Eu com as minhas irmãs, na Fig. da Foz - 1952 |
Vieram-me à memória as férias na Figueira da Foz (início dos anos 50), 15
dias por ano, eram sagrados, fazia bem à saúde!
Teria eu os meus 4 ou 5 anos, a minha avó alugava uma casa na Figueira, a
uma senhora que vivia com a neta, com uns vinte aninhos, linda de morrer e que
era bailarina no Casino. Claro que me apaixonei logo pela pequena!!!
Nós, minha avó Regina, eu e minhas duas irmãs, íamos no táxi do Sr. Manuel,
da Rua do Brasil até à Estação. Não levávamos malas, mas uma arca enorme, com
toda a roupa e penso que também com roupa de cama!
Chegados à Figueira, depois de longa viagem de comboio, que parava em todas
as estações e apeadeiros, apanhávamos o “táxi” da época que era uma charrete
puxada por cavalos. Ao chegar à casa que iria ser nossa por 15 dias, era uma
alegria.
Aquele cheiro da maresia da Figueira, as ondas do mar, a quererem
engolir-nos, a areia, nossa amiga, brilhava e ria-se para nós, a convidar à
brincadeira!
Com a ajuda do Sr. Banheiro, um a um todos os miúdos tinham que mergulhar,
totalmente, nas ondas daquele mar ameaçador, sempre à espera de um descuido!
Alguns dos miúdos, choravam, mas de nada lhes servia, porque aquilo era
para o nosso bem!!!
Voltávamos para brincar na areia, sempre atentos à chegada do homem da
Bolacha Americana.
Cada bolacha 5 tostões, que dava direito a jogar na roleta que havia na
tampa da lata das bolachas. Com um pouco de sorte, podíamos ter mais de uma
bolacha pelos mesmos 5 tostões!
O mais curioso é que naquele tempo, para mim, tudo era enorme! O Sr.
Banheiro devia, sem exagero, ter uns 4 metros de altura! A lata das bolachas
era maior que o vendedor, e lá dentro, havia mais de mil enormes bolachas!!!
Hoje, as bolachas são minúsculas, já não há roleta e o Sr. Banheiro,
simplesmente não existe, com muita pena minha, porque tenho a certeza que ele
tinha mais de 4 metros de altura!
Alfredo Moreirinhas
Alfredo
ResponderEliminarQue delícia de texto ! Uma maravilha ! Também por lá fiz férias e isso ajudou a que eu recreasse um pouco da minha infância na Figueira da Foz. O baú da roupa fez-me rir. O pormenor da charrete e a tua paixoneta pela miúda, que te pôs o coração num reboliço. Já anteriormente, uma ginasta de circo te tinha dado a volta ao miolo e até foste a casa fazer as malas. São, realmente grandes recordações.
Não posso deixar de fazer um comentário ao homem da "bolacha americana" e da tampa da enorme caixa cilíndrica com uma roleta. Era assim mesmo !!! O que me foste lembrar, Alfredo !!! Lembro-me que as bolachas eram de dois tipos: em tubo, ou achatadas, tipo leque, a que se chamava a "língua da sogra", lembras-te?
Aquela do banheiro que devia ter mais de 4 metros de altura, é uma imagem soberba, se atendermos à vossa pequena estatura, a babarem-se pela bolacha apetecida ...
Grande recordação. Grande texto. Grande autor.
Um abraço
Obrigado Quito! Foi só para relembrar um pouco da infância de todos. O texto não tem essa qualidade que tu dizes mas eu agradeço a simpatia e sabe bem ouvir!
ResponderEliminarQue magnífica memória de tempos tão bons para nós...
ResponderEliminarA deliciosa narrativa "fez-me reviver" o meu Setembro,15 dias,em Buarcos levada pelos tios Abegão e seus filhos.
Ainda, vivendo em Penela, faziam excursões e lá iamos,adultos e crianças,mulheres em combinação e homens em cuecas e camisola interior,em bicha e o banheiro pumba mergulhava-nos!!!
