Batista Bastos
Não vos quero maçar. Hoje, pelo meu punho, redigo as palavras dos outros. Dos que fizeram e fazem da vida um combate permanente. Daqueles que não chafurdam na hipocrisia viscosa das conveniências. Dos que consagraram uma existência na batalha das grandes causas sociais, arrastando consigo raivas e simpatias, vivendo na fronteira esbatida entre ódio e a paixão. Não vergaram, nem partiram. Resistem. Apontam o dedo, excedendo quiçá, muitas vezes, os limites da razoabilidade. São iguais a si próprios, desfraldando a mesma bandeira ao longo de muitas décadas de vida. E é assim, no momento em que o Jornal do Fundão comemora 65 anos de vida, que vamos assistindo à prosa daqueles que continuam a dar corpo a um projecto. Ali, numa pequena cidade aninhada aos pés da Serra da Estrela, vive um jornal de referência. Um jornal que fala daquilo que deve ser a nossa consciência colectiva. Não apela ao gosto duvidoso de alguns pasquins de grande tiragem, mais interessados na notícia fácil e escabrosa dos requintados pormenores de um crime passional ou de um duelo de enxadas por causa de um regato de água. Esporadicamente, o JF também fala disso, quando a notícia toma proporções que merecem vir à estampa. Mas, o essencial, somos nós, os portugueses, e as preocupações sociais da nossa vida colectiva. E aquele grupo de jornalistas, sendo desta Beira Interior ou importados da Capital das grandes decisões, lá estão, de dedo em riste, a incomodar os poderes instituídos, remando contra a corrente de uma falsa moral instalada, do politicamente correcto, e da execrável caridadezinha. Já disse da minha lavra, neste meu limitado monólogo. Desculpem a prosa enfadonha. Agora, leiam um pequeno extracto de um extenso artigo de quem, modestamente, diz que não sabe arrumar as palavras, Batista Bastos: “ … Gastei-me neste ofício de perfilar as palavras. Profissional de um tribunal de papel, tenho procurado somar a minha débil voz, à grande insurreição dos choros e soluços, dos protestos, recriminações e blasfémias. Rateio as palavras, arrumo-as o melhor que sei e posso, desejo sempre dar-lhes direcção e sentido, tenho os olhos estragados, arranjei uma série de tiques e um número pungente de inimigos ardorosos, quando o mundo era jovem acalentei uma ideia exaltante sobre a condição humana – e ainda há criaturas imponderadas que invejam a sobrevivência triste deste triste senhor português (…). Rei sem coroa de um reinado de letras, imperador de um império de frases, aqui, solitário mas solidário sou eu (…). Ando neste batente da escrita há um ror de anos; e se de vocês mereço algum crédito, creiam-me que observei muitos passantes incómodos, convizinhei com evoluções e mudanças, vivelheci saboreando o sal grosso da ironia, mas sempre procurei expungir das minhas prosas a linguagem predatória. Além da limpeza da escrita, tive a obsessão de outras limpezas; sobretudo a de a limpeza do mundo. Não tolero muitas coisas; sobretudo não tolero a biface, o duplo, o ambíguo, sem que isto queira dizer que tenha uma perseverante tendência para a desconfiança. Gente estranha esta a dos Jornais. Gente que viveu fora de si mesma e consumiu noites brancas na gesta pequenina de redigir notícias (…). Gente que sabe que esta coisa de escrever nos jornais custa muito mais do que alguma coisa. Às vezes até se morre (…). Eh! Vocês aí que estão a ler-me. Isto é mau, isto é péssimo, isto é absurdo, isto é inqualificável. Não é um modo de vida: é um modo de morte. Uma chatice, uma perversão, um ardil, uma fuga. Eh! Vocês aí: juntem-se à malta !
Assim escreve Batista Bastos. Escritor e jornalistas. Diz o ditado popular “..antes quebrar que torcer ...”. Não cabe no coração desabrido deste velho resistente da escrita e da palavra. Porque ele não quebra. Nem torce.
Q.P.
Assim escreve Batista Bastos. Escritor e jornalistas. Diz o ditado popular “..antes quebrar que torcer ...”. Não cabe no coração desabrido deste velho resistente da escrita e da palavra. Porque ele não quebra. Nem torce.
Q.P.
O Fundão é uma lição.
ResponderEliminar...se fosse de sonho e tradição seria Coimbra!
ResponderEliminarAssim é lá das fraldas da Serra!
Falda, Rafaelito, falda. Embora se possa dizer fralda, a malta de lá está na encosta, não está encostada à bexiga da Serra.
