Sábia afirmação, sem contestação ...
Mindelo, vive ao ritmo da morna. Ali chegados, depois de vinte e duas horas de viagem, foi com prazer que desfrutámos daquela calma africana, da cordialidade das suas gentes, do colorido dos seus trajes. A cidade, respira tranquilidade. Por todo o lado se constata, que jamais se cortará o cordão umbilical entre dois povos - irmãos. Em cada rua, em cada esquina, em cada praça, um símbolo português. Uma enorme águia de pedra, abraça a Baía do Mindelo, em homenagem a Gago Coutinho e Sacadura Cabral. E, ao cimo daquela rua, lá está o Café Lisboa. Noutro estabelecimento, surpreendentemente, uma fotografia de uma equipa de futebol de negro vestida e losango ao peito. É a Académica de Cabo Verde. Também numa vitrina da Câmara Municipal, onde o Choral Poliphónico de Coimbra foi recebido, uma foto em destaque do antigo atleta da Briosa, Manuel Capela. De realçar, durante os três dias de estadia naquela cidade, a homenagem a Cesária Évora. No cemitério local e bem visível do exterior do Campo Santo, uma campa coberta de uma montanha de coroas de flores. Dá para perceber, numa observação mais atenta, que são provenientes dos mais variados cantos do mundo. É ali que mora a “sodade”, amada por todos os cabo – verdianos.
Foi naquela ilha de S. Vicente, que o grupo deu o primeiro espetáculo. Numa sala esgotada, Coimbra fez-se representar ao seu melhor nível, a par de um jovem coral de um liceu do Mindelo. Uma noite de emoções fortes, em que foi bem patente o estreitar dos laços da amizade entre anfitriões e forasteiros.
A Ilha de Santo Antão, é um hino à Natureza. Uma hora de viagem, num enorme “ferry”, ao sabor das ondas e ao som de mornas e coladeiras. A Ilha, tem muito da intervenção do Homem, sobretudo a nordeste, com pequenas courelas de cultivo, em locais quase inacessíveis. Mas é de uma beleza rude e descarnada no seu sopé. Porém, à medida que vamos trepando a serra, por uma estrada estreita e sinuosa, a vegetação é progressivamente mais densa. Das montanhas, escorrem pelos seus declives, tufos de nuvens brancas como algodão, que se espraiam pelos vales até às areias da praia, num cenário de empolgante beleza. Neste ou naquele aglomerado urbano, de casas modestas, muitas crianças a brincar nas ruas. Junto aos muros, como que perdidos no Tempo, muitos idosos de cabelo grisalho, contrastando com a sua tez morena. E em cada rosto, em cada olhar, um pedaço de solidão. À passagem da camioneta, saúdam-nos com os braços no ar, num gesto amistoso. Agora, que regressamos a S. Vicente, da amurada do barco, vamos dizendo adeus à ilha. No porto, ficou uma amálgama de gente e de mercadoria, num colorido bem vivo, que só África nos faz colar na retina.
Foi na Ilha de Santiago - Cidade da Praia - que começou o nosso abraço a Cabo Verde. Uma chegada pomposa, com direito a câmaras de televisão e extensa reportagem no horário nobre do telejornal. A capital, vive ao ritmo brando das pessoas. Parece que a rodas dentadas da Engrenagem do Tempo, pararam. Menos no trânsito, que é frenético. Em cada três carros, um é táxi. Código da Estrada, é peça decorativa. Ultrapassa-se pela esquerda e pela direita e nas rotundas, só vale a boa educação e a cortesia de cada condutor, a dar prioridade aos outros. Foi aqui, que o Choral fez e sua segunda atuação, depois do regresso do Mindelo. De novo, casa esgotada. Outra vez, uma torrente de emoções, de parte a parte. Porém, no dia anterior ao espetáculo, o grupo tinha uma surpresa reservada. O Presidente da República de Cabo Verde, Dr. Jorge Carlos Fonseca, fez saber que pretendia receber o Choral Polophónico de Coimbra. Assim, rodeado dos seus mais diretos colaboradores, compareceu numa ampla sala do Palácio Presidencial. Por muitos minutos, conversou com todos, falando da sua passagem por Coimbra, onde cursou Direito, recordando a sua estadia numa “República”. Um a um, cumprimentou todos os membros da comitiva, que era composto por quarenta e seis elementos. Na noite de passagem de ano, promovido pelo Grupo Coral da Praia, lá fomos para um espaço reservado numa zona nobre da cidade. Todos em conjunto, portugueses, cabo – verdianos e respetivas famílias, dançaram e deliciaram-se com a comida oferecida, até às sete horas da manhã.
