quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

COM EUSÉBIO NO POLANA ...

" ... a minha homenagem ao grande futebolista que foi. E ao grande cidadão que é..."
É pela prosa da Mariazinha Leão e do BobbyZé, que chego aqui. Falou-se das homenagens de que o Eusébio foi alvo em Portugal e em França e eu, desfolhando mais um livro de memórias, recordo dois mil e cinco. Que estranha sensação, aquela, de, pela primeira vez, aterrar em terras de Moçambique. O gigantesco A 340 da TAP, parecia metido num colete - de – forças, na acanhada pista. Pela janela do avião, apenas se vislumbrava um matagal de capim à altura das asas do grande pássaro. Depois o calor sufocante, quando, a pé, os passageiros se dirigiram à gare para recolher as malas. Não há pressas . Apenas o ritual e a liturgia próprias do continente africano. Mais tarde, a partida para o Hotel Polana. As malas, retiradas do bojo da aeronave, seguem-me agora numa carrinha de caixa aberta. E foi assim, sem pompa nem circunstância, que entrei na bela unidade hoteleira. O hotel parecia novo, à primeira vista, com a sua traça colonial. Porém, foi inaugurado no ano de 1922. De destacar os seus jardins, bares confortáveis e uma magnifica piscina virada ao Índico. E foi aí, numa tarde esplendorosa, que conheci Eusébio da Silva Ferreira. Naquele dia, troquei os paradisíacos jardins do Palácio dos Congressos de Maputo, pelas delícias do sol e da repousante piscina, uma varanda debruçada sobre o mar. Não se via ninguém. Apenas os empregados do hotel que, de bandeja na mão, se apressavam a servir os poucos clientes sentados num patamar superior. Por minutos, por muitos minutos, o “Pantera Negra”, tal como eu, gozámos do sol e da água, até que a conversa, naturalmente, se estabeleceu. Deitados nas “espreguiçadeiras”, debaixo de um céu azul, falámos de futebol. Era incontornável. Duas cervejas “estupidamente geladas” - no seu dizer - ajudaram a alimentar a conversa. Falámos do Benfica e da Académica. E falou-se de Vitor Campos – o melhor jogador da Briosa que conheceu. Mas falou, também, em jeito de lamento, daquele joelho pavorosamente disforme, que tive a oportunidade de observar. O seu amargo cilício. Já a tarde ia alta, quando nos despedimos. Encontrámo-nos, depois, no “hall” do Hotel, onde tive a oportunidade de observar, a forma como este Homem é estimado. Uma tripulação da TAP ali chegada, pilotos e pessoal de cabine, abeiraram-se dele e saudaram-no calorosamente. Percebi que já se conheciam, pois trataram-no familiarmente por “tu”. Depois, deixei de o ver pelo Hotel, pelo que presumo que tenha regressado a Portugal. Fiquei, do Eusébio, com a imagem que já tinha: um homem simples, cordato, educado e humilde. Nunca, a sua fama de atleta de excepção lhe subiu à cabeça, exibindo a petulância de alguns. E, uma semana depois, quando o A 340 da TAP, levantou de novo voo deixando terras de África, olhei pela última vez o casario de Maputo. Trazia na memória e no coração, a lembrança e a emoção da despedida de um povo afável. E o Eusébio.
Porque, é também no desporto, que encontramos referências de cultura e de honorabilidade. Não só da respeitável sapiência de alguns, ou de muitos, está povoado o Olimpo. Também no povo, na Sua sabedoria e engenho, nas Suas mais diversas vertentes, encontramos brilhantes percursos de vida. E Eusébio, felizmente ainda entre nós, já tem o seu nome gravado, a letras de ouro, na galeria dos nossos heróis. Dos nossos heróis populares...
Q.P.

34 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Grande Pantera Negra...ao lado de um grande "Romancista"!!!
    Do Eusébio...tenho uma mensagem no LP do MNF - Natal 70....com ...."um abraço...de Eusébio"!!!

