segunda-feira, 4 de abril de 2011

AGONIA EM FRENTE AO GRECO


O Sr. Dias usava dentadura postiça...
O seu fiel Tabú acompanhava-o sempre, parecendo orgulhoso do sorriso luminoso do dono e este da amizade e fidelidade do cão rafeiro que, com ele, partilhava um casebre ali para os lados da Quinta das Flores. Certa noite, o Tabú fitava apreensivo o seu dono, ao vê-lo, agoniado, em frente ao portão do GRECO, meter os dedos à garganta e provocar um abundante vómito, depois de ter estado numa patuscada no Capim, onde comeu de tudo e em quantidade, bebendo talvez para além da marca.
O cão lambia e saboreava o vomitado, e de súbito abocanhou, sôfrego e apressado, a dentadura do dono que, no meio dos espasmos, se lhe soltara, caindo no chão.
O Sr. Dias ainda tentou arrebatá-la da boca do Tabú, mas este, obedecendo ao seu instinto, rosnou-lhe e engoliu-a.
Com dificuldade em articular as palavras, o Sr. Dias berrou-lhe, ameaçou-o, ordenou-lhe que lhe devolvesse os seus dentes. Mas o Tabú, de rabo entre as pernas, parecia querer dizer-lhe que já nada havia a fazer. Já os tinha no estômago...
O dono levou-o para casa e fez-lhe um clister. Era a única forma, expedita, de apressar a saída da dentadura, através do ânus do cão. Era preciso que ele defecasse! E quanto mais depressa melhor!
Pacientemente, sentado, com a cabeça entre as mãos, O Sr. Dias esperou, esperou...
Até que, finalmente, o cão expeliu toda a carga que lhe enchia e magoava os intestinos.

No dia seguinte, o Tabú parecia mais orgulhoso do que nunca, ao olhar o Sr. Dias passear-se pelo Bairro, cumprimentando quem passava e exibindo ostensivamente o seu belo sorriso...
Aquele cão sentia que, agora, também já era um pouco dono de uma parte do seu dono...

Rui Felício

15 comentários:

  1. Interessante e curiosa esta historia. E, é mesmo capaz de ser totalmente verídica. O Rui tem um repositório de memórias inesgotável!

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  2. Coitado do cão. Comparado com isso, a sina das galinhas até se torna menos triste.

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  3. Nesta história do Felício, não sei se há algo de ficção. A única coisa que sei, é que me fartei de rir. O clister ao cão deixou-me perplexo.
    Nunca mais acabam esta memórias do bairro do Rui ...

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  4. Bem aventurados os que crêem porque deles será o reino dos céus.
    Por oposição, se pode inferir que aos outros, aos incrédulos, as portas do céu estarão encerradas...

    Vem isto a propósito de alguma dúvida que possa surgir em relação a este episódio, que concedo, é suficientemente estranho para gerar incredulidade.

    Mas olhem que, mais sal, menos pimenta, a coisa passou-se mesmo...

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  5. De facto só quem tem geito para expôr, faz dessa dentadura uma estória em que o o Tabu acaba por ser herói. Desta vez não terminei com um largo sorriso mas sim a rir-me.

    Já agora, para que ninguém pense que estou congelado, aproveito para informar que vou novamente desaparecer por uns dias.
    Um abraço a todos.

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  6. E para mais recordar alguem quer adivinhar quem foi o autor deste emblama do GRECO!!!!!

    Alvissares para quem acertar !

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  7. Já no outro dia a São Rosas dava alvissaras, eu ganhei-as, mas depois não me couberam nenhumas...

    Por isso, não vou atrás das tuas alvissaras, Gil!

    Quanto à autoria do emblema. SE me perguntassem isso há um ano atrás eu dria que tinha sido o Abílio ( sempre estive convencido disso, não sei explicar porquê).

    Mas agora, qua passados todos estes anos descobri os teus méritos de desenhador e caricaturista que desconhecia por completo, claro que respondo que a autoria do emblema foi tua.

    Aliás, fizeste parte do grupo inicial de fundação do GRECO, como eu também fiz. Disso lembro-me bem...

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  8. Se falassem em «alvissaias» ias logo a correr!

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  9. Fartei-me de rir com o relato deste acontecimento e...já nem ouso duvidar!
    O Rui estava em todas e bem as registou, para memória futura!