Boa Alfredo!
A primeira vez que fui a uma praia foi à Nazaré.
EliminarDevia ter talvez 7 anos.Fomos numa excursão que ia levar o "Círio" de Nossa Senhora da Nazaré".Durante duas noites "dormimos todos ao molhe e fé em Deus" num grande salão na parte alta da Nazaré chamada "O Sítio"
Tenho uma foto em que estou com algumas das pessoas que iam na excursão.
Qualquer dia mostro!
Que me lembre nenhum banheiro me mergulhou a cabeça nas ondas!
Olinda, eu tinha um fatinho de banho com peitilho e até os mamilos me tapava.
ResponderEliminarMulheres de combinação era o pai nosso de cada dia!...
Deste livro de recordações, se o Alfredo me permitir, ainda venho aqui recordar a Torre do Relógio da avenida marginal, menção obrigatória de qualquer postal que se preze, da Figueira. Ainda hoje lá está. Porém, naquela época, a sua marca - a marca do relógio - era anunciada no topo da Torre e via-se a grande distância. Era marca "ROAMER"...
ResponderEliminarTambém andava um homem pelo areal da praia, com uma estrutura de madeira que tinha umas saias. De dentro dela, ele manuseava uns bonecos de madeira (robertos), para alegria da pequenada. Eram sempre 3 bonecos. O bom, o mau e o polícia, que normalmente tinha as bochechas coradas e um farto bigode preto. Claro que o bom ganhava sempre, com os 3 figurões em grande reboliço e o "mau" a levar na cabeça com um enorme cacete e o polícia a correr atrás dos dois, para grande entusiasmo da miudagem. No fim, o homem agradecia e lá vinha com uma lata pedir uns tostões para governar a vida ...
Estás a ver o que arranjaste com as tuas memórias, Alfredo ?
Era essa a minha intenção, Quito! E também me lembro dos robertos. O Zé Penicheiro até fez um quadro com os robertos desse tempo!
ResponderEliminarConheci bem esse banheiro, Alfredo!
ResponderEliminarE, embora já não exista, sou fidedigna testemunha ocular de que ele tinha 4 metros de altura. Se não mais...
Pisco para comer como eu era, não ligava muito à bolacha "amaricana". Mas perdia-me para jogar na roleta.
A tua bailarina é que não conheci lamentavelmente. Mas conheci a filha de 22 anos da senhoria da casa onde ficava na Ponte do Galante, de perna gorda e peluda que me deixava completamente atordoado, quando me sentava no seu colo, dizendo que eu era um menino muito bonito.
Estão a ver que o banheiro tinha mais de 4 metros de altura?!... Obrigado Rui, por confirmares. O Quito julgava que eu estava a exagerar!
ResponderEliminarA miúda deixava-te atordoado possivelmente por causa do calor que os pelos te faziam!
Um texto bem refrescante, bem acompanhado com uma foto do baú!
ResponderEliminarSão tempos da praia da Figueira pelos quais não passei, pois só comecei a ter algum contacto com a praia da F.da Foz já teria 16 ou 17 anos, mais propriamente na praia da Gala, junto à colónia de férias Bissaya Barreto.
Fui acampar juntamente com o Emilio o irmão Mário e o João Neto.
Lembro-me que apanhei um "escaldão" nas pernas e podiamos ir tomar banho na colónia balnear. Fazíamos a "paparoca", nem sempre comestível...mas lá nos íamos safando!
Só muito mais tarde, já casado comecei a ir à Figueira(raras vezes), mas com alguma frequência a Mira e à Tocha!
Para Mira apanhávamos em Cantanhede a "carreira" José Maria dos Santos, sendo que ao Sábado e especilamente ao domingo havia vários "desdobramentos"!Levávamos farnel para comer na barrinha!
As férias eram passadas nos parques de campismo!
E tenho saudades desses tempos!
Ah!nunca comi uma bolacha amaricana ou "lingua da sogra" antes de me empregar...Ah! pois!