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  3. Penso que foi na postagem da Mariazinha Leão que tive a oportunidade de dizer da minha grande admiração por este Senhor chamado Eusébio.
    Venha quem vier, ficará na história como o melhor futebolista português e um dos melhores do mundo.
    Acresce a isso a sua humildade, ainda patente nos dias de hoje. O que é coisa rara!

    Também a humildade do Quito é coisa rara.
    Recordo-me que dizia, há dias, que tinha escrito algo sobre o Eusébio mas que era apenas "um borrão" (penso que foi assim que o classificou) e que aguardava melhor oportunidade para o publicar...
    Meu querido amigo, não guardes os teus "borrões". Manda-os até nós porque todos apreciamos "borrões" desta qualidade, na forma e no conteúdo...
    Aquele abraço.

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  4. Quito
    Todos os dias me encantas com os teus posts.
    Como sabes estive em L.Marques 19 meses e fiz do Hotel Polana mas concretamente da piscina a minha 2. habitação,pelo CICA estava muito pouco,daí ter ficado muito contente ao ver-te ao lado do Pantera Negra num local que me diz muito

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  5. A descrição da aterragem do avião numa pista acanhada,o bafo quente sentido depois de abertas as portas, a via sacra para acesso à gare e para recolher as bagagens, fez me estar de novo em África, mesmo não conhecendo Moçambique...

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  6. O Eusébio... que, ainda hoje, não pode entrar em nenhum urinol público...

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  7. Dois homens bem acompanhados um por outro...um
    Pantera negro, outro Pantera branco cada um no
    seu "galho"...o 1º com pé leve e certeiro na
    bola e o 2º mão ligeira e certeira na escrita
    humanista e atitude solidária!
    Uma daquelas fotos que nos "incham"quando nos encontramos lado a lado com uma figura "idolatrada" na nossa crancice e juventude.
    Oh São,porque é que o Eusébio não pode entrar
    num urinol público?....está-me a escapar esta!!!

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  8. Sempre ouvi dizer isso.
    E com explicação, que tem toda a lógica: imagina tu que eras tão famosa (OK, és mais) como o Eusébio... e que entravas num urinol público cheio de homens a aliviar a bexiga, virados para a parede. O que é que aconteceria? Está-se mesmo a ver. A malta que estivesse a "mostrar a porcelana ao pequenino" (como dizem os ingleses) iria virar-se toda e gritar de espanto:
    - OLHA A OLINDA!
    Estás a ver o resultado?
    Pois...

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  9. Eu, pelo menos, aprendo muito com ela :O)

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  10. Agradeço os comentários do que por aqui vão dizendo desta pequena crónica. De facto, é apenas a amizade que vos impele a postar. Porque o texto, esse, concordo que talvez seja, realmente, de urinol. O tal "borrão", com que não pretendi estragar um texto do Rui Felício. Quem dá a cara, escrevendo para muita gente, a maioria anónima, sabe que se sujeita ao veredito de quem lê. Uns gostam e outros não. No caso em apreço, apenas me juntei às vozes que homenagearam o Eusébio. E para dar força a esse desiderato, nada como ter uma fotografia com um Homem muito apreciado, tanto pelos seus feitos desportivos, como pelas qualidades humanas. A ti, caro Carlos Freire, dizer-te que África, marca quem por lá andou. Mesmo no meu caso , que passei na Guiné 26 meses sofridos, não só pela guerra como por constantes problemas de saúde. Mas não há pôr - do Sol como o africano. Nem cheiro que se assemelhe ao da terra molhada.
    Nem cânticos como os das mulheres negras moendo a fuba no pilão. Nem àrvores de grande porte, como embomdeiro, de silhueta plasmada no horizonte. África, é um mistério. Do Polana, dizer-te, que terá sido, quiça, das melhores unidades hoteleira que conheço. E, neste particular, algo que atraíu a atenção: o profissionalismo dos funcionários e que os distingue dos outros: a amabilidade genuína, sem ser "fabricada".Quando percebemos que em muitos hoteis, sorrir, é apenas uma "imposição" das regras de cativar o viajante. No Polana, em 2005, não era assim. Eram puros, genuínos e competentes. Ainda um dia gostava de lá voltar ..
    Abraço a todos ...

