José Augusto
Este é um episódio simples, de antanho, que vos venho aqui contar. Há, porém, eventos que já nos fogem da memória. Quando já não se consegue explicar, com precisão, as datas em que aconteceram. Mas creio que foi lá pelo início da década de sessenta, do século passado.
Naquela tarde de Domingo, a Académica jogava com o Benfica, no Municipal de Coimbra. Estádio cheio, a rebentar pelas costuras, um tapete verde apelativo e um dia cheio de sol. A cor predominante era a vermelha, no topo Norte e no topo Sul do Estádio. Na bancada nascente, predominava o negro das capas de Coimbra. A entrada da equipa do Benfica em campo, era sempre uma festa. Em passo de corrida e em fila indiana, invadiam o relvado, perante o clamor da claque benfiquista e o garrido das suas bandeiras. Nós, os de Coimbra, olhávamos para aquela manifestação de poder, daquele que era, naquela época, o clube sem rival em Portugal, com prestígio e fama por todo o mundo. Depois entrámos nós, de negro vestidos e losango ao peito. No emblema, a águia era substituída por um telhado e a Torre de uma Universidade vetusta, respeitada na Europa e por todo o universo intelectual. Mas no que toca a esgrimir armas com o nosso opositor daquela tarde, pressentia-se que a festa seria encarnada. Mas não foi. A Briosa, tinha igualmente uma equipa em que se perfilavam dos melhores jogadores do País e três tiros certeiros na águia contra apenas um dos de Lisboa, pôs em delírio as hostes academistas. Crispim, marcou o terceiro, na baliza do lado norte, e cá fora foi levado em ombros pela claque. Horas depois do jogo, ainda se bebia cerveja, na escadaria da Sé Velha.
Eu era ainda um imberbe menino. Recordo a longa fila de trânsito, no fim do jogo. Nessa tarde, fui para Eiras, onde viviam os meus avós. Ao volante do carro, o meu tio Luís Pereira, benfiquista assumido, compunha nervosamente os óculos na cara e não dizia uma palavra.
Nessa noite, fui com a família despedir-me do meu tio Ernesto, que ia para Lisboa. Delirante e levado pelo meu pai, entrei na Estação Velha de bandeira da Briosa desfraldada. Para surpresa minha e nossa, à espera do “Rápido”, estava a equipa do Benfica. Silenciosos, com pequenas malas na mão, os jogadores aguardavam a chegada do comboio. Alguns futebolistas, olhavam para mim e sorriam. E então deu-se o inesperado. José Augusto, “ponta – direita” do clube da Luz, pousou a mala no chão, dirigiu-se a mim com um largo sorriso e deu-me um beijo.
Nunca mais esqueci aquele episódio. Da verdadeira estatura cívica de um grande atleta, rendido ao amor de uma criança pela sua Associação Académica.
Por vezes, vejo o José Augusto na televisão. O cabelo embranqueceu e jamais se lembrará deste episódio. Mas o sorriso é o mesmo. O glorioso sorriso do seu amado e Glorioso Benfica.
Q.P.
Naquela tarde de Domingo, a Académica jogava com o Benfica, no Municipal de Coimbra. Estádio cheio, a rebentar pelas costuras, um tapete verde apelativo e um dia cheio de sol. A cor predominante era a vermelha, no topo Norte e no topo Sul do Estádio. Na bancada nascente, predominava o negro das capas de Coimbra. A entrada da equipa do Benfica em campo, era sempre uma festa. Em passo de corrida e em fila indiana, invadiam o relvado, perante o clamor da claque benfiquista e o garrido das suas bandeiras. Nós, os de Coimbra, olhávamos para aquela manifestação de poder, daquele que era, naquela época, o clube sem rival em Portugal, com prestígio e fama por todo o mundo. Depois entrámos nós, de negro vestidos e losango ao peito. No emblema, a águia era substituída por um telhado e a Torre de uma Universidade vetusta, respeitada na Europa e por todo o universo intelectual. Mas no que toca a esgrimir armas com o nosso opositor daquela tarde, pressentia-se que a festa seria encarnada. Mas não foi. A Briosa, tinha igualmente uma equipa em que se perfilavam dos melhores jogadores do País e três tiros certeiros na águia contra apenas um dos de Lisboa, pôs em delírio as hostes academistas. Crispim, marcou o terceiro, na baliza do lado norte, e cá fora foi levado em ombros pela claque. Horas depois do jogo, ainda se bebia cerveja, na escadaria da Sé Velha.
Eu era ainda um imberbe menino. Recordo a longa fila de trânsito, no fim do jogo. Nessa tarde, fui para Eiras, onde viviam os meus avós. Ao volante do carro, o meu tio Luís Pereira, benfiquista assumido, compunha nervosamente os óculos na cara e não dizia uma palavra.