Mira era uma praia simpática e a Barrinha uma maravilha, mas há 60 anos ninguém ia para Mira. Não havia comboio para lá, automóvel nem pensar! Nessa altura, na Rua do Brasil, só havia 4 pessoas com carro: Prof. Bló, o Dr. Nascimento, o Sr. Baptista e o Sr. Manuel taxista!... Ir de camioneta com a arca às costas era impensável.
EliminarEu á 60 anos comecei a ir para a FF mas depois o meu Pai foi promovido e foi para Lisboa e só um ordenado teve-se que inventar alternativas!!! +-56 anos passei a ir de comboio até ao Bebedouro, onde dormiamos em casa dos meus tios. Depois era a aventura.., a carroça puxada por vacas era carregada por cobertores lençóis, couves, galos vvivos(não havia frigorífico), batatas, feijão e os colchões de folhas de milho e iamos andar durante horas até á praia da Tocha. Lá tinhamos um palheiro(não havia casas)alugado pela minha tia para passar 1 mês com os meus 3 primos e a minha irmã. Era aventura pura, iamos correndo ao lado do carro e apanhando as camarinhas. A Praia ficou de tal maneira enraízada em nós que meu pai construiu á 43 anos uma casa. O meu filho bracarense de 15 anos já disse que a casa é dele e que vai dar a parte aos irmãos!!! Os 2 irmãos são gente fina.., e não aparecem por aqui. Recordações da PRAIA DA TOCHA
EliminarFernando AZENHA
Quem comeu o Ó fruta Ó chocolate os bananís e os paladares.
ResponderEliminarEu comi disto tudo, fazia o tratamento completo das ondas com o banheiro,
línguas da sogra e bolacha amaricana.
Tudo o que havia na época marchava.
Tonito.
Tudo, menos canja de carneiro!!!...
EliminarTens razão,CANJA DE BORREGO.
EliminarTonito.
Abriste mesmo uma caixa de Pandora, Alfredo.
ResponderEliminarDesde bebé e até vir para Coimbra estudar, eu ia com os meus Pais todos os anos para a Praia de Mira, num velho Skoda em que nada mais cabia. Aliás, tinha eu uns 12 ou 13 anos e saíamos de casa quando o meu Pai disse:
- Que Nossa Senhora nos acompanhe!
E eu tive a péssima ideia de desabafar, sentado num pneu sobressalente que não cabia no porta-bagagens e apertado entre a minha Avó e o meu mano mais velho:
- Aonde? Não cabe!
Fui excomungado durante a viagem toda (embora me pareça ainda hoje que o meu Pai, o professor Rogério, por dentro se estava a rir).
Tiveste sorte! Se fosse comigo, tinhas que sair para entrar a Nossa Senhora!
EliminarE os três pastorinhos, iam no tejadilho?
EliminarIr para a praia da Figueira era, para mim e para os meus primos e irmão, onde sempre passavamos as férias. Minha tia tinha uma linda quinta e moradia nos Carritos e, para além disso, um prazer enorme em ver a família ali toda reunida.
ResponderEliminarAos fins de semana iam os pais, que se juntavam aos irmãos, eram 7, aos avós, cunhados, cunhadas...
Havia o caseiro, o jardineiro, o motorista, Sr. Augusto que nos levava ao banho e, um certo dia, numa onda mais forte, perdeu a placa dentária!
Além do Austin que pegava com uma manivela, havia um carro puxado pela Carriça, a mula que nos deixavam montar até à nora, que também ia levar a família à praia.
Recordo tudo o que falaram e ainda, as matinés no Casino, com jogos ou garraiadas e do chocolate que nos davam à entrada! Bem vestidinhas e bem calçadas...
Tive uma infância de " menina rica", durante as férias em casa da tia Joaquina, que sempre recordarei pela seu altruismo e amor à família.
Perdoem o desabafo. O Alfredo é o culpado!