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  11. Quito, de urinol foi o meu àparte e peço-te desculpa por fazer parecer que não li o teu texto ou, mais grave ainda, que não tenha gostado.
    O teu texto, como todos os que escreves, têm alma.
    Eu é que sou uma danadita para a brincadeira de mamilo à mostra. O que, com este frio, também é de louvar, modéstia à parte.

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  12. Meu caro Paulo Moura
    Ao longo de cerca de 3 anos, e de mais de 23O textos escritos repartidos por 2 blogues, considero o meu saldo muito positivo. Em relação aos textos? Não. Em relação aos amigos. Aos que reencontrei, depois de lhes ter perdido o rasto.E dos que são novas amizades. É o teu caso e da tua familia. Também o nosso forcado de Colmar, que enfrenta os touros com a mesma valentia com que persigo de mata-moscas na mão, um animal alado na cozinha. Conheço-te já o feitio bincalhão. E mesmo que falasses a sério, eu só teria que te agradecer. Dizes que gostaste. Ainda bem. Mas se tivesses dito: "...Quito, que grande merda que tu escreveste, preferia beber um batido de atum, a ler este suco de pepino !!!", continuávamos amigos na mesma. Tu, meu caro Paulo, apanhaste a carruagem a meio, porque "sequei-me" a dizer o que agora te digo; não tenho pretenções a nada. Apenas tento alinhar as palavras para que façam algum sentido. Uma espécie de palavras-cruzadas. Um exercício mental. Não me peças desculpa de nada. Eu não sou nada nem ninguém. Sou Conimbricense de coração e Beirão das montanhas por adopção. Por lá tenho gente que muito prezo. E, nessa lista de amigos que prezo, tu também lá apareces e em destaque. Porque estás cá, mas também estás lá. Caria é a terra que não renegas, e percebo o teu agrado, quando vou respigar ao J.F.- o melhor jornal do mundo - qualquer artigo. Nem que seja a falar de um comboio que, pachorrentamente, vai percorrendo os carris da solidão...pouca-terra-pouca-terra-pouca-terra-pouca-terra...
    Abraço

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  13. Essa do suco de pepino ainda não nos deste a provar, Quito! Mas também tenho receio que me possa fazer mal e começar a confundir um dos "siameses" da foto(o "Gerente de Hotel do Polana"?) com o Eusébio e depois não saberia como descalçar essa bota...

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  14. Obrigado Quito por mais este texto.
    Tonito.

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  15. Quito, toma lá um abraço, carais!
    (adoro a palavra "carais", tão típica dos finais de frase da malta de trás da Serra)

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  16. Carlos Carvalho
    O suco de pepino, é para as próximas Janeiras. Fica prometido ...
    Abraço

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  17. Carlos Carvalho, tu dizes o que não deves e depois sobra sempre para os franzinitos, carais!

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  18. Quito

    Muito gostei que tenhas estado com o Eusébio no Polana e da forma como trazes esses momentos até nós. Muito gostaria de lá ter estado também. Só que em 2005 já não fazia viagens. O que dizes do Eusébio, vem confirmar tudo o que tenho lido e ouvido sobre ele. Para mim, foi o maior jogador que vi jogar na minha vida.
    O pessoal africano, é assim mesmo. A grande maioria são de uma simplicidade e humildade extraordinária.
    Quanto à pista podes lá voltar. Está descansado que tem as medidas mas pelo que vejo, o "jardineiro" descuidou-se e não cortou o capim, o que dá outro aspecto visual.
    Um abraço.

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  19. Não te enerves, Paulo ...
    O meu batido de atum, costumo adoçá-lo com 1 quilo de açucar amarelo...

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  20. Quando disse batido de atum, enganei-me !!
    Queria dizer suco de pepino. A minha nova iguaria ...

