José Ribeiro Cardoso
Foi em Cabo Verde, que revivi algumas glórias da Académica.
Lembro aquela fotografia do Capela, em grande destaque, numa vitrina da Câmara
Municipal de Mindelo. E que dizer de um grande retrato emoldurado da Briosa de
Cabo Verde, num estabelecimento de uma rua mindelense ? Uma emoção. Ali,
naquele lugar de afetos, aquele grupo de homens de negro vestidos, de losango
ao peito, mais não era que a vontade bem africana, de pertencer a uma grande
família. A família da Académica. O álbum de memórias da Briosa, está cheio de
páginas de heróis. De heróis da bola, que espalharam a sua arte pelos relvados
de Portugal e do mundo. E, no dia em que penduraram as chuteiras, continuaram a
dar a sua dedicação e o seu saber, à sociedade onde estão inseridos. Seja pela
prática da Medicina, do Direito, da Engenharia ou da Arquitetura. Outros houve,
porém, em que a roleta da vida não lhes proporcionou tão dourados voos. Mas
prosseguem o seu caminho, calcorreando horizontes mais esbatidos e contribuindo
também eles, decisivamente, para esta partilha que é a de vivermos em
comunidade. Lembrar Capela, lembrar Bentes, lembrar Ramin, lembrar Alberto
Gomes, lembrar Rocha, lembrar Belo, lembrar Maló, lembrar Rui Rodrigues,
lembrar Artur Jorge, lembrar Ernesto ou lembrar os irmãos Campos, é lembrar a
Académica. Imperativo, também, é recordar os menos mediáticos. Envergaram a
camisola negra e por ela se bateram. Recordo agora um, de entre vários. Era
apelidado de um nome estranho, devido à profissão de talhante do seu pai.
Rápido com a bola, esfarrapava-se e dava tudo de si pela equipa. Cada vez que
corria em direção à área do adversário, havia um clamor no estádio, pelo seu
estilo ziguezagueante a entrar na área e o pontapé violento às redes. José
Manuel Ribeiro Cardoso é o seu nome, mas todos lhe chamavam “Febras”. Hoje,
vive em Lamego, e pela internet, vai recordando os seus tempos de Académica,
com o associado Gonçalo Pereira, que o descobriu por acaso. Febras, tem agora a
profissão de nadador – vigilante, na Piscina Municipal de Lamego. Não terá,
certamente, muita gente a olha-lho das bancadas daquele local de lazer e a
aplaudi-lo. Partiram, à velocidade de um suspiro, os momentos de glória. Mas
consigo imaginá-lo no próximo verão, sentado numa cadeira de lona, a vigiar
todos os movimentos dos banhistas e a recordar-se da bela Coimbra, dos golos
fulgurantes que marcou e das suas saudosas memórias.
Quito Pereira
pelo livro ACADÉMICA História do Futebol, FEBRAS esteve na Académica 6 épocas de 1994 a 2000.
ResponderEliminarPenso que no 1º ano esteve esprestado.
Outros jogadores nesta foto: Além de Pedro Roma- Palancha, Mickey, Besirovic, Tó Zé.
Febras era do género, "antes quebrar que torcer". Jogador veloz, quando embalado com a bola nos pés, era difícil de segurar. Não teve a notoriedade de grandes nomes da Briosa. Mas foi, sem discussão, um bom jogador da Académica, muito acarinhado pelos sócios. Aqui lhe presto a minha homenagem e agradecimento, como académico que sou, com 46 anos de sócio..
ResponderEliminarfico muito contente por voces não me terem esquecido e claro muito agradecido por me terem acolhido nessa cidade maravilhosa de Coimbra e o meu orgulho é imenso por ter vestido essa camisola é é com enorme orgulho que digo eu fiz parte dessa familia grande abraço e muito obrigado a todos
EliminarAmigo Febras
EliminarDesejo-lhe felicidades. Família minha viveu vários anos em Lamego e adoram a cidade. Um cunhado meu, jogou até no Sporting de Lamego, quando aí viveu. De vez em quando passo por aí, a caminho de Trás - os Montes e vou sempre à pastelaria "Dalila", na Avenida principal, onde o proprietário tem lá um presunto, cortado em fatias muito finas que é fantástico !!! Saber cortar bem o presunto é uma arte !!!
Abraço
A Final do Jamor, já o disse, foi para mim a prova de que a mística da Briosa é imortal e atravessa gerações. Mesmo aqueles que, como eu, estão afastados de Coimbra há longos anos, irmanaram-se nesse inesquecível dia com a juventude actual revivendo os tempos idos.
ResponderEliminarE não é preciso muito! Basta olhar as camisolas negras a contrastar com o verde da relva, para reactivar essa mística que se julgava adormecida.
Há tempos, em conversa com o Belo, senti da parte dele a mesma comunhão de sentimentos, ele como antigo jogador e eu como simples adepto.
A mesma postura que agora o Quito nos conta em relação ao Febras, jogador mais recente, mas não menos atingido por essa mística.
Não é por acaso que esse sentir se espalha por todas as partes do mundo por onde algum antigo estudante ou antigo jogador da Académica passou. Como é o caso de Cabo Verde.
É por isso que a Briosa é diferente de todos os outros clubes de futebol! E, neste aspecto, maior que qualquer um deles…
Bom comentário, Rui ...
ResponderEliminarDepois do Coral Polifónico de Coimbra, ter sido recebido na Câmara de Mindelo,que estranha amálgama de sentimentos me percorreu, quando vi num grande expositor, por entre muitas lembranças e honrarias que a Câmara recebeu, uma grande foto do Capela, em destaque. Alguém disse, que a Académica é uma Causa. E é. Vamos vagueando pelo mundo num solidário SENTIR, quer na preocupação pelas grandes causas sociais ou, simplesmente, batendo-nos com aqueles para quem a vertente desportiva é apenas e só isso. Mas o tempo é voraz. E muitos, que no relvado deram tudo pela Briosa, escondem-se agora na penumbra do Tempo.
Quando tive conhecimento da nova realidade do José Ribeiro, hoje em funções bem diferentes, na linda cidade de Lamego, decidi escrever algo. Afinal, uma homenagem não só a ele, mas a todos os que envergaram a camisola da Académica. E, no caso em apreço e com maior destaque, aos nossos atletas a quem a Vida engoliu.
Um abraço
É verdade. Tenho falado com o grande Febras que continua a sentir a Briosa como sua :) Lembro-me de um episódio uma vez, salvo erro com o Campomaiorense, em que fiz uma birra de todo o tamanho porque queria por força que o treinador da altura (creio que o Vieira Nunes) o metesse em campo. Já com antiga Central A a olhar para mim de lado (Febras soava-lhes a nome de ponta de lança do Eira-Pedrinha), meu pai incluído todo encolhido de vergonha, entra o Febras a 15 minutos do fim quando havia canto a nosso favor. A bola sai redondinha para a cabeça dele e ... pumbas, 1-0 e 3 pontos para a malta, Febras de cabeça :)
EliminarLembro-me de um nosso amigo,infelizmente já desapareciso, que costumava ver os jogos connosco, olhar para o meu pai com um olhar de "afinal o puto é capaz de ter razão" :) Memórias que ficam ...
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