Partilhei com o Castanheira uma amizade sincera. Na faculdade e mais tarde na tropa, em Mafra. Era uma figura estranhamente sedutora que corria o périplo das cores do arco-iris, desde a mais esbatida à mais berrante, aproveitando de cada uma delas o sortilégio da fantasia e do sonho.
Antes da aula começar, empoleirava-se no estrado e caricaturava na perfeição os gestos e os tiques dos professores. Do Mota Pinto, do Lobo Xavier, do Carlos Moreira, do Rogério Soares, do Sebastião Cruz. Até do Afonso Queiró!
Antes da aula começar, empoleirava-se no estrado e caricaturava na perfeição os gestos e os tiques dos professores. Do Mota Pinto, do Lobo Xavier, do Carlos Moreira, do Rogério Soares, do Sebastião Cruz. Até do Afonso Queiró!
Sabia de cor e salteado todas as peças de Gil Vicente. Declamava a Eneida em latim, convidando-nos a debater a sua superioridade em relação à Odisseia e à Ilíada.
Foi actor no Ateneu de Coimbra, mas recusaram-lhe a entrada no TEUC.
Levou uma tareia quando foi assistir, de capa e batina, a um jogo da Académica, empunhando uma bandeira do Sporting. Não porque fosse indefectível do futebol, mas porque era um paladino da liberdade, advogando o direito de ser simultaneamente estudante e sportinguista.
Foi actor no Ateneu de Coimbra, mas recusaram-lhe a entrada no TEUC.
Levou uma tareia quando foi assistir, de capa e batina, a um jogo da Académica, empunhando uma bandeira do Sporting. Não porque fosse indefectível do futebol, mas porque era um paladino da liberdade, advogando o direito de ser simultaneamente estudante e sportinguista.
Na catequese tinham-lhe ensinado a rezar. Era avesso à hierarquia eclesiástica, mas orar não tinha mal, dizia ele...
A inveja da sua imaginação delirante, da sua popularidade e da sua cultura levava muitos colegas pseudo intelectuais oriundos de famílias com bolorentos pergaminhos, a catalogá-lo de pária. Que não era!
A inveja da sua imaginação delirante, da sua popularidade e da sua cultura levava muitos colegas pseudo intelectuais oriundos de famílias com bolorentos pergaminhos, a catalogá-lo de pária. Que não era!
Nado e criado pobre, o Castanheira era humilde mas não subserviente.
Amava a doçura da vida numa alegre manhã de sol.
Quando os tostões lho permitiam, de guardanapo ao pescoço, babava-se de antecipado prazer em frente a um corriqueiro e fumegante bife com molho grosso e batatas fritas, na tasca da Tia Rosa na Portela, ensinando Direito aos camponeses que por ali paravam para se amesendarem, comerem uma bucha e beberem uma litrada de tinto ao fim do dia.
Amava a doçura da vida numa alegre manhã de sol.
Quando os tostões lho permitiam, de guardanapo ao pescoço, babava-se de antecipado prazer em frente a um corriqueiro e fumegante bife com molho grosso e batatas fritas, na tasca da Tia Rosa na Portela, ensinando Direito aos camponeses que por ali paravam para se amesendarem, comerem uma bucha e beberem uma litrada de tinto ao fim do dia.
A infelicidade não o consumia porque a sua alma pairava em vaporosas nuvens atrás das quais havia de vir um dia o esplendor e a glória que ambicionava. Não que os quisesse para suplantar o seu semelhante, mas para ter o poder de influenciar o mundo e quebrar-lhe as injustiças.
Como tantos portugueses, para apressar a vinda do sonhado eldorado, o Castanheira rezava à Nossa Senhora de Fátima e comprava vigésimos de lotaria...
Ou uma coisa ou a outra havia de resultar!
Rui Felício
Ou uma coisa ou a outra havia de resultar!
Um bom retrato à maneira do Rui. Apetece-nos conhecer o Castanheira.
ResponderEliminarBem hajas, Rui Felício, por me teres apresentado o Castanheira.
ResponderEliminarAmigo Rui pato,
ResponderEliminarQuem o conheceu bem foi o teu colega Morais. E a Ju também sabe de quem se trata.
Desculpa o "pato" com letra minúscula. É um lapso, obviamente...
