Foto de São Vaz |
Camilo e Maria Moisés ...
É sempre no coração do Outono, que se juntam. Um grupo de amigos, que se uniram num laço de amizade. As vicissitudes da guerra, marcou-os para sempre. O sentimento da partilha, no seu máximo expoente. Fosse por motivos emocionais, pela falta da família, ou pelo simples repartir um pedaço de pão, quando um dia acabou o que apenas havia para comer: esparguete com cubos de marmelada, subtraídos do bornal da ração de combate. Para muitos, esta recordação sombria será descabida. Nem sequer a compreendem. Num mundo cada vez mais competitivo, de viscosa hipocrisia, em que a sociedade se atropela num mundo sem lei, na procura de um qualquer objectivo, parece custar entender as fortes raízes de uma solidariedade cimentada em momentos muito difíceis. Um ribeiro cristalino de afetos.
Perdoem-me a modesta prosa. Nem era aqui que eu queria chegar. Vão perguntar-me - com razão – onde é que Camilo Castelo Branco entra, neste atrevido monólogo. Apontar-me o dedo acusador. Do pobre escrevinhador, que se atreveu a invocar o nome de um dos nossos baluartes da Literatura. Uma heresia. “Quem te manda a ti sapateiro, subir além da chinela” – dirão. Mas hoje, ao recordar estes sete companheiros, que vão esgrimindo floretes contra o Tempo, insistindo em manter este querer como se fosse eterno, lembrei-me do dia em que trilhámos o rasto de Camilo. Foi lá para as bandas de Celorico de Basto. Uma simples ponte suspensa sobre um rio, ligando dois povoados, aguça a curiosidade do viajante. Também por ali passeou Camilo Castelo Branco, ainda a “Ponte de Arame” não existia. No local, lembrar Maria Moisés. Recordar os seus dramas e o seu pranto, quando nas margens das águas revoltas e caudalosas, chorava a sua desdita de criança abandonada à nascença e resgatada de um berço de vime, pelo humilde pescador Francisco Bragadas, num cenário de contornos bíblicos. E, naquele dia triste e cinzento, com o Tâmega adormecido em sereno leito, recordámos o escritor. A homenagem que se impunha, naquele emaranhado de frondosa vegetação, que une as freguesias de Rebordelo e Anóia. No chão, o retalho colorido em tons de verde e castanho da fofa manta - morta. Talvez a pauta onde se inspirou Camilo, no seu romanesco cantar. Uma torrente de sentimentos lúgubres. A fatalidade do Destino cruel. O arrastar das grilhetas de uma vida parda. Uma sofrida sinfonia de Outono.
Q.P.
Perdoem-me a modesta prosa. Nem era aqui que eu queria chegar. Vão perguntar-me - com razão – onde é que Camilo Castelo Branco entra, neste atrevido monólogo. Apontar-me o dedo acusador. Do pobre escrevinhador, que se atreveu a invocar o nome de um dos nossos baluartes da Literatura. Uma heresia. “Quem te manda a ti sapateiro, subir além da chinela” – dirão. Mas hoje, ao recordar estes sete companheiros, que vão esgrimindo floretes contra o Tempo, insistindo em manter este querer como se fosse eterno, lembrei-me do dia em que trilhámos o rasto de Camilo. Foi lá para as bandas de Celorico de Basto. Uma simples ponte suspensa sobre um rio, ligando dois povoados, aguça a curiosidade do viajante. Também por ali passeou Camilo Castelo Branco, ainda a “Ponte de Arame” não existia. No local, lembrar Maria Moisés. Recordar os seus dramas e o seu pranto, quando nas margens das águas revoltas e caudalosas, chorava a sua desdita de criança abandonada à nascença e resgatada de um berço de vime, pelo humilde pescador Francisco Bragadas, num cenário de contornos bíblicos. E, naquele dia triste e cinzento, com o Tâmega adormecido em sereno leito, recordámos o escritor. A homenagem que se impunha, naquele emaranhado de frondosa vegetação, que une as freguesias de Rebordelo e Anóia. No chão, o retalho colorido em tons de verde e castanho da fofa manta - morta. Talvez a pauta onde se inspirou Camilo, no seu romanesco cantar. Uma torrente de sentimentos lúgubres. A fatalidade do Destino cruel. O arrastar das grilhetas de uma vida parda. Uma sofrida sinfonia de Outono.