Nessa noite, fui com a família despedir-me do meu tio Ernesto, que ia para Lisboa. Delirante e levado pelo meu pai, entrei na Estação Velha de bandeira da Briosa desfraldada. Para surpresa minha e nossa, à espera do “Rápido”, estava a equipa do Benfica. Silenciosos, com pequenas malas na mão, os jogadores aguardavam a chegada do comboio. Alguns futebolistas, olhavam para mim e sorriam. E então deu-se o inesperado. José Augusto, “ponta – direita” do clube da Luz, pousou a mala no chão, dirigiu-se a mim com um largo sorriso e deu-me um beijo.
Nunca mais esqueci aquele episódio. Da verdadeira estatura cívica de um grande atleta, rendido ao amor de uma criança pela sua Associação Académica.
Por vezes, vejo o José Augusto na televisão. O cabelo embranqueceu e jamais se lembrará deste episódio. Mas o sorriso é o mesmo. O glorioso sorriso do seu amado e Glorioso Benfica.
Q.P.
Já depois do texto feito, fiz uma pesquisa e encontrei o resultado: 3 - 1. Não estava enganado e foi na época 61/62. Contas feitas, tinha eu, 12 anos.
ResponderEliminarEsta recordação e ainda os pormenores de que me lembro, fazem-me sorrir: AINDA NÃO ESTOU COM A DOENÇA DO ALEMÃO !!!
Mas estamos todos, com a doença da ALEMOA.
EliminarBoa recordação.
Um Abraço.
Quito.
Andaste dois dias sem lavar a cara!
ResponderEliminarMas foi merecido o beijo!Uma felicidade nunca vem só!
Então vou lembrar-te bem este jogo!
Foi em 5-11-1961!
Pardalitos do Choupal a desfeitar CAMPEÕES!
Os acontecimentos na Universidade reflecte-se mais uma vez na vida do futebol académica.
Ainda assim, a Briosa tem uma prestação desportiva regular, traduzida no décimo lugar da classificação final.
E até bate o Benfica, campeão europeu em título, por claros 3 a 1.Num jogo em que nasce a designação de "PARDALITOS DO CHOUPAL!, atribuída pelo periódico "A BOLA".
vitória ocorrida sobre os encarnados à quinta jornada, em Coimbra, é duplamente surpreendente. A Académica, que à segunda ronda perde com o Olhanense, em casa, não parece ter equipa vocacionada para feitos excepcionais. Por outro lado, o Benfica juntara ao título de campeão nacional, na época de 60-61, o de CAMPEÃO EUROPEU, após vitória sobre o colosso Barcelona, em BERNA!
Mas o triunfo da Briosa, novamente treinada por ALBERTO GOMES, acontece sem apelo nem agravo,mercê de uma defesa seguríssima e de uma habilidosa exploração do contra-ataque. O Benfica, já com Eusébio, ainda se coloca em vantagem. Mas 12 minutos depois, Abreu, um dos dois jogadores licenciados
- o outro é TORRES - empata a partida. E, na segunda parte, GAIO marca mais dois golos para os estudantes, sem qualquer resposta dos lisboetas.
Surge então, uma expressão que fará escola. Ao intitular a sua crónica do jogo, no jornal A BOLA, Vitor Santos escre: "Pardalitos do Choupal" a desfeitear campeões"
No fim do encontro, Mário Torres ainda se queixou à imprensa da magresa do resultado e ALBERTO GOMES confessa ter sido mais fácil do que esperava.
Certo é que os jogadores têm direito a volta de honra ao campo e, na cidade, os festejos prolongam-se pela madrugada fora!
FOI ENTÃO QUANDO O BENFICA ESTAVA NA ESTAÇÃO VELHA PARA APANHAR O COMBOIO PARA LISBOA, QUE O ZÉ AUGUSTO ESPETOU UM BEIJO NUM CATRAIO QUE TINHA UMA BANDEIRA DA ACADÉMICA!
Este texto( quase todo) é do livro ACADÉMICA HISTÓRIA DO FUTEBOL
Já agora e aproveitando a boleia do QUITO, informa-se que o jogo da 2ª mão com a Oliveirense para a Taça de Portugal, se realiza em Santa Maria da Feira a 7 de Fevereiro.
ResponderEliminarE para a Final no JAMOR já há 21 óPtimistas, para a caminheta/Pic-Nic:
FINAL JAMOR 20 de Maio
Fernando Rafael/ Celeste Maria 2
Ângela Maria Rafael/João Miguel 2
Carlos Costa Freire----- 1
Ângela Miguéis---------- 1
Rosa Malhão------------- 1
Jorge Resende----------- 1
Quito/São--------------- 2
Paulo Nobre------------- 1
Zeca Simões------------- 1
Pedro Gama-------------- 1
Mariazinha Cabral------- 1
Ló + filho-------------- 2
Rui Lucas---------------- 1
Carlos Viana------------ 1
José Leitão------------- 1
Bobbyzé ------------------------1
Jorge Carvalho---------- 1
---------TOTAL-----------------21
E lá para o Pic-nic vão estar também para já o Tó Mané Quaresma, a Ana Roque e o Franco(com a pescaria da véspera)
Goza, Rafael goza !!!
ResponderEliminarTive uma falha ! Pelos vistos, não foi o Crispim, que marcou o nosso terceiro.
IA JURAR ! Se calhar, foi noutro jogo e confundi- me.
