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Repousa em paz, Cize !


Escrevo este texto de homenagem a essa "Diva dos pés descalços" bastante emocionado! Foi-se uma voz que tanto apreciava.

Apesar dos momentos de saúde bastante precários que vivera nestes dois últimos anos e a paragem obrigatória imposta pelos médicos,  nada fazia prever um desfecho fatal tão rápido.

Depois de ter conhecido tardiamente o sucesso, tal como o seu amigo cubano, COMPAY SEGUNDO, que ela tanto apreciava, CESÁRIA EVORA conquistou dignamente o seu estatuto de DIVA graças aos múltiplos concertos e milhões de discos  vendidos por esse Mundo fora.

Filha dum pai violinista e duma mãe com imenso jeito para a cozinha, Cize conquistava já aos 16 anos o seu Mindelo natal, cantando em bares e bailes privados. Mornas ou coladeiras, sinónimos de ambientes tristes ou de extrema alegria, contribuíram para que Portugal fosse em 1985, o primeiro pais a reconhecer o seu talento, com actuações em Lisboa.

A sua projecção mundial deve-se a José da Silva, o seu empresário franco-cabo verdiano, que tanto lutou para lhe traçar um destino. Foi o personagem mais importante da sua carreira artistica.

O seu primeiro trabalho vem para as bancas em 1988 e confere-lhe um estilo bem único, conseguindo harmonizar a tristeza, o amor, o exotismo do arquipélago com tonalidades africanas e cubanas.

Seguem-se "Mar Azul" e " Miss Perfumado", sendo este último, o álbum que a projectou verdadeiramente no estrangeiro, graças ao titulo "SODADE". 

No total, onze álbuns que confirmarão o seu talento e a sua estabilidade artística.

Artista muito apreciada em França, é condecorada em Março de 2008 pelo Ministro da Cultura e elevada ao titulo de "Chevalier de la Légion d'Honneur"!

Tive o enorme privilégio de a encontrar três vezes. Era uma mulher muito reinadia  mas também reservada. O seu sorriso amargo que tanto a caracterizava, era bem a prova desses tempos difíceis vividos em Cabo Verde, quando ainda desconhecida.

CESÁRIA EVORA detestava dar entrevistas. Naquele nosso primeiro encontro em Estrasburgo, capital da Europa, revelou-me que a politica não lhe interessava e que nunca a deixaria transparecer nos seus textos. Lá tinha as suas razoes!

A última vez que falei com ela, foi em Paris, à porta do seu Hotel, no  "17° arrondissement" , a poucos metros do apartamento da minha filha. Estávamos em Janeiro de 2010 e estava um frio de rachar. Cizé encontrava-se cá fora, a fumar o seu cigarrito, curcuvilhada à volta dum chaile. Cumprimentei-a, expliquei-lhe quem era e acabou por se lembrar de mim. Acrescentei "Então Dona Cesária, quando é que deixa esse maldito cigarro ?" Com um sorriso tímido lançou-me "Ai!Filho! Tá tanto frio qu'isto serve mesmo de lareira!!!"

Tirámos duas fotografias juntos (que conservo no meu telemóvel) e no dia seguinte, lá fui ao Teatro Grand Rex, vibrar com as mornas e coladeiras  dessa Diva dos pés descalços!

"Oh! Deus dá nha alma um sossego

'M ca magoá ninguém

Pamode é mim qu'tá sofrê

ljda'me olà realidade

Aliviá essa nha dor

Mim também 'm tem direito

 Di ser feliz Li na terra"

("Desilusäo dum amdjer")

BobbyZé