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  10. TERESA LOUSADA M. DIASabril 04, 2011 8:41 da tarde

    Não querendo competir com a arte e a graça da escrita do Rui, ao lêr o desaire do Sr. Dias, não resisti em contar um episódio verdadeiro, que por coincidência se passou com a minha Mãe, cujo ultimo nome também ia a Dias.
    Um dia ao chegar a casa do meu trabalho e estando a minha Mãe já muito perto dos 90 anos, acamada, tendo ao lado a minha Tia que tinha vindo de Lisboa visitá-la, achei-a, contra o que era habitual nela muito nervosa e agitada!!!
    A 1ªcoisa que Ela me disse foi; filha ainda bem que chegáste, não sei onde estão os meus dentes de cima, coloquei-os debaixo da almofada e não os encontro! Tentei acalmá-la, começando logo a busca pelos ditos, sem realmente os encontrar, Ela então coitadinha, só dizia, têm que estar aqui, não me levantei, não saí da cama!
    Depois de andar de gatas por debaixo de tudo que era móvel....fez-se-me luz e perguntei, Mamã aonde está a Yara?
    A Yara para quem não sabe era a minha cadela que perdi muito recentemente, muito engraçada, muito viva, mas enquanto cachorra muito ladra....mas também muito feminina pois tudo o que apanhasse meu, brincos, batons,cremes, lápis etc, etc, roubava e ia roer para o seu esconderijo, que era um baú vitrine que tenho no corredor de onde ninguém a conseguia tirar quando fazia asneiras!!!
    Depois de muito pensar como havia de a tirar de lá, lembrei-me da frase milagrosa que era; Yara, vamos à rua???
    Meu dito, meu feito...ela cuja cor era preta, bem preta, aparece-nos à porta do quarto, estática, mas com o sorriso mais branco e mais lindo do mundo...e o mas o mais espantoso é que a dentadura estava de tal forma encaixada, que dir-se-ia que vinha a chegar do dentista! INESQUECÍVEL...digno de filme, só que como sempre, quando é necessária, a camâra não estava lá!!!!
    Foi uma risada geral e eu como péssima educadora que sempre fui, nem sequer tive coragem de lhe ralhar!

    A minha Mãe e ela, foram os meus últimos dois amores que já não tenho comigo.
    Teresa Lousada

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  11. Teresa, esse episódio também merecia passar para o blog.

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  12. Parece que estou a ver a cadelita da Teresa, com um alvo e muito humano sorriso. Chego a imaginá-la de lábios pintados, com o pêlo repuxado num sedutor rabo de cavalo, com brincos e colar de perolas, a caminhar, elegante sobre uns sapatos de salto alto...

    Como vêem estas coisas acontecem!
    E à volta delas toda a imaginação é legitima-

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  13. Há sempre uma altura em que a realidade se confunde com a ficção… mas esta só não é uma história das arábias porque se passou no Bairro com um Tabu curioso que bem sofreu para se ver livre de tal adereço…
    O emblema do GRECO não foi criado pelo Gil foi rabiscado no café do Silva pelo…

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  14. Mais uma estória do Rui Felício com o sal e a pimenta qb. para nos fazer dar uma boa gargalhada.
    Claro que, ao colocar o despejo dos excessos do Sr. Dias à porta do Greco, está a tentar puxar pela memória do Durão que no dia seguinte andou, de esfregona na mão, a limpar a entrada da "casa".
    Claro que o Bilito se balda, nada confirmando e recusando o esclarecimento dos factos.
    É a vida.
    Feissebuque a mais...

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  15. Claro quo cão viu-se GRE(C)GO para expelir, defecar, arriar não o calhau...mas a dentadura do Sr Dias!
    Por falar em dentaduras; há muitos anos em Cantanhede um moço meu amigo, com algum atrazo mental, mas um adepto ferrenho dos Maraialvas, num jogo talvez com o União de Coimbra que só se resolveu mesmo no final com um golo do Marialvas, e provocou neste meu amigo tanta satisfação, que tanto gritou e saltou que a "cremalheira" que o dentista há pouco tempo lhe tinha fabricado para só para lhe compor o aspecto(não se ajeitava a comer com ela), lhe saltou da boca...mas só deu pela sua falta quando chegou ao café!
    SÔ FAEL perdi a dentadura e foi no futebol!!!!
    Lá fomos para o campo mais uns amigos.
    Procurámos, procurámos...mas encontrámos a dita "cremalheira", meia torta pois tinha sido pisada!
    Mas fez questão de a limpar, colocar e com um sorrindo rasgado...agradeceu!

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