo à porta disseram

que de fome nem falasse

pois se ali bem ricos eram

não dispunham que sobrasse

disse um e o outro vezeiro

tal qual se um mata outro esfola

que o seu querido dinheiro

não servia para esmola

torce a narigueta o frade

com tão pronta e vil escusa

e logo ali jura que há-de

castigá-los pela recusa

contristado e penitente

desata então em lamúria

»-um pouco de água somente

P´ra acalmar a tripa em fúria…

e já agora um lumezinho

Para que a água fervesse…

Trago a pedra do caminho

Lá a ponho e faço prece…

pois com esta pedra lisa

- se Deus a todos ajuda

e bem mais quem dele precisa –

vereis como a água muda»

assim disse a quem dele ria

o bom do frade manhoso

e à pedrada ele iria

fazer um caldo famoso

e já a água fervia

e já a pedra chiava

e já o frade dizia

»- sabem o que bem calhava?

um niquinho de bom unto

pitada de sal de nada

um dedo só de presunto

uma couvita engelhada…»

depois pediu contristado

como quem quer e não pode

um chouricinho – pecado…!

uma orelha – quem me acode…!

e lá foram servindo

os sovinas curiosos

cuidando ir descobrindo

da pedra dons misteriosos

e lá cose e lá descose

um pouco disto e daquilo

uma pitada com pose

um aroma com estilo

mexeu – remexeu – provou

o caldinho apetitoso

comeu tudo e só parou

quando restou…bem cheiroso

algum restinho arisco

no púcaro bem profundo

e nem rasto do petisco

com uma pedra no fundo

»Então e a pedra não vai…?

lhe demandam os otários.

»Vai no bolso…e descansai

que há-de haver mais peditórios…!»