ResponderEliminarDe facto, uma figura com um carisma muito próprio, que apetecia conhecer. Mérito, naturalmente, ao Rui Felício, que lhe soube dar vida, por forma a se estabelecer uma "cumplicidade" entre o leitor e o personagem ...
ResponderEliminarPode ser que não me lembre mas no fundo penso que não o conheci. Com esta descrição fiquei a conhecê-lo, se bem que uma pessoa destas até teria dado gosto de ter conhecido pessoalmente.
ResponderEliminarTenho pena de não ter conhecido o Castanheira!
ResponderEliminarObrigado Rui, por mo apresentares mesmo sendo desta forma!
Personalidades que saem da "norma", mas fascinantes!
ResponderEliminarEste Castanheira pela mão criativa do Felício foi nos apresentado.
ResponderEliminarQuase diria que encarna a costela do bom português, alegre com espirito de desenrasca e que encara a saída para um mundo melhor através da proteção divina ou do acaso do jogo.
Gostei deste Castanheira que poderia bem ter andado pelo nosso bairro...
Fiquei a conhecer o Castanheira e fico com pena de não o ter conhecido realmente.
ResponderEliminarQue saudável maluco!
Como "amigo de meu amigo meu amigo é", também fiquei amigo dele.
Mas que personagem mais interessante!
ResponderEliminarNessa altura quando foi ver a Académica teve azar com a bandeira do Sporting...agora quando é do Benfica, Sporting ou Porto são ás dezenas com cascóis desses clubes e...de capa, na bancada dos sócios!
Rui preciso de um advogado para processar o GOOGLE, pois não meixa postar fotos!!
Dizem que já não me dão mais borlas, agora tenho que pagar em dólares!!!
Quem me arranja uma soluição para sair desta situação!
Só a mim, que não fiz mal a ninguém!!!!
Rui Felício
ResponderEliminarDava me um gozo sublime conhecer este (esse) Castanheira.
De certeza que ia gostar de conhecer as "peregrinações" da minha Tia Engrácia a Fátima.
Boa malha!
Garanto-te, amigo Tó Ferrão, que ele não desdenharia dessas peregrinações.
ResponderEliminarNa tropa em Mafra, enquanto todos nós quase vomitavamos as visceras nos crosses matinais de 16 Kms que nos obrigavam a fazer, ele percorria-os com um sorriso nos lábios enquanto ia escrevendo versos numa folha de papel!
Dizia ele que a guerra seria menos dolorosa e mortifera se os combatentes alinhassem em jogos florais. Não lhes sobraria tempo para puxarem o gatilho.
O Castanheira era um filósofo!
Castanheira, o teu amigo que de sonhador e sedutor a imitador de tiques,actor,de provocador como estudante sportinguista a apanhador de "porrada" até fã da Nossa Senhora
ResponderEliminare de jogador de lotaria na esperança de mudar o
mundo...só poderia ser alguém muito especial!
Não sei porquê mas faz-me lembrar o nosso amigo,
sobrinho da tia Engrácia...os dois juntos deveriam ser o máximo!
Onde anda o Castanheira? Trá-lo...
Não tenho a certeza, mas penso que já não está entre nós. O Morais ( Toneca ) é que sabe isso melhor do que eu.
ResponderEliminarMas tens razão. Ele e o sobrinho da Tia Engrácia, embora de estilos não inteiramente coincidentes, formariam uma dupla que revolveria o mundo.
O Castanheira até se converteria ao academismo irrepreensivel do Tó Ferrão.
Bem, se o Castanheira me aparecesse no velho municipal do calhabé de capa e batina e de bandeira do sporting às costas para ver a Briosa, quem lhe dava uma malha era eu.
ResponderEliminarQuanto ao resto, não sei se o Castanheira teria pedalada para me acompanhar na procissão das velas a cantar a plenos pulmões : " aqui vimos, mãe querida, consagrar te o nosso amor ".
Que saudades. A volta à pista da basílica levava cerca de 1h e meia com paragem obrigatória em frente à azinheira onde dizem, os pastorinhos se acolhiam do sol e diz quem sabe, também aliviavam
a bexiga.
Essa música era completamente anti-tripeira!
ResponderEliminar"Esmagaste, ó Virgem Santa,
Toda bela e Imaculada,
A cabeça envenenada,
Do dragão enganador."
É com bastante tristeza que confirmo que o Jorge Castanheira ja nos deixou,ja la vão uns anitos.
ResponderEliminarJulia faustino