A BALADA DA NEVE ...

Covilhã, cidade - neve ...

São léguas e léguas de tapete branco, nestas estradas de um Interior sem fim. Que estranha euforia esta, a minha, a que me resvala dos sentidos ! O Tempo vestiu-se do seu alvo trajar. É o Seu fardar de gala, neste Outono que dá os seus últimos suspiros. Aqui e ali, o barulho terno do correr dos pequenos ribeiros cristalinos. A neve, vai-se dissolvendo, lentamente, destapando como que por magia, as arestas dos campos e das montanhas. E são de novo as roupagens da Estrela e da Gardunha, que se mostram timidamente. Os verdes, os castanhos e os amarelos, retomam o seu lugar na hierarquia do Tempo. Efémera glória. Porque o General Inverno, está de novo à porta, de botas cardadas. E a Estrela, a maior entre as maiores, de novo se vestirá de noiva. A suprema glória de andar em contra - ciclo com a voracidade do Tempo. De resistir à ditadura do entardecer. Porque se renova, na misteriosa engrenagem dos séculos infinitos. E nós, que todos os Natais repousamos a vista neste milagre da Natureza, alimentamos o nosso espanto, como se da primeira vez se tratasse . Então, no recato do nosso lar, ao crepitar da lareira e à luz coada da chama reconfortante, desfolhamos páginas do intemporal versejar de Augusto Gil, e relembramos a Sua “ Balada da Neve ” … bate leve … levemente …
Q.P