domingo, 13 de fevereiro de 2011

A SESTA


Nas tardes quentes de Verão, em Coimbra, a mãe gostava de dormir uma sesta... porque fazia bem, porque não se devia sair de casa àquela hora de canícula. Tudo razões suficientes para que eu tivesse de fazer o mesmo!

Subia as escadas que levavam ao quarto, qual condenada subindo a Tower Bridge! Na penumbra, coada pelas ripas de madeira das janelas, abafava-se. Deitada, com a mão protectora da mãe por cima, esperava ansiosamente pelo ressonar maternal, sinal de que podia sair de tal cativeiro, sem ser descoberta. Ao fim de um interminável e suado quarto de hora, a mãe roncava de forma suficientemente sonora, de forma a me sentir segura para a fuga! Como custavam descer as escadas de madeira, que me denunciavam, rangendo debaixo dos meus pés. Na cozinha só faltava a difícil tarefa de abrir a porta... finalmente o virar da esquina da casa em direcção à rua... até se me arrepiavam as costas! Ah, que alívio... finalmente respirava fundo, entrando-me o ar quente daquele Verão impiedoso, não me deixando brincar a todo o vapor! Como toda a criança que leva a brincadeira a sério, não desistia e, procurando as sombras que se espreguiçavam na minha rua (do posto da polícia), seguia no rasto de algum amigo que também não tivesse cedido à sesta maternal!


Obrigada Mãe, dorme bem.

11 comentários:

  1. Belo texto, Mariazinha. Temos sempre as nossas recordações de infância. A rua da polícia, tinha para muitos de nós, rapazes, uma carga negativa.
    Por duas vezes lá fui, ao posto, com as botas esfoladas nos "beiços" de tanto pontapé na bola ...

    ResponderEliminar
  2. Gostei de lembrar traquinices de miúdos. Umas vezes jogava-se ao ringue, outras ia-se para o Cavalo Selvagem. Os mais socegadinhos ficavam debaixo debaixo de uma oliveira, os outros jogavam à bola. E aqueles que deixavam uma pedrinha debaixa de uma das janelas do rés-do-chão, para no caso de lhes terem fechado as portas tentarem sempre uma alternativa. Eramos giros.

    ResponderEliminar
  3. Uma faceta da tua infãncia aqui contada num texto bem elaborado!
    Uma recordação da Rua da Polícia!
    Mas tinhamos Policia no nosso Bairro...coisa que hoje não há!
    Lembro-me dos primos Simões que para além de fazerem o seu serviço de policias eram nossos amigos...
    Claro que tinham que pôr na ordem "reguilas" como o Quito!

    ResponderEliminar
  4. Mariazinha,o teu desabafo da criança que existe
    em ti...recordando um episódio bem característico na tua e na nossa infânci!
    Gosto muito de te ler...continua

    ResponderEliminar
  5. Beijinhos Mariazinha
    Ainda tens saudades da nossa rua?"a rua da polícia", a rua G,a rua Gil Eanes.
    Como nos sentiamos protegidos pela polícia, eram nossos vizinhos, nossos amigos.Lembro-me bem deles todos....foram muitos anos a conviver com eles ali porta a porta.Também nos ajudaram a crescer.
    Tirando o polícia Oliveira que morava na rua H.....mas essa é uma história que um dia hei-de contar aqui....c-b-â-......
    Quando vinha o Natal a minha mãe levava-lhes de tudo que tinhamos em casa, para os que passavam a noite e o dia de Natal no posto em trabalho.É melhor parar senão nunca mais saio daqui.
    Um grande beijo para a tua mãe, Mariazinha.

    ResponderEliminar
  6. Gostei muito do texto. Bonita descrição!
    Parabéns

    ResponderEliminar
  7. Mariazinha, o teu texto emocionou-me!
    Identifiquei-me com ele, como filha e como mãe.
    Volta sempre.

    ResponderEliminar
  8. Ai se eu adivinhasse...
    Estaria à tua espera na rua da polícia, para irmos brincar para a praça dos baloiços.
    Sim, porque também eu fugia com todas as cautelas que descreves da mania da minha mãe de me pôr a dormir a sesta...

    ResponderEliminar
  9. Ao ler o texto que relatas, revi-me a mim também.
    Todas as tardes, era o mesmo choradinho, eu e o meu irmão, mas lá íamos à frente da mãe, sem dó nem piedade, e claro que faziamos o mesmo, deixavamos a progenitora adormecer, o que era mais fácil porque cada um ficava no seu quarto,e depois a cena das escadas era um autentico tormento, até já sabíamos quais os degraus que rangiam mais, mas como naquela altura a ginástica era muita, chegavamos a abrir completamente as pernas, para caminharmos nos topos dos ditos. Algumas vezes fomos apanhados, mas muitas mais, fomos em busca da brincadeira e da liberdade, quais pardais fora do ninho.
    Soube bem recordar Mariazinha, porque os tempos da meninice têm um paladar sempre doce. Obrigada e um beijo para ti.

    ResponderEliminar
  10. O comentário anterior é da Olga e não do Carlos !
    Quando me viu aqui, ele avisou-me "olha que estás na minha página"... esqueci !

    ResponderEliminar