Depois, a dois de Janeiro, foi o regresso. Na sala de embarque, um estreito abraço a todos os que puderam comparecer, para se despedir de nós.
Nas asas de Portugal, regressámos a Lisboa. Havemos de voltar – dizia-se no avião em surdina. Enquanto me entretinha a ler o jornal “ Público”, oferecido por uma hospedeira de bordo, percebi, sem esforço, que o coração de todos nós tinha ficado lá.
Q.P.
Foi naquela ilha de S. Vicente, que o grupo deu o primeiro espetáculo. Numa sala esgotada, Coimbra fez-se representar ao seu melhor nível, a par de um jovem coral de um liceu do Mindelo. Uma noite de emoções fortes, em que foi bem patente o estreitar dos laços da amizade entre anfitriões e forasteiros.
A Ilha de Santo Antão, é um hino à Natureza. Uma hora de viagem, num enorme “ferry”, ao sabor das ondas e ao som de mornas e coladeiras. A Ilha, tem muito da intervenção do Homem, sobretudo a nordeste, com pequenas courelas de cultivo, em locais quase inacessíveis. Mas é de uma beleza rude e descarnada no seu sopé. Porém, à medida que vamos trepando a serra, por uma estrada estreita e sinuosa, a vegetação é progressivamente mais densa. Das montanhas, escorrem pelos seus declives, tufos de nuvens brancas como algodão, que se espraiam pelos vales até às areias da praia, num cenário de empolgante beleza. Neste ou naquele aglomerado urbano, de casas modestas, muitas crianças a brincar nas ruas. Junto aos muros, como que perdidos no Tempo, muitos idosos de cabelo grisalho, contrastando com a sua tez morena. E em cada rosto, em cada olhar, um pedaço de solidão. À passagem da camioneta, saúdam-nos com os braços no ar, num gesto amistoso. Agora, que regressamos a S. Vicente, da amurada do barco, vamos dizendo adeus à ilha. No porto, ficou uma amálgama de gente e de mercadoria, num colorido bem vivo, que só África nos faz colar na retina.
Foi na Ilha de Santiago - Cidade da Praia - que começou o nosso abraço a Cabo Verde. Uma chegada pomposa, com direito a câmaras de televisão e extensa reportagem no horário nobre do telejornal. A capital, vive ao ritmo brando das pessoas. Parece que a rodas dentadas da Engrenagem do Tempo, pararam. Menos no trânsito, que é frenético. Em cada três carros, um é táxi. Código da Estrada, é peça decorativa. Ultrapassa-se pela esquerda e pela direita e nas rotundas, só vale a boa educação e a cortesia de cada condutor, a dar prioridade aos outros. Foi aqui, que o Choral fez e sua segunda atuação, depois do regresso do Mindelo. De novo, casa esgotada. Outra vez, uma torrente de emoções, de parte a parte. Porém, no dia anterior ao espetáculo, o grupo tinha uma surpresa reservada. O Presidente da República de Cabo Verde, Dr. Jorge Carlos Fonseca, fez saber que pretendia receber o Choral Polophónico de Coimbra. Assim, rodeado dos seus mais diretos colaboradores, compareceu numa ampla sala do Palácio Presidencial. Por muitos minutos, conversou com todos, falando da sua passagem por Coimbra, onde cursou Direito, recordando a sua estadia numa “República”. Um a um, cumprimentou todos os membros da comitiva, que era composto por quarenta e seis elementos. Na noite de passagem de ano, promovido pelo Grupo Coral da Praia, lá fomos para um espaço reservado numa zona nobre da cidade. Todos em conjunto, portugueses, cabo – verdianos e respetivas famílias, dançaram e deliciaram-se com a comida oferecida, até às sete horas da manhã.
Depois, a dois de Janeiro, foi o regresso. Na sala de embarque, um estreito abraço a todos os que puderam comparecer, para se despedir de nós.
Nas asas de Portugal, regressámos a Lisboa. Havemos de voltar – dizia-se no avião em surdina. Enquanto me entretinha a ler o jornal “ Público”, oferecido por uma hospedeira de bordo, percebi, sem esforço, que o coração de todos nós tinha ficado lá.
Q.P.
Este texto,foi feito a "pedido" do Fernando Rafael, que estava muito "desiludido" por eu não dar as minhas impressões da digressão do Poliphónico a Cabo Verde.
