Dedicado ao meu amigo Carlos Viana
Fumo o cigarro, a paixão arde, inflama;
É ao calor da chama que me agarro;
Ao primeiro pigarro surge o drama:
Canso-me, sinto a tosse, a dor e o catarro...
Do escarro já não sobra nem um grama,
Na cabeça e na boca, o cheiro e o sarro,
Gosto bizarro, vício de quem ama,
Insiste, pede o sabor de outro cigarro.
Doentia paixão, voraz, flecha certeira,
Inopinada, absorve-me sem indício
Do que causou à mente o malefício.
O passar da fumaça derradeira
Alucina o meu ser de tal maneira
Que, em vez de me curar, aumenta o vício.
Fumo o cigarro, a paixão arde, inflama;
É ao calor da chama que me agarro;
Ao primeiro pigarro surge o drama:
Canso-me, sinto a tosse, a dor e o catarro...
Do escarro já não sobra nem um grama,
Na cabeça e na boca, o cheiro e o sarro,
Gosto bizarro, vício de quem ama,
Insiste, pede o sabor de outro cigarro.
Doentia paixão, voraz, flecha certeira,
Inopinada, absorve-me sem indício
Do que causou à mente o malefício.
O passar da fumaça derradeira
Alucina o meu ser de tal maneira
Que, em vez de me curar, aumenta o vício.
Bom soneto de quem se agarra ao calor da chama e caminha de cigarro em cigarro até à próxima fumaça...
ResponderEliminarAbílio
O soneto até é lindo.
ResponderEliminarMas mantenho-me solidário com o Viana.
Deixa-os falar,camarada.
Eles têm inveja de que mantem um pequenino,mas nobre,vício.
Dedicando-me este teu poema,
ResponderEliminarEscrito em português e não em latim,
Confessas que temos um problema
Porque também me envolves a mim.
Aos anti-tabagistas militantes
Confessaste os teus temores,
Os catarros, respirações ofegantes,
Toda uma miríade de horrores...
Colocas a cabeça na guilhotina,
Oferecendo-a às aves de rapina.
Não me envolvas nesse sofrimento!
A vida ainda é bela, é coisa fina
E até te juro que tenho por sina
Esfumaçar até ao último momento...
Bilito, cala-te, cala-te...
ResponderEliminarOlha lá, Rui Lucas, ainda não percebeste que o Felício está numa de arrependido?
Mas isto passa-lhe, vais ver.
Para todos o meu abraço.
Sabes,Viana.
ResponderEliminarUma vez uma gaivota disse-me que o surf tem efeitos secundários...
"Doentia paixão", grande o prazer!
ResponderEliminarO prazer de escrever lindos sonetos.
Dois sonetos a brilharem no fogo do cigarro!
Ainda bem que fumam, pois pelo que leio a nicotina dá-vos veia para serem poetas!
ResponderEliminarOlha lá, Dom Rafael, a nicotina não tem nada a ver com a veia...
ResponderEliminarMas já viste a lata do poeta-mor?
Aposto que está sentado, perna traçada, frente à lareira crepitante, televisão e computador desligados, saboreando um bom naco de presunto e roendo queijo da serra.
Aos seus pés, os seus cães aguardam a esmola de uma casquita de queijo.
E nós, também famintos, pobres de nós, aguardamos a esmola da sua atenção.
Pois sim, lá para 2ª.Feira, que fim de semana é mesmo fim de semana, até na Ericeira...
Fumus, ergo ignis...
ResponderEliminarOu seja, "onde há fumo há fogo".
ResponderEliminarE sem fogo, a vida é uma sensaboria...
Fumus, ergo ignis?!? Há quem diga que o fumo não ergue a...igni_SÃO (Rosas?)!...Dizem...
ResponderEliminar:))
O Carlos Carvalho fala do que pensa que sabe.
ResponderEliminarAliás, a expressão que usa de "há quem diga", significa que se fundamenta em boatos.
Porque, na verdade, o fumo não dificulta o ergo ignis. Pelo contrário, o fumo é uma técnica de camuflagem que distrai e esconde as debilidades centrando a atenção em coisas não menos importantes que o "ergo"
Esqueci-me de dizer que o fumo, em linguagem militar, é uma manobra de diversão.
ResponderEliminarEm linguagem militar e não só...
O Carlos Viana é que sabe...
ResponderEliminarFim de semana é mesmo fim de semana.
E agora,vem com essa do fumo como manobra de diversão...
Eh!Eh!Eh!
O Carlos Viana sabe porque eu já aqui o tinha dito.
ResponderEliminarAo fim de semana, não quero ver debates, nem internet. Leio um livro ou vou a alguma almoçarada. Ou ambas as coisas...
Diz aminhapele:- O gajo sabe o que diz.
ResponderEliminarDiz Rui Felício: - O gajo sabe aquilo que eu digo.
Digo eu: "Scio me nihil scire".
Notas importantes:
1- se alguém me vier dizer que foi Sócrates e não eu que disse isto, enfio-lhe um processo por difamação.
2- se alguém confundir o maluco do filósofo com sua Exª.o nosso Primeiro Ministro, sujeita-se a um corte de 50% do vencimento.
OBS: como dá para perceber, retomei as minhas lições de latim.
Em tempo:
ResponderEliminarEsqueci-me que nem toda a gente sabe latim.
