Nos últimos dias temos sido invadidos pelas notícias sobre a "guerra civil" no Rio de Janeiro.O cenário principal:"O complexo do Alemão".
Parece-me útil ter uma noção mais precisa do que se trata e da sua história e dimensão.
Para isso,sirvo-me de um texto de Gerson Deslandes que,apesar de extenso,pode ajudar-nos a compreender.
Antes da colonização portuguesa,as áreas próximas à região eram habitadas pelos índios Tamoios,que viviam às margens do rio Timbó - um nome dado em função do cipó "timbó",utilizado para envenenar a água e facilitar a pesca.
Muito após o extermínio dos Tamoios,os jesuítas se estabeleceram na região - já no séc. XVIII -,dando origem à Fazenda de Inhaúma e seus engenhos.Expulsos os jesuítas,em 1760,as suas terras foram desmembradas em várias fazendas que deram origem aos atuais bairros de Ramos,Bonsucesso,entre outros.
A ocupação da Serra da Misericórdia ocorreu no início do séc. XIX,com Francisco Ferreira Rego.Por ocasião da sua morte,os herdeiros venderam as terras para Joaquim Leandro da Motta.Esse,por sua vez,dividiu sua propriedade em grandes lotes,vendendo um deles para Leonard Kasmarkiewiez,polonês refugiado da Primeira Guerra Mundial,que ficou conhecido pelo apelido de Alemão,nome depois dado ao morro que lhe pertencia.Em 1928,Leonard Alemão promoveu o primeiro loteamento das suas terras,na área das atuais comunidades Joaquim Queiroz e Grota,que tinham ocupação dispersa até meados da década de 1950.
A partir da década de 1940,iniciou-se a ocupação das áreas das atuais comunidades de Nova Brasília e Itararé.
Na década de 1950,a ocupação das áreas das atuais comunidades dos Morros do Alemão,da Esperança,dos Mineiros e do Relicário.Em 1961,foi ocupado o Morro da Baiana e,a partir dos anos de 1970,surgiram a Fazendinha,o Reservatório de Ramos e o Parque Alvorada-Cruzeiro(1982).No final da década de 1980,o conjunto das favelas que ocupam o leste da Serra da Misericórdia e suas adjacências viria a formar a XXIX Região Administrativa Complexo do Alemão.
O bairro do Complexo do Alemão compreende toda a Região Administrativa,ocupando 437.880 m2.O ponto culminante dos morros está a 138 m de altura,em área com cobertura florestal.
Apesar da rede de abastecimento de água chegar à maioria das casas,ainda há moradores que se abastecem de poços artesianos e de algumas nascentes de água locais.Embora o Censo de 2000 registre que 84% dos domicílios da favela do bairro possuem rede de esgotamento sanitário,podem ser constatadas áreas específicas onde há valas a céu aberto e despejo de esgoto in natura nos corpos hídricos.
Há ainda que considerar que com o fim da escravatura, os ex-escravos se viram sem nada e sem um lugar onde viver. Ninguém lhes dava emprego, e os senhores das grandes herdades preferiam pagar aos italianos do que aos seus ex-trabalhadores que sempre exploraram e mantinham a trabalhar a custo zero!
ResponderEliminarMuitos desses negros (sim, porque escravos eram só os negros) juntavam-se em favelas e tinham que viver de alguma forma! Esta uma das grandes razões do aparecimento da delinquência, vinda das favelas.
Nunca fui ao Brasi. Mas gostava. Sobretudo, o Rio de Janeiro. Mas percebe-se que começa a ser realisticamente perigoso. O texto do Rui Lucas, é interessante e informativo. Gostei de ler.
ResponderEliminarUm artigo que nos dá uma cronologia de acontecimentos muito agradável de seguir.
ResponderEliminarInfelizmente, trata-se de uma situação que não vai ficar resolvida nas próximas décadas. Lula da Silva estava convencido que acabaria com a pobreza e aí fez avanços. Só que a miséria na actual conjuntura brasileira, não é possível acabar de imediato. A falta de assistência social que houve ao longo dos tempos e ainda há nos morros e favelas verticais dentro das principais cidades, com todas as dificuldade de aí entrarem e poderem trabalhar para bem dessa gente, levou a que as pessoas se entregassem assim como aos seus, desde pequenos, aos bandidos. Hoje é toda uma sociedade que com medo do que fez e faz, não se aproxima nem aceita o sistema vigente e assim se vai multiplicando nas novas gerações. Por outro lado quando ainda há um ou dois anos, dois principais chefes de gangs criminalizadas foram postos em isolamento para não poderem continuar a controlar as suas gangs de dentro da prisão, os Direitos Humanos caíram-lhes em cima. Enfim, há que evoluir para chegar-se a certos fins, como se diz por estes lados. Raríssimamente falam contra um tribunal.
Sem dúvida que os últimos escravos foram os pretos. A uma certa altura os Jesuítas interviram junto do rei de Portugal para que abolisse a escravatura a que estavam sujeitos os índios, pois não era dos seus hábitos tal prática. Por contra não solicitaram o mesmo para os africanos porque esses nas suas terras praticavam a escravidão entre eles, pelo que já estavam habituados. Se bem que inadmissível nos nossos dias, em relação há época que se vivia, foi considerado uma ato muito arrojado a atitude dos Jesuítas para com o rei. Enfim, épocas e locais...
ResponderEliminarHoje a miscigenação que democráticamente tanto defendem socialmente, é real mas politicamente não se vêm deputados nem ministros de côr preta, assim como no nosso país. Por estes lados têm havido deputados, ministros, e até governadores gerais de todas as côres. Dá que pensar.
Gostei dos pedaços de História do Brasil, contada pelos amigos Rui Lucas, Alfredo e Chico.
ResponderEliminarVivências rcalcadas que deixaram sulcos tão profundos...
Muito oportuna esta postagem, dado os acontecimentos que diáriamente se vêm na televisão, envolvendo a criminalidade dos traficantes de droga e que dominam pelo medo todos os habitantes desta zona do Brasi, nas chamadas Favelas,de que o Complexo do Alemão é a mais em foco!
ResponderEliminarMesmo assim,caros amigos,não deixem de visitar o Rio de Janeiro.
ResponderEliminarAnda-se lá,como aqui.
Vou lá sempre que posso.
Na última vez,já com grandes problemas no Alemão,a Rosa Maria e eu passámos uma tarde agradável na Rossinha.
Um abraço.