Quantas recordações ...
É à luz coada da lareira, que remexo nas cinzas da memória. Sinto-me refém da saudade. Abrigo-me, pesaroso, neste porto de mágoa. Tento remar contra o Tempo. Regressar à minha nascente de Vida. Tarefa inglória. Corro para a foz da minha existência. Em meu redor, tudo são silêncios vertidos de indiferença. Tenho a alma gelada, deste pálido crepitar da chama. Por estas serras, por estes vales, por estas cidades, por estas aldeias, por estas ruas, as luzes desta época festiva, esmoreceram. Porque em muitos lares, não há Natal. Resta a memória. E eu, que ainda tenho Natal, lembro-me dos tempos de outrora. Do Natal dos chocolates e do singelo brinquedo na chaminé. Agora, é a corrida desenfreada às catedrais de consumo. Os olhos esbugalhados nas bonecas de cartão, artisticamente empacotadas. E dos bonecos sinistros, em poses bélicas, empunhando metralhadoras, a devassar as mentes frágeis e inocentes das crianças. E nessas mesmas catedrais, por ironia, são alguns voluntários do Bem, que recolhem donativos, para aqueles a quem um pacote de arroz faz falta. Não é este o Natal das minhas memórias. Recuso a hipocrisia deste Tempo de ilusória abastança.E é por isso, agora que pressinto o meu entardecer, que guardarei para mim, o verdadeiro espírito de Natal. Das noites frias da Consoada no Bairro da minha vida. E no meu Choupal. Do gesto fraterno e amigo para com aqueles, mais humildes, trabalhadores desse Monumento Nacional que é o pulmão da cidade agora ameaçado, para quem havia sempre um caldo de galinha à lareira. Outros tempos. Outros Natais. E, quando eu, um dia partir, descendo definitivamente o Mondego, vou levar, avaramente comigo, o verdadeiro e fraterno espírito do Natal .
Q.P.
Q.P.
O regresso á tua infância na quadra da Natividade... e com saudade!
ResponderEliminarMeu Menino Quito,recebe um beijinho de votos
de Bom Natal!
Quito,
ResponderEliminarEste artigo, que vim logo ler, nos fala do passado deixando-me admirado a tua melancolia. Foram bons momentos mas a vida não se esqueceu de nós e até nos deu o computador, zingarelho dos diachos, muito calmo e observador que nunca se chateia connosco e que nos permite continuar a "brincar".
Mas como sempre, voltando ao passado, essa casa está no teu e nosso querido Choupal, de todos, não está?
Se nos lembrar-mos ou ler-mos muitos dos teus artigos, hoje o Natal vai ser muito diferente. Que coisa liiinda.
E siga a marinha, como diz o nosso sempre presente e amigo Tonito.
Boas Festas.
Amigo Chico Torreira
ResponderEliminarFoi nesta casa, no Choupal, que nasci, num dia de Outono. Gostava de a ver recuperada. Mas, a vontade de um suposto desenvolvimento, tenderá mais para a destruir. Um dia, só restará a memória ...
O nosso Romancista, tocado pela quadra natalícia e pelo rigor deste inverno, recente mas feroz, defende-se recolhendo ao seu berço e aí encontra a força para disparar o seu olhar atento pelo mundo que o rodeia.
ResponderEliminarE nada lhe escapa, pincelando com os seus matizes de cinzento o negrume que observa.
Gostaria de ter argumentos para o contrariar na leitura amarga que faz ... mas não tenho.
Poderia tentar, aqui, uma fuga para a frente brincando com ele, aligeirando questões, procurando sorrir em vez de sofrer, a par dele. Mas não o vou fazer porque a forma profundamente sentida com que o Quito aborda este tema - que é muito o tema da sua vida - não permite disfarçar com sorrisos os amargos sentidos...
Querido amigo, força!
Que nos vás presenteando com os teus pensamentos e reflexões, é o meu voto para o ano de 2011.
Pronto Quito já cá estás em Coimbra!
ResponderEliminarNo Samambaia já analisamos este texto e até dividimos as orações!
Percebi perfeitanente que és o complemento directo que nasceu nesta casa do Choupal e é por isso que os perdicados que tens, já vêm do senhor Pereira teu avô!
Pois se lhe estava a roubar as galinhas, os guardas preparados para lhe dar uma tareia...
O Sr Pereira: "alto aí" deixem o homem em Paz!
Faz favor de entrar e sentar-se aqui á mesa para a consoada!
Tá na "cara" que sais mesmo ao teu avô!
Até deixas que te comam "jaquinzinhos"!!!!!
Toma lá mais um abraço!
BOAS FESTAS!
Não vai embrulhado nem leva laçarote po causa da crise!
Um Abraço São e Quito.
ResponderEliminarTonito.
Quito,
ResponderEliminarMuito mais do que Conimbricense, sabia que eras Choupalense mas não sabia que tinhas nascido nessa casa. Com um ambiente desses à volta, boas recordações dessa casinha não te devem faltar. É pena que a deixem degradar mas estou convencido que antes do fim, vai aparecer alguém para dar uma mãosinha.
Um abraço,
BOAS FESTAS, para ti e família.
Chico
Que saudades eu tenho do Natal que não começava em Novembro... e era da família e não do comércio...
ResponderEliminarSim, amigo Quito, essa casa é o local do TEU NATAL!
ResponderEliminarRemexes as tuas memórias e contagias-nos...