"Scio me nihil scire" = " Só sei que nada sei"
Já uma vez me ofereci para vos apresentar o meu explicador. Mantenho a oferta. Leva barato, com uma "cunhita" minha.
Bem,Viana,eu creio que o poeta-mor se indignou com a forma como o descreveste.
ResponderEliminarTu achas que um poeta-mor é isso?!
Gente fina,é outra coisa.
Não se esparralham,frente ao borralho.Usam aqueles fogões,parecidos com lareiras,alimentados com um caríssimo gás canadiano.Esses fogões são tapados,para que não lhes borrem a salinha e não ouçam o tremendo barulho do crepitar.
Também não têm naco de presunto,isso é coisa de labregos.Limitam-se a umas finíssimas fatias de um pata negro,o tal laminado...
Não roem queijo da Serra,outra coisa de labregos.Têm um bouquet de queijos,finíssimo tal como as lâminas do presunto,previamente limpo de partes mais duras(que,eventualmente,poderiam causar danos irreparáveis nas dentaduras de suas excelências).
Quanto a cães:deverá ser um pequeno caniche que,aos 4 meses,foi operado para que não pudesse latir;além disso,quando vai à sala visitar o senhor,vai convenientemente algaliado!
O senhor limita-se a degustar e,se não tiver alguém por perto,prova um copinho de Barca Velha(aqueles balões de litro...) e,mais recatado ainda,dá umas passas num Montechristo!
Enfim,prazeres de gente fina...
Música:metem,para a desbunda,umas czardas de Chopin!!!
Aguenta,Rui!
Isto é que vai práqui uma açorda!
ResponderEliminarmetem tudo ao barulho!
charutos, caniches a latir,queijo da serra, latim(que já não se usa)algálias,labregos,fogões tapados e destapados(já tive destapados que me queimavam os tapetes, agora chamam-lhe recuperador de calor-é mais chique!), lâminas de presunto, dentaduras, excelências,, degustação, Sócrates do antigamente e este d´agora(livra!), versalhada, czarda, Chopan(in)- eu sei que sabem dizer como deve ser...mas sei lá!
Vocês não sabem no que se estão a meter.
ResponderEliminarEste silêncio anuncia borrasca.
O poeta-mor, a esta hora, dorme o sono dos justos.
Amanhã, pelo romper da aurora, enquanto mordisca uma tosta e bebe uma bica, vai olhando os devaneios dos seus amigos noctívagos.
Mete-se no carro, liga o rádio e ouve as notícias que na véspera se recusara a ouvir na TV.
Fica ainda mais mal disposto e vai congeminando a forma de nos dar na tarraqueta.
Preparem-se. Por mim, já estou calejado. Em português ou em latim o Felício dá cabo de mim!
Até amanhã. Fim !
"Scio tamquam ungues digitosque"
ResponderEliminar(conheço-os como a palma das minhas mãos)
Mas a inversa não é verdadeira...
1. - Na verdade, as 3 cadelinhas que tenho em casa são plebeias. Uma delas é de origens fidalgas mas há muito se converteu ao republicanismo.
2. - A lareira é tradicional e as brasas às vezes chamuscam-me as pantufas.E adoro o barulho da lenha a estalar.
3. - Não gosto de charutos.
4. - O queijo e o presunto são de boa qualidade mas comprados quando estão em promoção no Minipreço.
5. - Música clássica ouço e gosto.
6. - Barca Velha não aprecio. Prefiro vinho corrente alentejano ou de Palmela.
Mas valeu pela boa escrita do Rui Lucas e pelo habitual bom humor do Carlos Viana que, entre duas baforadas na varanda, corre ao computador para debitar, pela calada da noite, umas farpas envenenadas...
Não andei "embebedado" com o fumo do tabaco, mas com a brancura da neve. Hoje, sem ainda ter regressado à Beira Baixa, dei uma vista de olhos pelo blogue. Belo soneto, Felício ! Gostei ! Escreves prosa e verso. Lá pelas aldeias da Beira, é hábito dizer-se em tom de elogio ...catano. Pois é o que eu digo de ti,caro Felício ..és um gajo do catano.
ResponderEliminarDepois, andam por aí mais amigos, que também gostam de versejar. Falam latim, com a mesma desenvoltura com que eu bebo um copo de àgua. Decididamente, desenvolve-se em mim, um certo complexo de inferioridade. Começo a pensar em arrumar as botas na prateleira ..
Abraço
Uma bordoada civilizada,como esperava.
ResponderEliminarSó peço que nunca tentes ouvir as czardas de Chopin!
Um abraço.
As czardas se as ouvisse seriam as de Monti.
ResponderEliminarSim porque jamais faria como o Santana Lopes que uma vez se saiu com uma bacorada na Tv a dizer que gostava muito ouvir os violinos de Chopin...
Rui vou desiludir-te mas o Santana não cometia esse deslize...até foi demitido de Primeiro Ministro de uma maioria!(aberração de uma democracia)!...mas passemos á frente!
ResponderEliminarO que ele disse e eu ouvi(!) foi "o que eu gostava era de ouvir e ver de novo os VIOLINOS DO SPORTING, qual Chopin!
Jesus Correia, Vasques Peyroteu, Travassos e Albano!
Toma!
Carlos...ajuda-me!
ResponderEliminarNunca vi "tocar" o Peyroteo.
ResponderEliminarSó o conheci dos bonecos dos rebuçados...