terça-feira, 6 de setembro de 2011

O ELOGIO DO MAR ...

Mar. O meu mar. O meu mar confidente ...

É da varanda de minha casa, que vou escutando a voz do mar. Todos os anos é assim. As férias de Verão, estão no seu entardecer. Está na hora de abalar. Do sabor acre da partida. Do abraço aos amigos e familiares que ficam. Também dos que partem para outras paragens. É por isso que hoje, neste harmonioso fim de tarde de Setembro, elejo o mar como meu confidente. Com ele, estabeleço o meu monólogo. A tranquilidade da sua cor azul -turquesa, inunda-me os recantos da alma. Afinal, o alento de que preciso, nesta arena competitiva em que se transformou a rota da vida. Mas o mar ouve-me e eu oiço o marulhar da sua voz. Por isso, o meu olhar errante, afundado em pensamentos, na procura de uma resposta à angústia do adeus. E hoje, quarto dia do mês de Setembro do ano da Graça de dois mil e onze, o mar, o mar generoso, talvez condoído de mim, pintou perante os meus olhos, uma tela colorida com cheiro a maresia. Como pano de fundo, o sabor tranquilo das tardes calmas. Ao longe, lá bem ao longe, um tufo de nuvens brancas, repousa no horizonte. Uma vela alva, desliza sobre o oceano, na procura do rumo de Sagres. No conforto da baía de Lagos, um paquete de cruzeiro, vestido do seu dorso de cerimónia. Em breve, um manto negro tombará sobre a cidade. E, no oceano - como todas as noites - apenas diviso as candeias longínquas dos pequenos barcos de pesca, na faina artesanal do pescado. E a luz verde - rubra acolhedora do farol de Portimão. Uma referência indispensável aos caminhantes do mar. Do mar eterno. Do mar - pão. Do mar que é também património desta cidade que foi refúgio de Navegadores. Lá em baixo, no ventre da cidade, o Infante Dom Henrique, imortalizado numa estátua, olhando o horizonte, decifrando os mistérios do mar infinito. Também a “rosa – dos – ventos”, desenhada no empedrado da calçada. Agora que as trombetas anunciam a hora da levantar âncora deste porto de emoções, despeço-me do Atlântico. Deste Atlântico acolhedor e perpétuo. Deste Atlântico algarvio. E amanhã, olhando o porte imponente da montanha, resta-me vogar na crista dos sonhos e da saudade. E esperar pelo dia do regresso. Porque aquele mar que vislumbro do meu recanto dourado, cá estará. Fiel à sua missão intemporal de afagar o areal das praias lacobrigenses. E de me abraçar, num monólogo que vamos mantendo há mais de cinco décadas, confidente leal dos meus segredos de criança ...
Cidade de Lagos, 4 de Setembro de 2O11
Q.P.

8 comentários:

  1. Não há dúvida que tens mesmo uma grande paixão por Lagos!
    Claro pela cidade de Lagos
    Lagos há muitos!
    Mas pelo que já li noutras postagens tens mesmo razão para teres essa paixão, que nasceu há muitos e muitos anos...
    Agora na despedida desta vossa estadia(mais uma), resolveste dedicar ao mar de que tanto gostas, as palavras de despedida no teu estilo, que já é uma marca "Quito...siana"!
    Um abraço e bom regresso(que já foi,né?)

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  2. Pois, meu caro Rafael, já estou atrás das montanhas ...
    Abraço

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  3. Lagos é, ainda, mais bonita na hora da despedida.

    Confesso que sempre tive dificuldade em explicar porque é que Coimbra tem mais encanto na hora da despedida.
    A melhor explicação que consegui arranjar foi a de que se subentendia o "ainda", que transformava a quadra em "Coimbra tem ainda mais encanto na hora da despedida".

    O Quito, na despedida de Lagos, sente que ainda é mais bonita, o mar ainda é mais azul, ainda é mais confidente, o cheiro da maresia é ainda mais acentuado...

    Agora, que "já está atrás das montanhas", mitiga a saudade com este belo texto que aqui nos oferece.

    Grande abraço.

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  4. Nada é eterno e, embora a contragosto, teremos de voltar às nossas rotinas!
    Mas as recordações sendo boas, virá outra maré que são mais que os marinheiros...
    Mar e serra?! Querias mais?!
    Olha Quito, vens até ao Bairro e cá nos encontraremos na Praça do Infante D. Henrique no próximo fim-de-semana.
    Um lindo texto que nos embala no azul do mar!

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  5. Compreendo a nostalgia do Quito...
    Menos de um mês a olhar o mar da sua varanda de Lagos é tempo insuficiente para mitigar as saudades de quem passa o resto do ano entalado entre as fragas das serranias.
    Mas tudo é relativo. Porque mar e montanha têm ambos os seus encantos específicos e diferentes.
    Não esqueço uma semana que passei na Quinta do Crestelo em Seia, em Fevereiro deste ano, ao acordar, abrir a janela e olhar os penhascos da Serra da Estrela e o prado verde nas imediações do hotel, cortado por um regato de água cristalina, onde deambulava meia dúzia de cavalos. Uma visão que nada fica a dever à imensidão do mar que olho rotineiramente o ano inteiro...
    Mas, seja qual for o pretexto, o Quito consegue sempre, como agora, fazer-nos associar a essa nostalgia, sentindo-a através do dom da sua escrita que é a sua imagem de marca...

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  6. Ainda não tinha chegado à via do Infante e já tinha saudades ...

    Lagos Rulezz Forever !! :)

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  7. Pois, Gonçalo, lá é que estávamos bem, na sorna ...
    BJS
    Pai

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