ResponderEliminarÓ Sãozinha, tanto se pode dizer falda como fralda!... A menina, desde que anda de amores com o Rui Felício, embirra muito com os outros homens!
ResponderEliminarO Jornal do Fundão era uma referência dos nossos 20 anos!
Ciúmes. Ciúmes é o que é, querida São Rosas. Que esse Ministro das Viagens é um verdadeiro sedutor mas contigo tem levado sopa, porque tu és uma mulher séria e fiel.
ResponderEliminarO Jornal do Fundão foi e é uma referência de independência e fidelidade aos seus principios.
ResponderEliminarBaptista Bastos é, quanto a mim, mais escritor que jornalista embora tenha sido no jornalismo que mais se notabilizou.
E é igualmente um homem de principios que, para os defender, não olha a conveniências ou interesses mesquinhos.
O Quito, faz dele uma apresentação que, em si mesma, é uma peça literária que mada fica a dever a forma escorreita da escrita de Baptista Bastos.
Alfredo, não te amofines que ficas com rugas no teclado: se reparares eu escrevi "(...) Embora se possa dizer fralda (...)".
ResponderEliminarVocês não querem lá ver...que ainda "mijam na fralda?"
ResponderEliminarFralda-resguardo antigamente de pano agora de plástico "Chico" esperto...
Falda- pé de oliveira, carvalho ou outra árvore na próximidade da serra da Estrela onde se mija a céu aberto...
E que bem que sabe, mijar no campo!
ResponderEliminarO Jornal do Fundão pela mão do seu fundador, António Paulouro, que lhe definiu a matriz, foi, e contínua a ser, uma referência e uma voz lúcida do interior. Acompanhou o tempo, e hoje já tem uma edição on line.
ResponderEliminarO Quito, homem atento e informado, mais uma vez de forma brilhante chama a atenção para esta referência que é o JF.
E tudo isto, e bem, para fazer a introdução a uma reflexão, de Baptista Bastos, que é um dos nossos escritores de referência e, uma voz, que usa as palavras para pegar de frente as injustiças, sem receio de incomodidades, ainda que com sacrifícios que como diz “custa muito mais do que alguma coisa”.
Baptista Bastos estrebucha sabe que ao denunciar incomoda-se incomodando mas, quando se deita, pode bem repousar a consciência na almofada do dever cumprido.
Um abraço
Abílio
Sempre gostei de ler BB como jornalista,cronista e escritor.
ResponderEliminarQuito, trazê-lo via Jornal do Fundão foi de uma
oportunidade enorme...o velho Jornal que tanto
me diz desde a minha juventude!
Batista Bastos de quem o Quito nos fala, é uma pessoa fiel aos seus princípios, à sua consciência, integro, que gosta e tem orgulho de ser quem é. Há alguns mas não muitos. Esta posição fez-me lembrar uns versos do Ary dos Santos que o ouvi recitá-los, aonde não se importava que lhe chamassem tudo "mas poeta castrado não":
ResponderEliminar...
Serei tudo o que disserem
Por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxineta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Nota: Como sei que o Quito até gosta do frio, ontem fui à baixa e estavam menos três. Como a nossa percepção agora que a temperatura subiu era de calor, vi muitas pessoas com o casaco aberto e três em camisa. É engraçado como o nosso corpo reage. O que não é engraçado é que na segunda feira vamos ter menos vinte e um, fora a eólica.
Os espectáculos a céu aberto no Velho Porto esta noite e amanhã que já faz frio, assim como o Carnaval da neve na cidade do Quebec, acontecimento internacional, vão estar apinhados. Nada pára e a alegria continua.
Um abraço
"Junto-me à malta"somente para dizer que ler BB é sempre para refletir e apreciar.
ResponderEliminarQuito,
ResponderEliminarConheces-me a frontalidade.
Não gosto de Baptista Bastos. Reconheço-lhe qualidades na escrita e nada mais, o que é pouco.
De ti, querido amigo, gosto do ser humano que és e também gosto de ler o que escreves.
O que quer dizer que, do texto publicado, aproveitei e saboreei aquilo que tu escreveste.
Aquele abraço.
Meu caro amigo Viana
ResponderEliminarEu conheço essa tua antipatia por BB. Lá terás, certamente, as tuas fundadas razões, que eu respeito em absoluto. Já me tinhas falado nisso. Sinceramente, nem julguei que comentasses.Mas subjacente à prosa do escritor e jormalista está outro facto: o aniversário do Jornal do Fundão. Um jornal de qualidade.Os que o vão fazendo semanalmente, têm tido a preocupação de saber manter uma coerência que ao longo de décadas tem sido o fio condutor do semanário.
Um abraço