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  21. Por favor, Quito, não me digas que fazes isso também ao suco do teu pepino, carais!

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  22. Não cheguei a tempo, carais!

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  23. O Quito é personagem dos media!Grande homem, o Eusébio, uma marca da nossa juventude, mesmo para quem não aprecia futebol.

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  24. Justa e singela homenagem ao Eusébio senhor que muitas alegrias deu a este povo sinzentão.
    O Eusébio deixou uma marca indelével no futebol nacional e mundial e tu, Quito, deixas sempre uma marca na forma como escreves mesmo aquilo que consideras borrão.
    Abilio

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  25. Dois grandes jogadores lado a lado.
    Um, perfumou o futebol por todo o mundo.
    Para mim, o melhor jogador de todos os tempos do futebol português.
    Nunca esquecerei na vida, um golo que marcou ao grande Maló quase da marca de canto.

    O outro, o nosso Quito, fez parte de uma das mais brilhantes equipas do nosso bairro:
    O famoso 29 de Setembro. Fala quem sabe.

    Um abraço

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  26. E quem fala assim, não é gago.
    É pena que fale tão pouco!
    Um abraço.

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  27. Que bonita idade!
    Parabéns, Dona Fernanda.
    Olga e Carlos Viana.

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  28. Carlos Viana

    UM ALERTA

    O teu último comentário está no artigo errado.

    Já não sou só eu.

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  29. Este texto transportou-me para uma terra de gente simples e boa ...

    Se calhar um dos poucos sítios no mundo onde dois tugas maltrapilhos (eu e a minha Excelentíssima esposa) se podem perder no meio do mato sem roupa e sem dinheiro e mesmo assim arranjar um tecto onde pernoitar. :)

    Histórias do arco da velha.

    Grande texto paizão !!

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  30. Chico Torreira,
    Obrigado pelo alerta.
    Já não há nada a fazer. Burrice é burrice e não há desculpas que a pague.
    Mas, tentando a indulgência e não a desculpa, sempre quero dizer-vos que terá sido a presença do Tó, aqui e agora, que me desestabilizou a engrenagem...
    Chiça, fiquei nervoso!

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  31. Ferrão
    Naquela tarde de Domingo, o Estádio Municipal de Coimbra estava à cunha. Predominava nas bancadas o vermelho. Então, com o resultado em branco, o Eusébio pegou na bola no meio-campo do Benfica.
    Fêz um compasso de espera, levantou a cabeça e, em corrida lenta de passo curto, passou o meio-campo. De repente, cerca de 1 metro depois do circulo - central, disparou um pontapé seco,de pé esquerdo, rasteiro e fulminante. Brassard ficou colado ao chão. A bola bateu na malha. O peão levantou-se num bruaaaa de admiração e veneração ao rei. Na nossa bancada era o silêncio. Nos meus tenros anos de paixões inflamadas, vim para casa com as lágrimas nos olhos. "maldito Eusébio" - dizia para com os meus botões. Depois, tantos anos depois, estava longe de pensar que um dia daria um abraço ao Eusébio na terra dele e num blogue de amigos com a minha limitada escrita, dava testemunho das qualidades desportivas e humanas deste Homem. Gostei da tua referência ao 29 de Setembro. Desta amizade sólida de "jornalistas" que iam levando o Expresso à falência.
    Gonçalo
    Numa determinada época da tua vida, por lá andaste, dando o melhor de ti como professor.Fizeste amizades e queriam à viva força que ficasses lá. Eras, talvez, o branco mais negro de África. Com eles andaste, e com eles ias ao futebol. Levaste camisolas negras da nossa Académica, que eles envergam passeando-se pelos corredores da universidade. E é essa a postura que eu sempre te pretendi incutir. Solidariedade para com os mais desfavorecidos.E sentido de justiça.O dinheiro é importante para se viver.Mas é a nossa riqueza interior que nos distingue.
    Um beijo para ti e um abraço ao Ferrão e a todos aqueles que se deram ao trabalho de comentar ...

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