O Sr José é um homem de 89 anos residente no Lar de S. Cristóvão, nos arrecores de Leiria. Nos últimos cinco anos habituei-me a vê-lo e ouvi-lo, aquando das visitas à minha mãe. O Sr José sofre de Alzeihmer tendo esquecido muitos factos da sua vida recente, esquece até as visitas que os filhos lhe fazem, chegando a sofrer por hipotético abandono! Da sua juventude de dançarino, tocador de concertina sem saber nada de música e rapaz apaixonado, nada se apagou na sua memória traiçoeira, contando e recontando sobre os bailaricos e "como era educado para as raparigas!" Ainda hoje, a par de um bom aspecto físico, pesam-lhe as pernas que se recusam a dançar, o Sr josé agradece sempre as respostas que se dá às suas insistentes perguntas, fazendo jus ao prazer que tem em ser educado. Todos os dias ele questiona - "Onde estou? Porquê? Quem paga?" Fui desfazendo as suas dúvidas tentando acalmar aquela mente, ele aceitou as respostas e chegou mesmo a completá-las - "Eu estou doente, não podia estar sózinho, os filhos trabalham..." Por fim pergunta - "Ficamos aqui sentados toda a noite?" Claro que não, disse eu, vamos jantar na sala e subimos ao 1º andar onde nos espera uma cama quentinha e um pijama cheiroso... "Tratam-nos bem, afirma ele, não nos falta nada!" E, derepente, solta bem alto uma exclamação - "OBRIGADO POR TUDO O QUE HÁ!" Olhei-o impressionada, a gratidão que o Sr José sente pela vida que tem! É uma lição para muitos de nós, que passamos a vida a queixarmo-nos (de quê, porquê). OBRIGADA SR JOSÉ!
Mariazinha Leão
Mariazinha, o teu relato mais se assemelha a conto de Natal, pela ternura, pela sensibilidade e pelo acto de visitar, conversar e disponibilizar a dar o afecto que tantos "senhores Josés" precisam!
ResponderEliminarMariazinha Leão
ResponderEliminarUm artigo que nos fala de dor, amizade, forma de estar da vida e visão que se tem no momento exato. De fato, se todos vivessem momentos junto de pessoas nesses estados, só notava-mos e dava-mos graças à vida pelo que temos de bom. São as lições tiradas dessas pessoas assim como artigos destes, que nos dão uma visão do futuro muito diferente dos menos bons momentos que fazem parte da nossa vida. Se no momento de nos despedirmos conseguirmos ligar todos os pequeninos bons momentos da nossa vida, seremos pessoas muito felizes. Bem haja.
Bom artigo que é um comovido relato de uma realidade que infelizmente vai acontecendo com pessoas que conhecemos.
ResponderEliminarFelicito-te por esta postagem esperando ansiosamente pela próxima!
Já deu para perceber que vamos ter aqui uma óptima colaboradora!
Obrigado, Mariazinha Leão.
ResponderEliminar