É por entre as brumas da memória, que aqui venho - pela mão
do Rui Felício – recordar essa figura azeda que se chamava Lacerda. Verdade se
diga, que o emproado funcionário, era apenas um entre muitos os que povoavam o
universo do Dom João III. Porém, o seu estrelato de “manga – de - alpaca”,
apenas lhe permitia agredir os alunos verbalmente. O seu estatuto de barricado
por entre requerimentos e carimbos, não dava azo a que praticasse uma das
modalidades mais em voga no liceu e com alguns entusiastas. Refiro-me à
agressão física aos alunos, cujo principal mentor era um tal Guerra, reitor e
porta-bandeira de um grupo de caceteiros. Depois o Almeida e o Egídio, que se
comportavam como pastores, a meter ovelhas num redil. São injustas as minhas
palavras? Não são. Jamais esquecerei, a bofetada cobarde que o “disciplinador”
Guerra me deu, por razões que até hoje desconheço. Ou dos alunos vitimas de
barbaras agressões a pontapé, no sinistro gabinete do reitor, longe dos olhares
de todos. Anos depois, quando o Guerra se finou, os viscosos elogios eram mais
que muitos. Que nunca tinha participado de um aluno, dizia um padre que por lá
andava, e que também era useiro e vezeiro em “molhar a sopa”.
Mas estou aqui para falar de Lacerda. E neste depoimento
sombrio, um toque de humor, que vos vou contar: … certa noite, jogava-se uma partida
de basquetebol para o campeonato entre a Académica e o Benfica. Por razões que já me
escapam, o jogo foi no ginásio do Liceu Dom João III. A Académica tinha uma
grande equipa, e fez frente ao grupo forasteiro. O jogo “aqueceu” e o árbitro
começou por descambar, em clara tendência para os lados da capital. Já quase no
fim, uma decisão errada, fez transbordar o copo. Os de Coimbra invadiram o
campo, foi uma enorme confusão e o jogo já não acabou. Eu estava presente, com
o meu pai, e da batalha recordo-me de uma cadeira partida e enfiada no cesto
defendido pelos benfiquistas. Mas o que é que o Lacerda tem a ver com isto,
perguntarão? Tudo. Porque foi dos primeiros a invadir o campo, com a sua
pequena estatura, furioso, a “fazer peito” para os avantajados atletas
encarnados, com perto de um metro e noventa de altura e que iam olhando para
ele com alguma comiseração e muita complacência.
Quito Pereira
Há recordações que não esquecem. E aquela lambada do Guerra, jamais esquecerei. Nunca o meu pai me agrediu, quem era um tal Guerra, a quem nunca dei confiança, mesmo sendo eu um jovem, para me bater?
ResponderEliminarValia-se o teu estatuto, para aterrorizar os alunos. ...
Ai se fosse hoje, meus amigos !!!
Das histórias do Guerra lembro-me alguma coisa...E recordaste-me a sua acentuada característica de dar porrada!
ResponderEliminarQuanto ao Lacerda, pela sua Académica, as suas "mãos ossudas"estiveram prontas
para actuar...Boa Lacerda!
Agora compreendo o "chocalhar dos ossos" do Lacerda! Imaginem que tinha levado uma lambada de dos tais "gigantes"...dos "lampiões"?...Se calhar os "ossos" deixavam de chocalhar! Já agora, recordo-me do corredor do 1º piso - Sala H...com o Reitor a berrar para o Egídio: Apanha-me esse menino! O "menino" era eu que tinha dado um pontapé numa bola de papel...que (azar o meu!)...parou aos pés do Guerra! - Tive mais sorte que o Quito! Fugi...e só parei na R. do Brasil!? Moral da história! Passados uns dias...lá em casa foi recebido um "postal"...assinado pelo Reitor do Liceu D.João III! Meu Pai não me bateu...apenas um "sermão" e...no ano lectivo seguinte fui transferido do Liceu para a Avelar Brotero! As "engenhocas" já mexiam comigo e até um relógio despertador desmanchei! Ficou a dar horas, tipo Cuco, do JóJó!!!
ResponderEliminarEste episódio contado pelo Quito fez saltar o Lacerda do último para o penúltimo dos dez degraus que constituem a escala da minha consideração.
ResponderEliminarJá estou quase como as agências de notação Fitch ou Moody's...
Olinda
ResponderEliminarImagina que até tu, que andavas no Liceu Feminino, tinhas conhecimento da fama do Guerra e seus briosos rapazes ...
Leitão
Dava dinheiro para te ver a bater o record dos 1OO metros, na Dias da Silva. Tiveste mais sorte que eu, que levei um chapadão, sem saber porquê. O tipo apeteceu-lhe bater e isso era o suficiente...
Felício
Na escala de 1O, a minha notação para estas pardas criaturas...é ZERO de consideração. Do Lacerda pouco tenho a dizer,a mim nunca me tratou mal, mas vi-o ser grosseiro, por vezes, com os alunos ..
Nunca tive problemas assim, os meus eram piores.
ResponderEliminarTão maus que os varri completamente da memória.
O penedo grande continua a fazer o seu efeito, cortar com as coisas más que me
aconteceram.
Tonito.
Como disse,não me recordo do "Lacerda".
ResponderEliminarRaramente fui à Secretaria.Mas fui chamado,2 ou 3 vezes,ao gabinete do Pulga.
Numa delas,ele tentou dar-me uma bofetada mas escapei com a cara...
Lembro-me perfeitamente desse jogo de basquetebol,a que assisti,e da cena final de "invasão".Tenho ideia da cadeira enfiada no cesto,mas não me lembro do contino.
Lembro-me da cena que continuou,fora do Liceu...
Mas,se foi o "Lacerda",nesse dia foi um "herói"!