Q.P.
Foto de São Vaz.
ResponderEliminar"...ao avistar as poldras que alvejavam poídas e resvaladiças ao lume de água teve vertigens e disse: “Eu vou morrer”
ResponderEliminarAssim referia Camilo Castelo Branco na sua obra “Maria Moisés”, o local entre Rebordelo e Anóia
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“No chão, o retalho colorido em tons de verde e castanho da fofa manta – morta”
E assim escreveu o Quito, para reforçar a descrição camiliana do mesmo local por onde ambos passaram um dia, a mais de um século de distância.
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Agora digam-me se não tenho razão quando comparo a escrita do Quito aos nossos escritores clássicos.
Agora digam-me se Camilo não poderia ter incluído no seu romance, se tal lhe tivesse ocorrido, o excerto que retirei do texto da autoria do Quito.
Por mais que a sua excessiva modéstia se sinta desagradada, não posso deixar de perguntar:
Em que é que o estilo se diferencia? Em nada, digo eu. Em nada…
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A feliz complementaridade da excelente fotografia da São, ilustra e enriquece o texto e serve de prova para a exactidão descritiva do Quito.
Parabéns a ambos.
Mais uma "obra prima" do Quito! Parabéns! E a fotografia da São está simplesmente fabulosa!!!
ResponderEliminarOra vamos lá ver se agora tenho ocasião de me pronunciar sobre mais este texto do Quito!
ResponderEliminarÉ que fomos ao Gil Vicente assistir a um espectáculo do Grupo DIABO A SETE...para descontrair!
Também lá estiveram o Paulo Moura e a filha Joana.
Tivesse eu a capacidade do Rui Felício para perceber da "poda" e outro galo cantaria!
Assim e para não parecer uma galinha a cacarejar(será que esta palavra está no acordo?), vou limitar-me a dizer que gostei do que li. Boa ligação entre o encontro de militares e o que escreveu Camilo Castelo Branco no seu romance Maria Moisés ( que não li!) que lhe veio à memória a propósito do "rasto de Camilo" que percorreu para as bandas de Celorico de Basto.
Acrescento o meu agrado sempre que por aqui aparecem os teus textos e...os do RUI FELÍCIO!
Sabem? dão-me alento!!!
Mesmo sabendo que em ajudas de cusp(t)o....a coisa é séria nos tempos que correm!
Bem hajam!
Pois é, enquanto o Sr Administrador, Dono, Proprietário desta espécie de blog se entretém a ver o " Diabo a Sete", para descontrair, como confessa, os escravos que trabalhem para lhe darem alento!
EliminarÉ a vida!
E, mais grave, consegue arrastar consigo, nesta tentação diabólica, o Paulo Moura, homem sério que não brinca com a música.
Mais grave ainda, este arrasta consigo a sua filhota Joana!
Carais!
Um pouquinho mais a sério:
"Os Diabo a Sete", na minha opinião, é um óptimo conjunto para alegrar um convívio, para pôr a malta a cantar e a saltar com a sua música.
Não me parece que seja capaz de "agarrar" o espectador à cadeira de um Gil Vicente.
E vocês que dizem?
São sete os amigos que se encontram no Outono, para recordar a primavera da vida.
ResponderEliminarMomentos de partilha dos medos, angustias, incertezas, alicerçam um laço fraterno até ao fim da vida.
Depois...
Depois,vem o diálogo de quem não se quer ficar pelo monólogo, levando-nos o autor até ao "rasto de Camilo".
E como é sublime a forma com que o faz!
Parabéns, Quito.
Em tempo, como tu costumas dizer, parabéns à São pela excelente foto.
ResponderEliminarIsto de vir aqui tarde, tem os seus inconvenientes principalmente se gostamos e queremos fazer comentários! É que já alguns disseram o que eu gostaria de ter dito!... Agora só me resta dizer que adorei o texto e a foto. Obrigado amigo Quito, a tua prosa além de excelente e faz-nos pensar...
ResponderEliminarApenas dizer, que a fotografia foi tirada no próprio local, junto da "Ponte de Arame".
ResponderEliminarUm abraço a todos