Se por relembrares esses episódios felizes da tua infância e nos confidenciares tal eu sou culpado, com gosto assumo a culpa!
EliminarJuntos há 51 anos+5 de estágio...por pouco que não partilhei estes tempos da tia Joaquina na Quinta dos Carritos!!!
EliminarMas ainda conheci a Quinta que era uma maravilha!
Na Praia de Mira, há 40 anos, além do "há frutóóóóóóóóó chocolaaaaaaate", havia um senhor que apregoava (ainda tenho esse som gravado claramente na minha memória) "Olá gelados caramelos Vaquinha!"
ResponderEliminarLindo texto, Alfredo, cheio de recordações e que, espero, seja o 1º de muitos mais. Mas, deixa-me dizer-te, há 63 anos comecei eu a ir para Mira com a minha família e sempre me lembro de ver por lá as camionetas do José Maria dos Santos. Ficávamos num palheiro de madeira (que já não existe), em frente à escola e foi assim mesmo depois de os meus filhos nascidos. O mar era muito perigoso mas os banhos da barrinha, que estava limpinha, eram deliciosos. Foi bom recordar
ResponderEliminarLó, eras das raras pessoas de Coimbra que iam para Mira nessa altura!
ResponderEliminarÉ verdade, Alfredo, poucas pessoas de Coimbra lá passavam férias e foi por isso que o meu Pai começou a ir para lá
EliminarQuem havia de dizer que o Sr. Banheiro que deu o primeiro mergulho ao Alfredo na Figueira da Foz foi o mesmo que, uns três anos antes, me deu o primeiro mergulho na praia do Castelo do Queijo, no Porto! Sim, porque só podia ser o mesmo com os seus mais de quatro metros de altura!
ResponderEliminarRecordo-me que a coisa não correu muito bem porque o pobre do homem se queixou que lhe tinha arranhado as costas e o peito o que deu direito a gorjeta em dobro para ele e a uma palmada para mim...
Já o vendedor da bolacha amaricana não seria o mesmo porque o "meu" não tinha roleta nenhuma mas ainda hoje recordo o sabor delicioso da guloseima à qual tinha direito se me portasse bem.
Casa alugada? Nem pensar. Nas Antas apanhávamos o 3 para a Foz, era cerca de uma hora de carro eléctrico, acamados como sardinha em lata mas era uma alegria!
Enfim, o que o Alfredo me fez recordar com este seu texto bem humorado e bem escrito.
Desta vez, por excepcional excepção, não consigo dizer mal do Senhor De Moreirinhas.
Um abraço.
Até o Senhor de Viana que afinal é do Porto, confirma os mais de 4 metros de altura do Sr. Banheiro!... O desgraçado ficou com marcas para toda a vida! Nós também apanhávamos o 3, mas esse só ia até Cruz de Celas e o mar ficava para o outro lado e não havia eléctrico até lá!...
EliminarValeu o texto, só para o de Viana (que é do Porto), não dizer mal de mim!
Obrigado, amigo! Saúdinha e menos tabaquito!...
O Alfredo Moreirinhas numa reflexão da vida de outros tempos, traz-nos uma estória verídica plena de humor. Como podemos ver na bolacha americana, já havia marketing nesse tempo. Que me lembre, nunca passei férias na Figueira da Foz.
ResponderEliminarNão sabes o que perdeste, Chico! A Fig. da Foz tinha e ainda hoje tem mas menos, um cheiro a maresia, uma claridade, um picadeiro, uns gelados e umas miúdas que mais nenhuma praia do país tinha!...
EliminarTudo certo. Só falta o Catitinhas.
ResponderEliminarLembro-me do Catitinha sim, Rui! Não havia criança que não gostasse do senhor!
EliminarHavia crianças que tinham medo dele. Medo infundado claro!
EliminarLembro-me que neste tempo existia um banheiro chamado Gázio, alguém se lembre deste homem. Acompanhava as crianças ao banho e arrendava toldos aos banhistas na Figueira da Foz
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