Os jogadores do Benfica tiveram grandes dificuldades para saír da cidade...
Um abraço.
Ainda bem que assististe Rui Lucas, pois podiam pensar que era mentira. Não foi uma batalha campal, mas quase, com a cadeira metida no cesto. Confirmo que foi o Lacerda, pois conhecia-o bem. Perdia a cabeça com facilidade, mas naquele dia era de perder mesmo. Foi um roubo de igreja !!! Não me recordo dos jogadores do Benfica serem agredidos, mas o árbitro saiu da arena em ombros e não o atiraram por uma janela do liceu, porque não calhou. O jogo não acabou e, se a memória não me falha, perdemos por 1 ponto apenas...
ResponderEliminarNão te lembras do Lacerda, do Almeida e do Egídio, que nos agrediam com os molhos de chaves na cabeça, que era muito doloroso ??? Foste um aluno de sorte !!! Mas também é verdade que havia lá continuos muito boas pessoas, como o Pratas e o Senhor Pinheiro, que morava no Bairro ...
Lembro-me bem do senhor Pinheiro.Que me lembre,era o único que tinha tratamento de "senhor".Lembro-me da besta do Egídio,do Almeida que era um sacana delico-doce...Suponho que o Pratas era o contino daquele edifício,a seguir ao recreio,que dava para o ginásio.
EliminarA seguir ao 3º ano,só tive passagens intermitentes pelo Liceu.
Já fiz o 4º e o 5º no São Pedro.Regressei no 6º e fiz o 7º por fora.
Talvez que essas mudanças me baralhem a memória...
Um abraço.
Boas memórias!
ResponderEliminarAos costumes nada posso dizer!
Esta GUERRA não é minha!
Mas gosto que contem estes episódios...mesmo os mais escaldantes, que passam pela Baixa!
Quito, o Sr. Pinheiro ainda é vivo e é sobrinho do meu tio/avô Pinheiro que me criou! Boa gente!
ResponderEliminarO Senhor Pinheiro, vivia na minha rua, Alfredo. Na casa geminada com o "lendário" Leite Braga. Não sei se ainda viverá por lá, mas deve andar perto dos 9O anos ...
EliminarE o Simões que morava aqui na rua H -Gonçalves Zarco e era filho do Simões barbeiro.
ResponderEliminarAgora,também me lembrei do Simões.
EliminarE era pai do Freitas Simões, meu amigo e colega de profissão, que foi presidente do CRPNM nos finais da década de 70.
EliminarNão sabia.
EliminarPois é, há coisas que eu sei e tu não sabes e há coisas que tu sabes e eu não sei.
EliminarAprofundando ainda mais este filosófico pensamento, lembra-te que uma coisas é uma coisa e outra coisa é outra coisa...
Abraço.
Está bem,pronto.
ResponderEliminarCorrijo "contino" e passo a "contínuo".
As minhas desculpas.
Não fiques triste
EliminarEu também me esqueci de acentuar o i do sacana do contínuo Probido.
A malta desculpa, que remédio...
Meus amigos, eu também tive o meu Lacerda.
ResponderEliminarChamava-se Armando mas poucos lhe conheciam o nome. O seu nome, para todos os efeitos, para os alunos do Liceu Alexandre Herculano, no Porto, era o PROBIDO.
Era continuo e destilava ódio, rancor, sobre os alunos. Não batia porque tal não lhe seria permitido. Mas deliciava-se a agarrar a miudagem, por tudo e por nada, com a sua mão enorme e ossuda, pelo pescoço. Pelo cachaço, como ele próprio dizia.
A sua grotesca figura, percorria os corredores do liceu com um molho de chaves na mão esquerda, chaves que eram o símbolo da sua autoridade. Era com elas que abria as salas de aulas à chegada do professor(a), com uma vénia ridícula lembrando as cortesias medievais.
A mão direita servia-lhe para, de dedo indicador em riste, ir avisando que era probido correr nos corredores, era probido falar alto nos corredores, era probido... sei lá mais quantas coisas que aquele atrasado mental inventava para alimentar a sua doentia sede de autoridade.
Havia um ritual no liceu. Quando um aluno era expulso de uma aula era de imediato levado à Reitoria.
- Sr. Armando, acompanhe este aluno ao Senhor Reitor. - chamava o professor e é por isso que eu me lembro que o Probido era Armando.
Era aqui que o Probido atingia o seu orgasmo, afivelando violentamente o cachaço da miudagem desde a saída da sala de aula até à Reitoria.
Resta explicar que este cretino trabalhava, mal, como se percebe, nos corredores do 1º ao 3º ano. Isto é, trabalhava com crianças entre os 11 e os 14 anos de idade.
Estou certo que, se ele tivesse autoridade para legislar, decretaria :
"É PROBIDO SER CRIANÇA".
Nota: para compensar, o Reitor era um homem compreensivo, um bonacheirão que transmitia simpatia e carinho pelos alunos. De seu nome Balacó, ficou-me no meu registo de boas recordações do Alexandre Herculano.
Que são muitas. A excepção é mesmo o cretino do Probido.
A grande maioria dos "contínuos" eram uns lambe-botas....que nem o 25 de Abril acabou, apesar de virarem a "casaca"!!!! Gostei do teu comentário, caro Amigo Viana!!!! Toma lá um abraço.
EliminarTodos temos as nossas recordações. Mas este tipo, era uma besta. Um dia, um aluno da minha turma, foi ao gabinete dele. Desequilibrou-se com um estalo que ele lhe deu e caiu ao chão. Acto continuo, o Guerra desatou aos pontapés a ele, com as suas grossas botas.
EliminarE o que me chateia, é que este tipo nunca foi chamado à responsabilidade. Estava bem protegido ...