ResponderEliminarMuito ficou por dizer. Mesmo assim, o texto é longo, mas ficou, em traços muito gerais esta digressão.
Ao Choral Poliphónico de Coimbra agradecemos mais esta viagem.A todos, uma saudação bem amiga.
E aos nossos anfitriões, que aguardam este texto, um abraço do tamanho da Baía do Mindelo ...
Da Beira Baixa para Cabo Verde. O mesmo estilo de escrita, mas cenários tão diferentes.
ResponderEliminarNo primeiro caso uma região a quem paulatinamente têm sido roubadas as esperanças, conduzindo-a a um fim sem perspectivas. No segundo, uma jovem nação em franco desenvolvimento, que a alegria do seu povo impulsiona para a frente.
Em ambas a nostalgia de um povo a que nos orgulhamos de pertencer, pelo que já fez ao longo da sua História e que parece ter agora esquecido.
Quito: não sabia que pertencias ao CHORAL POLIPHONICO! Não paras de me surpreender...quem diria...até pareces ter um fiozinho de voz, ah! ah! ah! e às tantas sai daí um VOZEIRÃO!!!
ResponderEliminarQuanto ao Mindelo, é um dos meus destinos preferidos. Já lá fui 3 vezes e mantenho sempre uma saudade danada daqueles pedregulhos, daquela baía, daquelas ruelas , da música e da gente...
Parabéns pelo texto.
Caro Rui Pato
ResponderEliminarApenas fui como acompanhante. O André Pereira, é que integrou o grupo, pois o Choral tem 3 temas (dois de Zeca Afonso) acompanhados ao piano.
Mindelo, deixa saudades. Ninguém anda a reboque da ditadura do relógio.
Surpresa será para ti, talvez, o teu colega Xavier,africano de Angola, médico na Gastro do Hospital dos Covões e que é coralista. Muito estimado por todos e de um humor impagável.
Um abraço também para o Rui Felício ...
Um obrigada à São e ao Quito pela imagem de uma frase, completamente verdadeira, e pela descrição da sua estadia e viagem.
ResponderEliminarRevivi esses lugares com agradável "sodade"!
Não fui, mas assim parece que tb fui. Beijo paizão :)
ResponderEliminarSem nunca ter estado em Cabo Verde..."conheço-o" bem!!! Tive o previlégio de conviver com estudantes a Cidade da Praia, do Mindelo e da da Ilha de S.Vicente! Povo extraordinário e orgulhoso da sua riqueza...musical!!!
ResponderEliminarSempre que se ouvia uma morna...lá na Republika...o sentimento era grande e inevitávelmente SEMPRE deixavam cair uma lágrima! A magia da Sodade...cantada pela grande Senhora Cesária Évora...era sempre motivo de grande emoção. Dei ao Quito, os nomes de alguns amigos caboverdianos que "viveram" no RAJA 11, na António José de Almeida, hoje já formados e alguns estão por Cabo Verde! Para eles vai aquele abraço do "tamanho do Mindelo"!
Para o Quito e para a São...tomem lá um abração e um FRA ao Choral Poliphónico de Coimbra!!! Já sei que teve um sucesso extraordinária a vossa digressão!!!
Bonito texto QUITO. Là vou eu para a cama, lembrando os bons momentos que passei com a Cizé EVORA!
ResponderEliminarFoste ao cemitério? Tens algumas fotos? Estaria interessado!Tenho que arranjar alguem que consiga passar aquelas duas fotos que tenho no telemovel, dum encontro que tive com ela em Paris!
Grande abraço!
Pronto estás perdoado!
ResponderEliminarO texto cá está!
Pelo que dizes fui tudo 5 estrelas!
Outra coisa não seria de esperar!
Até porque não cantaste!
AH!Quantas milhares de fotos tirou a São!
Texto "bem pincelado" que nos transporta através dessa maravilhosa ilha de Cabo Verde, que tive o privilégio também de ter visitado!
Já estou a ver que vais lá voltar, pois sem o coração (que o deixaste por lá) é dificil viver por cá!
O Quito trouxe-me a memória da minha curta estadia no Mindelo, há cerca de 15 anos.
ResponderEliminarForam quatro dias, carregados de emoções, que me valeram o conhecimento de um povo prenhe de afabilidade, generoso nos afectos e muito grato aos portugueses.
Vá-se lá saber porquê!
"Vive ao ritmo da morna", é a forma sábia com que nos é transmitido aquele respirar de tranquilidade...
Obrigado, Quito. Que sodade!