Quanto ao José Augusto, foi um gesto nobre da parte dele. Quando uma atitude nos cai bem, guardamo-la para nós. Passaram-se 50 anos e eu aqui estou a recordar aquele momento na Estação Velha.
A Briosa só tinha portugueses e eles também. Até aí vai a diferença. Era o futebol romântico. A Académica encantava Portugal com a sua escola. O Benfica, encantava a Europa.
Toma lá um abraço
Então achas que estou a gozar?
EliminarEsta informação é real, com vírgulas e tudo!
Estás a recordar E BEM!
Só te falhou o marcador do 3º golo!
É tudo REAL!
Rafaelito, ainda tens que ir a Oliveira de Azeméis. Com os nossos, nunca se sabe o que vai acontecer. Faz parte da nossa matriz: ou grandes vitórias ou monumentais barracas ...
ResponderEliminarJá estás a contar com o ovo, no dito da galinha !!!
Pois mas já estás inscrito para a grande jornada e comezaina!
EliminarNão leves é batido de atum...que ainda ando desarranjado dos intestinos com o que me deste pelas janeiras!
É isso mesmo.
EliminarInscreve-o nem que seja para ver o Nacional-Oliveirense.
Se não quiser ir a bem, vai a mal.
Democraticamente, está convocado para a grande Final: caminheta + pic~-nic. O resto logo se vê!
Só espero a ajuda de S.Pedro...
Outros tempos, outros futebolistas, outras mentalidades.
ResponderEliminarDesportivismo não era palavra vã e o José Augusto demonstrou-o, apesar de nessa altura o Benfica já ter pergaminhos europeus!
Os jogadores de agora, mesmo os de clubes menos prestigiados do que o Benfica, alguma vez se sujeitariam a estacionarem numa estação de caminho de ferro, logo a seguir ao final do jogo, à espera do comboio que os levasse para a sua cidade?
É verdade, Rui. Creio que naquela altura, o Benfica já tinha uma camioneta. Mas por alguma razão, foram de comboio.
ResponderEliminarNoutro registo: nenhum dos jogadores apontados pelo Rafael, me lembro de terem jogado. Mas também já era pedir demais a um cérebro "cansado". Lembrava-me do resultado (3-1) e já não foi mau ...
Outros tempos...
ResponderEliminarSó o Benfica tinha capacidade para se bater com os grandes clubes da Europa.
Não esqueço os 5 a 3 ao Real de Madrid, e do Di Stefano (não sei se o nome está correcto mas todos sabemos de quem falo ) de mãos agarradas à cabeça, no fim do jogo, se lamentar para quem o quis ouvir: "no lo creio, no lo creio"...
E o "teu" Zé Augusto lá estava...
Nessa altura até eu era benfiquista, juro!
O episódio, que aqui nos trazes, pode muito bem ser mais um conto da colectânea que um dia publicarás.
Se há dias te sugeria que a titulasses " Se Bem Me Lembro...", agora sugiro-te outro título: "In Illo Tempore"...
Aquele abraço.
Ainda me lembro bem do Gaio e daí a minha confusão com Crispim. Gaio era ligeiramente mais alto que o Crispim ( de baixa estatura). Mas o golo foi realmente aquele. Na baliza norte, com o Costa Pereira (?) "distraído". Foi meio frango.
ResponderEliminarUm dia ,lembrei este jogo com o Engenheiro Florestal Belo, que trabalhou comigo, e que era irmão do Belo que foi nosso atleta e de que alguns ainda se recordarão.Belo, jogador, formou-se em Direito e esteve alguns anos em Macau. Mas regressou.
Este amigo,grande académico e que andava sempre pelos bastidores do clube e que faleceu de repente, ainda não teria 6O anos, contou-me que no balneário o ambiente era surreal, com muita gente estranha ao jogo, misturada com os atletas que queriam tomar duche.
A razão de tanta alegria, era pelo facto do Benfica da época ter uma equipa muito forte, quase imbatível. Bons tempos ...
Falaste no Belo, com quem estive num almoço de homenagem, em Santarém, ao Dr. Isabelinha ( e figura histórica da Académica ), na data em que ele fez 100 anos de idade. Faleceu pouco tempo depois...
EliminarNa longa conversa que tive com o Belo, nesse dia,recordámos tantas e tantas peripécias dos tempos de Coimbra e da nossa Académica. Ele conserva, como aliás a maioria dos jogadores que passaram pela Académica, uma indestrutivel ligação a Coimbra e à imorredoira AAC.
Pois, Rui. Aqui há tempos estive com o Belo, enquanto aguardávamos uma consulta. Nos escassos minutos que ali estivemos,não falamos da Briosa, mas do falecido irmão dele, que já tinha tido umas ameaças cardíacas.
ResponderEliminarTenho muita pena do Engº Belo. Era muito boa pessoa e tinhamos uma relação excelente. Era um apaixonado pela Académica.Foi muito grande o pesar de todos o que o conheciam como homem cordato, educado e excelente companheiro de trabalho.
Deixo-lhe aqui a minha homenagem ...